sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Strange Fruit - A história por detrás da música



A música Strange Fruit traz junto de si uma simbologia crassa para a sociedade dos Estados Unidos e, de certa forma, para toda uma história de racismo mundial.


Escrita no final de 1937 pelo professor de inglês, judeu e branco Abel Meeropol, a canção só tomou corpo na voz de Billie Holiday em meados de 1939.

Reza a lenda que a letra, que nada mais é do que uma belíssima e densa poesia, foi escrita por conta de um linchamento que ocorreu com dois jovens negros em Marion, Indiana, no norte dos EUA (tais atitudes eram comuns no sul do país. Ter uma situação dessa no norte, mostrava o quão intensificado estavam os grupos, entre eles e mais famoso o Ku Klux Klan, dentro da nação americana) que chocou o país inteiro e foi notícia por muito tempo, tendo divulgada a foto dos dois jovens mortos e pendurados em uma árvore.
Linchamento de dois jovens Negros em Marion
Meeropol era comunista, mas naquela época, por conta da guerra entre EUA e Rússia, comunistas, socialistas, esquerdistas eram perseguidos. O professor vivia sua militância na clandestinidade.

Abel Meeropol
Como dito anteriormente, em 1939 Abel conseguiu se encontrar com Billie Holiday apresentando a música a ela. À priori, a cantora não demostrou nenhum sentimento, e até indagou o que o escritor queria dizer com aquilo. Por final, Billie resolveu incorporar ao seu repertório Strange Fruit.

Veja, até então o jazz representava mais os sentimentos do que relações sociais. O Blues se encarregava desse viés. Entretanto, ao ouvir a música, sente-se que apenas a melancolia jazzística conseguiria trazer à tona a revolta estampada na letra. Os tons baixos da música (piano e o contra baixo) expõe um grande peso que se entrelaça com a poesia, ali cantada.

A primeira apresentação foi no bar Café Society no porão da Sheridan Square, no Greenwich Village, em NY. Lá jornalistas, esquerdistas, pessoas da alta sociedade e a grande maioria brancos frequentavam o local. Billie sobe no palco, todas as luzes são apagadas, menos uma que foca no rosto da cantora. A música começa, Billie a canta até o final sem que receber nenhuma reação da platéia. Nenhum aplauso. Ela sai de cena, até que uma pessoa começa a aplaudir loucamente e, como uma onda, os outros aplausos furiosos vem como se pedissem BIS. Billie não volta ao palco.

Tal música não trouxe felicidade à cantora. Nunca mais Strange Fruit parou de sair de sua voz. Preconceitos, injurias, até agressões foram cometidas a Billie Holiday. Segundo David Margolick, jornalista que lançou o livro “Strange fruit — Billie Holiday e a biografia de uma canção” há pouco menos de dois meses, relatou que Billie, em um dos shows, mostrou a bunda como menção de “Kiss my ass” (beije minha bunda, em livre tradução) a uma plateia de brancos indignadas pela canção. Era como se nem a sociedade branca nem a negra estivessem preparados para ouvir uma música com um teor social tão pesado. Sabia-se de toda a segregação racial, mas não se comentava.

Pensa-se que Billie Holiday se afundou mais ainda nas drogas e no álcool por causa do apelo que a música criou na sua vida. A cantora morreu com 44 anos, em 1959 de overdose de heroína.

Strange Fruit fala sobre a fruta estranha pendurada em arvores, fazendo alusão a morte dos negros.

Dezesseis anos após a composição da música, começou nos EUA as revoluções negras, como de Rosa Parks e Martin Luther King contra a segregação racial.

Strange fruit

Southern trees bear strange fruit,

Blood on the leaves and blood at the root,

Black bodies swinging in the southern breeze,

Strange fruit hanging from the poplar trees.


Pastoral scene of the gallant South,

The bulging eyes and the twisted mouth,

Scent of magnolias, sweet and fresh,

Then the sudden smell of burning flesh.


Here is fruit for the crows to pluck,

For the rain to gather, for the wind to suck,

For the sun to rot, for the trees to drop,

Here is a strange and bitter crop.


Fruta Estranha


Árvores do sul produzem uma fruta estranha,

Sangue nas folhas e sangue nas raízes,

Corpos negros balançando na brisa do sul,

Frutas estranhas penduradas nos álamos.

Cena pastoril do heróico sul,

Os olhos inchados e a boca torcida,

Perfume de magnólias, doce e fresco,

E de repente o cheiro de carne queimada.

Aqui está a fruta para os corvos puxarem,

Para a chuva colher, para o vento sugar,

Para o sol secar, para a árvore pingar,

Aqui está a estranha e amarga colheita




Fonte: recriacao.com.br

Nenhum comentário:

AS MAIS ACESSADAS

Da onde estão acessando a Maria Preta