quarta-feira, 30 de agosto de 2017

“Eu devo fazer o que me parece certo” Ator desiste de papel em Hellboy para tentar consertar embranquecimento

Toda vez que falamos sobre embranquecimento sempre tem alguém pra dizer que é uma questão de meritocracia: provavelmente aquele ator era o melhor para o papel, passou por testes, foi escolhido por ser o melhor. Tudo isso ajuda a propagar a falácia de que não há atores de origem asiáticas que são bons, ou se quer que eles existem.


Como esquecer a declaração do diretor de Death Note em que ele disse que não havia atores orientais no filme porque nenhum tinha um inglês “bom”.

Eis que na semana passada a produção do reboot de Hellboy no cinema anuncia Ed Skrein como Major Ben Daimio, personagem de origem Japonesa/americana nos quadrinhos. A internet, com razão, caiu em cima do casting por novamente excluir uma representação asiática em prol de um ator branco, apagando mais uma possibilidade de vermos mais diversidade nas adaptações de quadrinhos.


Hoje, no entanto, Ed Skrein soltou um comunicado em que não só conta que não conhecia a origem do personagem, mas também abrindo mão do papel. Isso, até onde eu me lembre, é inédito.
Na semana passada foi anunciado que eu estaria interpretando Major Ben Daimio no reboot de Hellboy. Eu aceitei o papel sem saber que o personagem dos quadrinhos era de origem asiática. Houveram muitas conversas e uma compreensível preocupação/decepção desde o anuncio, e eu devo fazer aquilo que me parece certo.
Está bem claro que representar este personagem de maneira culturalmente correta é importante para as pessoas, e continuar a negligenciar essa responsabilidade seria continuar uma preocupante tendência de excluir a história de minorias étnicas nas artes. Eu sinto que importante honrar e respeitar isso. Por isso eu decidi desistir do papel para que ele possa ser apropriadamente ocupado.
Representação de diversidade étnica é importante, especialmente para mim que também sou possuo uma origem multifacetada. É nossa responsabilidade tomar decisões morais em tempos difíceis para dar voz à inclusão. Eu tenho esperança que um dia essas discussões se tornem menos necessárias e que nós possamos ajudar a fazer uma representação igualitária nas artes realidade.
Eu estou triste em deixar Hellboy, mas se essa decisão nos trás mais para perto deste dia, então vale a pena. Eu espero que faça a diferença.
Com amor e esperança,

Ed Skrein não é um ator consagrado, não tem uma carreira bem estabelecida e seu maior crédito até hoje é como o vilão de Deadpool, ou seja, um papel em um grande lançamento como Hellboy poderia ser o tipo de trabalho que iria virar os ventos à seu favor. Por isso mesmo é corajoso da parte dele abrir mão do papel, e espero que isso o leve mais perto de outros papéis tão interessantes quanto Major Daimio.

Filmes com embranquecimento de personagens originalmente asiáticos são sinônimo de fracasso de bilheteria e/ou crítica, só este ano já tivemos Ghost in The Shell e mais recentemente Death Note. Eu espero, de verdade, que a postura de Skrein inspire atores e atrizes consagrados e com carreiras bem estabelecidas à fazer o mesmo nos próximos anos.

Hoje o dia termina com um ponto pra esperança. o/


Por REBECA PUIG, do Collant / Portal Geledés

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