terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Ministra diz que evangélicos querem acabar com religiões africanas

A ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Luiza Bairros, disse hoje (21) que os ataques às religiões de matriz africana chegaram a um nível insuportável. “O pior não é apenas o grande número, mas a gravidade dos casos que têm acontecido. São agressões físicas, ameaças de depredação de casas e comunidades. Nós consideramos que isso chegou em um ponto insuportável e que não se trata apenas de uma disputa religiosa, mas, evidentemente, uma disputa por valores civilizatórios”, disse ao chegar ao ato lembrando o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa no Vale do Anhangabaú, centro de São Paulo.

O número denúncias de intolerância religiosa recebidas pelo Disque 100 da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência cresceu mais de sete vezes em 2012, quando comparada com a estatística de 2011, saindo de 15 para 109 casos registrados.

Para a ministra, os ataques são motivados principalmente por alguns grupos evangélicos. “Alguns setores, especialmente evangélicos pentecostais, gostariam que essas manifestações africanas desaparecessem totalmente da sociedade brasileira, o que certamente não ocorrerá”, disse Luíza, que acrescentou que esta semana deverá ser anunciado um plano de apoio às comunidades de matriz africana. “Nós queremos fazer com que essas comunidades também sejam beneficiadas pelas políticas públicas”, completou.

No ato promovido pela prefeitura paulistana foi lançada a Secretaria Municipal de Promoção da Igualdade Racial. Segundo o prefeito, Fernando Haddad, a celebração é uma forma de fazer com que as pessoas que ainda têm preconceito contra as religiões afrobrasileiras reflitam sobre a importância da tolerância. “Eu penso que a expressiva maioria dos moradores de São Paulo abraça essa causa de convivência pacífica, tranquila, com respeito e a tolerância devida ao semelhante. Agora, existe uma pequena minoria para qual o recado aqui é dado: que há uma grande maioria que quer viver tranquilamente”, disse.

O recado da tolerância também está sendo promovido pelo grupo multirreligioso Paulistanos pela Paz, que há 8 anos atua para conscientizar principalmente a juventude. “Nós estamos coordenando visitas a escolas, faculdades para dar palestras, seminários, para trazer esse questionamento à tona. Porque a intolerância brota da incapacidade de conviver com o diferente”, disse o Reverendo Mahesh, coordenador do grupo e representante do Hinduísmo Hare Krishna.

Membro do Centro Cultural Ilê-Ifa, o maestro Roberto Casemiro, também defendeu a atuação com a juventude como forma de combater o preconceito. Na opinião de Casemiro, para muitos jovens, em especial os envolvidos em grupos que promovem o ódio, como os skinheads, falta conhecimento e falta cultura. “E quem não tem nem conhecimento, nem cultura, não tem respeito”.

Evangélico de confissão luterana, o pastor Carlos Mussukopf, acredita que a melhor maneira de evitar o preconceito é unindo as diferentes religiões entorno de objetivos e ideias comuns. “Devemos procurar o que nos une, o que nos unifique, o que nós temos em comum. E que a gente também saia da teoria, dos encontros de diálogo e passe para a prática. Existem tantos desafios na sociedade que nós vivemos que exigem uma ação unificada também das religiões. Vamos ver questão da população de rua, da natureza”, disse.

Do portal geledes.org.br 
Fonte: Agência Brasil

4 comentários:

Geraldo disse...

Nossas mulheres e homens de governo devem se lembrar que representam o Estado antes de fazer público as suas ideias pessoais.
Defender A ou B significa manter uma posição preconceituosa e que tem,constantemente, reforçado o racismo, o separatismo, a discriminação de classe e cor.
Homens e mulheres de Estado representam o POVO, falam pelo POVO que na realidade querem ver nossas raizes preservadas. Nossa cultura é negra, é branca, é indígena, é miscigenada mesmo. Querer ser raça pura no Brasil é racismo. O discurso do Estado para defesa das minorias tem acentuado a discriminação e está gerando uma DISCRIMINAÇÃO FEITA DO PRÓPRIO NEGRO contra ele mesmo. É preciso assumir a identidade de MAIORIA, somos maior em número e capacidade. Elegemos quantos quisermos se reconhecermos que somos maioria. Se nos mostrarmos incapazes, que necessitamos da proteção do Estado, de proteção especial ou esmola seremos esmagados pela minoria que usurpa o poder com o nosso voto.
Parece ser bom tais garantias, mas isso tem efeito negativo a médio e longo prazo e só saberão disso quando ficarem como os indios que não conseguem fazer nada sem a tutela do Estado. São como pessoas incapazes de conduzir seus destinos e explorados por todos os lados.
Pense nisso, povo meu. Sou descendente de NEGRO, DE INDIO, DE BRANDO, SOU BRASILEIRO, feliz e quero que me respeitem e faço me respeitar, sem que o Estado tome tutela de minha vida...
Penso nisso.....

Geraldo S Santos
Prof de Pós Graduação em Brasilia
Mestre em Educação pela UNB

Izabel disse...

Como estudante, coloco aqui um presente da história gaúcha. Foi a primeira experiência política, do Presidente Getúlio Vargas, indicar um negro como deputado para Assembleia Legislativa, Carlos Santos, em 1936. A história se encontra novamente (presente e passado) com a Ministra Luiza Bairro, gaúcha, e com o deputado citado acima.

"Encontro de Ribeirão Preto, SP"



de 23 a 25 de novembro de 1979

"O negro sob a visão política do estadista da República dos Palmares no Brasil de hoje."

Estamos às vésperas de um novo Recenseamento no Brasil e a manifesta intenção da Fundação do IBGE em não caracterizar a cor dos brasileiros provocou - como era de esperar - por parte dos sociólogos patrícios, um veemente protesto como mais uma forma dis­farçada de racismo e escravagismo.
É de se indagar: por que essa ocultação da cor? Será pelo fato de sermos hoje uma Nação mestiça? Não são poucos os sociólogos que afirmam que mais de setenta por cento dos brasileiros é constituí­do por mestiços. Assim sendo, contrariamente ao que se afirmava há algumas décadas acerca do "branqueamento" do povo brasileiro, observa-se, atualmente, um "morenamento" do povo, o que vale dizer, um "escurecimento", ou seja, uma predominância dos caracteres "afri­canos na nossa gente".
Se há essa prevalência nas características do homem e da mu­lher brasileiros, não se nota, contudo, a valorização cultural de nos­sas raízes africanas. O que se verifica ainda no Brasil é um acen­tuado modo de ser alienígena, com fortes traços do elemento colo­nizador europeu e hoje, pelos diversos meios de comunicação e di­fusão artístico-cultural, dos hábitos e costumes americanos, fortemen­te descaracterizadores da identidade nacional.
Assim, se antes não conseguimos formar um pensamento repre­sentativo dos valores étnicos do negro, hoje, estamos muito mais amea­çados de não chegarmos a constituir os nossos pr6prios valores na sociedade brasileira, em face da avassaladora descaracterização da cultura nacional, onde a cultura brasileira, como um todo, vê-se ameaçada.
Diante dessa ameaça, o negro, o mestiço, o branco, enfim todos os que compõem o povo brasileiro poderão frustrar-se em não reali­zar o audacioso e ambicioso projeto de viabilizar a primeira ci­vilização tropical, onde o elemento negro, por suas próprias carac­terísticas étnicas, é o forjador desta civilização nos Trópicos.
Ao nos reunirmos nesta pujante e progressista cidade de Ribei­rão Preto, para estudar e debater os problemas do negro, inspira­mo-nos, como não poderia deixar de ser, na figura daquele que foi o exemplo máximo da LIBERTAÇÃO NACIONAL contra o elemen­to. colonizador e que por todos os títulos e o seu incontestável papel na História do Brasil foi o iniciador do nosso processo de indepen­dência e da participação do negro na vida política: Zumbi, o criador da República de Palmares.
Malgrado o dignificante exemplo de Zumbi, depois de Palmares, observamos tristemente que há um vazio na participação política do negro, a despeito de um ou outro elemento, isoladamente, que galgou posição de realce no cenário nacional, não como força representati­va da nossa etnia, mas, puramente, por méritos pessoais, tendo que transpor, é de se reconhecer, terríveis barreiras para fazer valer suas individualidades.

Izabel disse...

Continuação...

Razão pela qual, é preciso que se reafirme em um momento co­mo este que precisamos nos unir, defender nossos valores culturais, ressaltar o legado de nossa herança cultural, enfim, participar ativa­mente do processo sócio-político-cultural brasileiro, sob pena de ser­mos considerados omissos pelos nossos pósteros, ou pior ainda, de termos nos acovardado em fazer valer nossos valores étnicos.
Os historiadores brasileiros, em sua esmagadora maioria cons­tituída de brancos, sempre viu o elemento negro como extremamen­te .paciente, gentil, cordial, como um ser bondoso que está sempre esperando ~ nunca se definiu e nunca foi dito o que está a esperar - como um ser pronto a servir, no sentido de ser utilizado pelas classes dominantes, mas, infelizmente, nunca foi visto como um ele­mento cuja participação na força de trabalho foi e é decisiva para o engrandecimento da Nação brasileira. Somente o próprio negro pode acabar com essa imagem que antes de o engrandecer o diminui no contexto étnico brasileiro, transformando-se através da sua parti­cipação política nos destinos do Brasil.
É preciso um basta. Chega de esperar. Estamos esperando o quê? Que outros nos obriguem a participar politicamente? Acaso pre­cisaremos de lições? Não foi suficiente o exemplo viril de Zumbi?
Por acaso Zumbi está morto? Não. Não acreditamos. O ideal de Zumbi permanece vivo, é eterno, jamais morrerá. Zumbi não mor­reu. Só morrerá se os negros o matarem. Mas isto jamais acontecerá. Por esta razão estamos reunidos aqui e agora para reafirmar o seu ideal de luta, de independência, de liberdade, de amor à VIDA e de vivificá-Ia.
Como ponto básico de nossos estudos, peço seja transcrito nos Anais deste Encontro a "Carta de Uberaba", idealizada sob a inspi­ração do estadista Zumbi, e que deve ser o traço de união, o ideário de' todo o negro brasileiro.

Izabel disse...

Abaixo o link da carta do Deputado Carlos Santos de 1980.

http://onegronobrasil1980.blogspot.com.br/2007/06/carta-do-deputado-carlos-santos.html

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