quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Primeiro Terreiro de Candomblé de São Paulo será reaberto sábado, dia 13, na Vila Brasilândia

Terreiro de Candomblé de Santa Bárbara como Patrimônio Imaterial Brasileiro e do Estado de São Paulo

Por Onilu Pedro Neto Do: inzotumbansi

São Paulo/SP – O Terreiro de Candomblé de Santa Barbára, localizado na rua Ruiva, 90, bairro de Vila Brasilândia, periferia da zona norte da capital paulista, marco histórico das tradições afro em São Paulo, será reaberto neste sábado (13 de dezembro), após um longo período fechado para reforma desde a morte da sua fundadora, a saudosa Mam`etu Manaundê. Durante a cerimônia de reabertura, a nova sacerdotisa da Casa, filha adotiva de Mãe Manaundê, que tomou posse depois de cumpridas as cerimônias de morte. A festa será aberta ao público, em louvor a Bamburucema, Nkisi de Mãe Manaundê.

Para Taata Nkisi Katuvanjesi – Walmir Damasceno, que estará participando da atividade, acompanhando o Secretário Municipal de Promoção da Igualdade Racial da Prefeitura de São Paulo (SMPIR), Antonio Pinto, o Toninho, “terreiro é verdadeiro espaço de ressignificação da vida, de acolhimento e proteção”, definiu o dirigente tradicional do Nzo Tumbansi e coordenador nacional do ILABANTU.
História

No dia 14/10/2000 por conta da pesquisa de Iniciação Científica da PUC-SP intitulada “As Religiões da Diáspora Negra: Continuidades e Rupturas” orientada pela Profª Drª. Teresinha Bernardo com o financiamento do CEPE e CNPq (pesquisa recebeu prêmio de melhor trabalho na área de Ciência Humana – Antropologia no 10º Encontro de Iniciação Cientifica da PUC-SP em 2001) conheci pessoalmente Mãe Manaunde (Julita Lima da Silva). Naquela época com 84 anos de idade, ela preparava o almoço: arroz, feijão e fígado acebolado. Nunca vou esquecer aquela imagem, seus cabelos bem brancos amarrados e um vestido preto com muitas florezinhas brancas. O sorriso leve, forte, altivo, nada escancarado. Empatia fulminante.

A conversa foi longe, voltei tantas outras vezes. Muitas lembranças e vontades. Duas delas: O “tombamento” de sua comunidade e sua sucessão para Mãe Pulqueria (Maria Pulqueria Albuquerque Lins). Mãe Manaunde disse: “De Mona para Mona, a mulher começou, a mulher continua”.

Desde então buscamos atender pelo menos estas vontades de Mãe Manaunde. No final de 2004 recebemos o 1º Prêmio Palmares de Comunicação – MINC/ Fundação Cultural Palmares para produzirmos o documentário Iyalode – Damas da Sociedade com as histórias de vida de algumas das mais antigas sacerdotisas dos povos tradicionais de matriz africana de São Paulo. Faziam 5 anos que tentávamos recursos para realizar este projeto. O resultado da premiação foi divulgado exatamente uma semana depois do falecimento de Mãe Manaunde.


Mam’etu Manaundê

Teresinha Bernardo fala e nós dá, por meio da teoria da memória, a possibilidade de termos no registro audiovisual Mãe Manaunde por Mãe Pulquéria:

“se o espaço e o tempo são a essência da memória, a ideia de tempo reversível se origina da experiência universal humana de trazer os tempos passados de volta e permite, no seu ir e vir, que este estudo não se fixe no passado, teremos os eventos passados e, concomitantemente, a vida atual.”

A história de Mãe Manaunde circula o mundo. É matéria de Paula Chagas Autran Ribeiro no Caderno 2 do jornal “O Estado de São Paulo” em 01/08/2005. É exibido na TV Cultura, TV Brasil, TV Sesc e participa do principais festivais de documentário do Brasil até ser selecionado para o Festival du Film Panafrican de Cannes – França. O pré-lançamento ocorre na abertura da exposição “Dona Olga de Alaketu Iyalorixá da Bahia” no Museu Afro Brasil de Emanoel Araújo em outubro de 2005.

Em 1995 o jornalista e sacerdote Walmir Damasceno/Tata Katuvanjesi solicita ao CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo) através do processo 51.114/95, o estudo de tombamento do Terreiro Santa Bárbara, mas o processo foi arquivado em 2006.

Na Rua Ruiva, o racismo chega forte em 1997, quando da ameaça de destruírem o Terreiro para a construção do Rodoanel. Neste momento o arqueólogo do IPHAN (Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e Livre Docente em Arqueologia Brasileira/MAE/USP Rossano Lopes Bastos registra o Terreiro de Santa Barbara como Sitio Histórico Religioso pelo IPHAN através do processo no. 01506.001225/2004-97 e o incluí no Cadastro Nacional de Sítios Arqueológico. No processo deste registro o professor doutor Vagner Gonçalves da Silva, do Departamento de Antropologia da USP construiu um minucioso Laudo sobre a Relevância do Terreiro de Candomblé Santa Barbara.

Em 09/04/2014, novamente pela ameaça do Rodoanel, solicitamos a Unidade de Preservação do Patrimônio Histórico – UPPH, braço técnico do CONDEPHAAT, em reunião com Elisabeth Mitiko o pedido de Registro do Terreiro de Santa Barbara como Patrimônio Imaterial do Estado de São Paulo sob o Protocolo no. 46227/2014 e Processo 1162/2014.

Em 16/05/2014, por meio da Àgò Lònà Associação Cultural presidida por Sandra Campos foi solicitado ao Departamento de Patrimônio Imaterial na sede do IPHAN em Brasília o pedido para Patrimônio Imaterial Brasileiro sob o Processo no. 01450.005781/2014-05.

Em 2014, por intermédio de Ricardo Yamazaki conquista-se uma indicação da deputada estadual Leci Brandão (PC do B/SP), também indicando ao Governo do Estado de São Paulo o Terreiro de Santa Bárbara como Patrimônio Imaterial do Estado de São Paulo.

Em setembro de 2014, na reunião do Conselho Nacional de Politicas Culturais do Ministério da Cultura, o representante do Colegiado Setorial de Cultura Afro-Brasileira Tata Kinamboji / Arthur Leandro expos os motivos e garantimos a recomendação no.

Com tantos “em”, tanto quatorze tempo, tanta gente, continuamos a tentar materializar o imaterial. Mãe Manaunde! Eles não conseguem entender que conseguimos sentir com tranquilidade o vento das asas da borboleta.

Mãe Manaunde, disse o Onilu Pedro Neto, que a todo tempo empenhou esforço com especial interesse no reconhecimento e tombamento imaterial de espaço de povos e comunidades tradicionais de matriz africana, o Terreiro de Santa Barbára representa o legado africano na diáspora.

Julita Lima da Silva, a saudosa mãe Manaundê, negra, nascida em Propriá, divisa do estado da Bahia com Sergipe, em 26 de fevereiro de 1926 e falecida na cidade de São Paulo no dia 23 de agosto de 2004, foi dirigente do Terreiro de nação angola da variante bantu. O Terreiro de Santa Bárbara está situado no bairro da Vila Brasilândia, na zona norte da capital paulista, que teve seu processo de urbanização nos anos 70, exatamente, no momento em que uma grande leva de migrantes se dirigiu para São Paulo. Esta sacerdotisa, iniciada pela famosa Nanã de Aracaju (Erundina Nobre dos Santos – 1891-1981), fixou-se em São Paulo a partir de 1958, e abriu seu terreiro em 1962 foi uma das mães-de-santo mais antigas da metrópole.

O Terreiro será reaberto às 19h00 de sábado (13 de dezembro 2014),com grande festa tradicional em honra a Bamborocema, Nkisi da fundadora. O evento, esperado com grande expectativa, pretende reunir o maior numero de lideranças de povos e comunidades tradicionais de matriz africana da capital paulista e de vários lugares a fim de louvar os Bankisi a memória da lendária Mam’etu Manaundê.

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