sexta-feira, 16 de agosto de 2013

No Egito, Dia da Ira é marcado por protestos e a morte de dezenas de pessoas

Partidários do presidente deposto Mohamed Mursi protestam perto da mesquita Ennour, no Cairo LOUAFI LARBI / REUTERS

CAIRO - O Dia de Ira convocado pela Irmandade Muçulmana em protesto contra a morte de 638 pessoas na remoção de dois acampamentos de manifestantes começou com tiros, bombas de gás lacrimogêneo e a morte de pelo menos 68 pessoas. Milhares de partidários do presidente deposto Mohamed Mursi marcham numa Cairo repleta de tanques, sobrevoada por helicópteros, num clima de alta tensão. As forças de segurança egípcias reforçaram a proteção de “instalações vitais” e vários pontos da capital, incluindo todos os acessos à emblemática Praça Tahrir e pontes sobre o rio Nilo. A maior parte das mortes se concentra no Cairo, mas vítimas também foram registradas em Alexandria, Ismailiya, Damietta e Fayoum. No fim do dia, entrou em vigor o toque de recolher, enquanto manifestantes ainda estavam nas ruas.

Imagens transmitidas pela televisão mostram atiradores de elite disparando contra manisfestantes na capital egípcia. Tiros foram ouvidos da Praça Ramsés, onde estão concentrados seguidores e opositores de Mursi. A marcha começou após as orações de meio-dia e partiu de várias mesquitas em direção à praça.

Fontes de segurança falam em 68 mortos em todo o país - 50 no Cairo. Oito teriam sido mortos em Damietta. Em Alexandria, a segunda maior cidade do país, há registro de cinco mortes e ao menos 15 feridos, segundo as agências, além de outros cinco em Fayoum. Mais uma vez as mesquitas se transformam em hospitais improvisados e necrotérios. Um repórter do jornal britânico “The Guardian” contou 20 corpos somente em um templo perto da Ramsés - o que elevaria ainda mais o número de vítimas.

A Tahrir, cenário das manifestações que derrubaram o ditador Hosni Mubarak, foi bloqueada por tanques, mas correspondentes estrangeiros relataram o som de disparos de armas automáticas e o uso de gás lacrimogêneo em seu entorno. Manifestantes escreviam seus nomes nos braços para o caso de serem mortos.

Testemunhas contam que a manifestação no Cairo começou pacífica, até que uma delegacia foi apedrejada. Pessoas que apoiam os militares entraram em confronto com os manifestantes e a situação logo degenerou, com a polícia usando gás lacrimogêneo e armas automáticas. O governo, por sua vez, divulgou um vídeo de um homem, supostamente um manifestante, atirando. O Hotel Four Seasons chegou a ser atacado, com revoltosos ateando fogo em algumas partes.

Diferentes grupos nas ruas

A cena se repetiu em outros pontos do país. Em Ismailiya, no norte do país, quatro manifestantes teriam sido mortos pela polícia, e fontes médicas falam em mais oito na cidade de Damietta e cinco em Fayoum.

Na cidade de Tanta, no norte, as forças de segurança usaram gás lacrimogêneo e balas de borracha para evitar que os partidários do ex-presidente se aproximassem de um prédio do governo.

O grupo Tamarod, que convocou protestos de oposição ao ex-presidente islâmico e apoiou o novo governo interino, também pediu a seus seguidores que saíssem às ruas para se manifestar contra os islâmicos e mostrar respaldo às manobras militares.

Apesar das críticas dos principais aliados ocidentais e pedidos de moderação, o governo egípcio advertiu que as forças de segurança usarão munição letal contra ataques de manifestantes a instituições públicas e a policiais.

A remoção dos acampamentos de partidários de Mursi na quarta-feira levou à revolta da Irmandade Muçulmana. Após o massacre, o grupo disse que continuaria as manifestações até derrubar o golpe militar de 3 de julho que depôs o presidente islâmico. Embora tenha prometido uma luta pacífica, os próprios líderes da Irmandade admitiram que o derramamento de sangue de vários de seus membros havia deixado o grupo fora de controle.

Na quinta-feira, manifestantes incendiaram um prédio do governo em Gizé, cidade próxima ao Cairo onde estão os principais pontos turísticos do país, como a Esfinge e as Pirâmides. Passeatas islamistas também tomaram as ruas de Fayoum, Minya e Asiut.

Depois do pior derramamento de sangue em todo o país nas últimas décadas, o governo militar instalado declarou um mês de estado de emergência e impôs o toque de recolher do anoitecer ao amanhecer no Cairo e em outras dez províncias, restaurando os poderes do Exército de prisão e detenção por tempo indeterminado.

Europa analisa sua posição sobre o Egito

Na manhã desta sexta-feira, Alemanha, França e Reino Unido anunciaram que seus chefes de Estado manterão contato telefônico ao longo do dia para analisar sua posição sobre o Egito. A União Europeia anunciou uma reunião diplomática de alto nível na segunda-feira para tratar o tema.

O massacre também foi condenado pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que anunciou na quinta-feira o cancelamento de um grande exercício militar conjunto com o Egito.

Em resposta, o governo interino do Egito disse que as declarações do presidente americano não foram baseadas em fatos e fortalecem e incentivam os grupos violentos. Em comunicado divulgado na quinta-feira, a Presidência reiterou que o Egito está enfrentando “atos terroristas”, em referência aos recentes ataques contra igrejas e prédios do governo atribuídos a partidários do presidente deposto.


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