Evanice Maria dos Santos, nascida em 12 de julho de 1947 na cidade do Salvador, com profundas raízes encravadas no Recôncavo, na cidade de Santo Amaro da Purificação, tanto por parte de pai como de mãe.É uma baiana da gema. Jornalista há 37 anos, formada em jornalismo pela Ufba, com atuação em vários jornais de Salvador, tendo iniciado a carreira em 1972, na TV Itapoan, então filiada aos Diários e Emissoras Associadas, primeiro como assistente de produção e depois como repórter, durante dois anos. Em 1974 ingressou no Jornal da Bahia, depois na Tribuna da Bahia, Jornal A Tarde, chegando a trabalhar paralelamente nestas duas últimas empresas, como repórter e revisora, respectivamente. Também foi colunista desses dois jornais, primeiro na Tribuna, com o pseudônimo de Lady Eva, e depois assinando o próprio nome, em A Tarde, no Caderno Dois e na Revista da TV. Trabalhou ainda como assessora sindical e parlamentar. Por mais de 10 anos pertenceu ao quadro de funcionários da Empresa Gráfica da Bahia, sempre exercendo funções ligadas à sua formação profissional. Paralelo a estas atividades, colabora na divulgação de projetos culturais de inclusão social do negro e em ações de combate ao racismo. Faz parte do quadro de jornalistas da Agência Afro Latina e Euro Americana de Informação (Alai) tendo contribuído na edição da revista bilingue Destin de l' Afrique, em parceria com o Senegal, sendo indicada para reforçar a divulgação do lançamento do Festival Mundial de Artes Negras - Fesman, evento que depois foi adiado para dezembro de 2010.
Maria Preta - Você acha que existe Racismo na Bahia e no Brasil?
Lady Eva - Infelizmente o racismo no Brasil e na Bahia tem sido como uma erva daninha, difícil de ser erradicado. Ele está nas práticas mais sutis de discriminação, muitas vezes impossível de ser tipificado, pela camuflagem que se reveste. Essa é a forma mais sórdida e mais desgastante de se combater. Não sou radical e acho que gosto não se discute. Há quem prefira o azul ao amarelo, o preto ao branco e vice versa. Mas em termos de relações humanas, discriminar, excluir e matar por causa da cor da pele, da textura do cabelo e da origem racial, do status social, ou da crença e fé que se tenha, é uma estupidez, uma afronta e um atentado à dignidade humana. E tem que se dar um duro combate a isso.
MP - Você já foi vitima de algum tipo de discriminação?O que mais te marcou?
LE - Sempre. Algumas vezes se tira de letra e neutraliza o ataque. Outras que ferem a honra, tem que sacudir o coreto. Em 1975 fui discriminada numa instituição americana, sendo a única pessoa obrigada a revista, ao me apresentar para cobrir um evento que se realizava no local, em que a única pessoa negra era eu. Recusei a revista. O fato foi denunciado e o então presidente do Sinjorba, Anísio Félix, de saudosa memória, comprou a briga em plena ditadura, culminando com o afastamento do diplomata norte-americano e pedido de desculpas. Incontáveis foram as vezes em que pessoas se admiravam, quando não demonstravam decepção, ao me identificar como jornalista e colunista. Bem verdade que também fui bastante festejada e bajulada, recebendo muitos convites, mas em certos eventos fechados, mesmo credenciada pelo meu órgão de classe ou da empresa para a qual trabalhava, buscava-se confirmação do cerimonial. Inúmeras vezes isso ocorreu quando era repórter da TV Itapoan. Na verdade fui a primeira negra na Bahia a trabalhar como jornalista numa redação de TV (1972/1974), e a assinar, de 1983 a 1991, uma coluna com bastante repercussão, usando o pseudônimo sofisticado de Lady Eva. Até as pessoas negras se surpreendiam e debochavam. Duro não é? Mas negro também é racista com a própria raça e age como invejoso.
MP - O que você acha da nossa campanha de reflexão social Racismo, Aqui Não?
LE - Iniciativa como a do Instituto Maria Preta deve ser multiplicada para desmascarar a ação nefasta de racismo, cujos danos não se sabe calcular no psiquismo de uma pessoa discriminada por causa da cor ou da raça. Isso é um crime odioso que marca para toda vida a pessoa que é vitimada. Só mesmo um cristão de verdade será capaz de perdoar. E ele é cada vez mais raro.Parabéns ao Maria Preta pelo "Racismo, aqui não". Um grande abraço a todos que atuam na instituição. Estou torcendo pelo crescimento cada vez maior do IMP.
Obrigada Lady Eva
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