Este artigo, diferente dos demais que escrevi e postei no blog, expressa a briga do meu “EU”, pois para mim foi muito difícil e demorado chegar à conclusão que deveria escrevê-lo. Gostaria muito de agradecer as centenas de e-mails que recebi perguntando-me porque parei de escrever, afinal, hoje, faz um mês que postei o último artigo. Confesso: não consegui mais escrever enquanto era nutrido pelo sentimento da incerteza se deveria ou não trazer à baila este assunto. Entretanto, tomei esta decisão, para que vocês, meus amigos, façam as suas análises e cheguem as suas conclusões.
Ainda recebo alguns e-mails pedindo para que escreva sobre o Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH) que vem gerando muita polêmica não só entre os Ministros Nelson Jobim (Defesa) e Paulo Vannuchi (Direitos Humanos), mas em toda sociedade brasileira. Dos e-mails que recebi, teve um que acentuou muito a minha inquietação. Foi o e-mail de uma Promotora de Justiça que foi minha aluna em um curso de especialização em Direitos Humanos, ela escreveu: “Marinho,Gostaria muito que escrevesse um artigo sobre o novo Plano Nacional de Direitos Humanos, pois você leciona sobre o tema e é oficial do exército. Espero que você não se esqueça o que enfatiza tanto para seus alunos, que escrevam sempre, pois os nossos conhecimentos não podem se restringir à sala de aula. Eles têm que ser compartilhados com a sociedade para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos, pois esta é a razão de ser das escolas e universidades.No aguardo,......” Entendem agora o porquê da briga do meu “EU”? Estou em uma “sinuca de bico”, entre “a cruz e a espada”, será que não tinha outro lugar para eu “amarrar meu jegue”? E agora? Para preservar meus dizeres, vale a pena enfrentar um sistema invisível, onipresente e, às vezes, perverso? Eu não vou conseguir mudar o “mundo”! E será que o “mundo” quer mudar? A pena para quem ousa mostrar a “nudez do Rei” é desumana, torturante, cruel! Eu não tenho o direito de desafiar o “Rei”, pois eu tenho três filhas para criar e, também, tenho que prepará-las para as intempéries da vida. Afinal de contas, o “mundo” não está nem aí para as minhas filhas!
Sobre o PNDH vou limitar-me a dizer que nasci no ano de 1975, não era nascido ou era bebezinho no auge dos conflitos internos envolvendo militares e civis, logo eu poderia incorrer em injustiça, além de ser passível de sofrer sanções disciplinares, ainda que a Constituição – Lei Maior – reze no seu Art 5º, inciso IV, que: “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”. Contudo, acho que posso falar sobre a minha vida e a vida dos meus familiares.
Em 2007, fiz o curso de Aperfeiçoamento de Oficiais, ao término deste curso, o militar é transferido para outros quartéis, em qualquer lugar do Brasil. Durante o decorrer do curso, minha filha, de 6 anos, ficou 28 dias internada no hospital, passou por uma intervenção cirúrgica na cabeça, e eu tive de ficar com ela durante todo tempo. Nestes intermináveis dias, recebia visitas frequentes dos meus amigos, entretanto, meus instrutores, que me ensinavam que todos os oficias devem ser líderes, e que entre os atributos essenciais da liderança estava o de tratar o subordinado como um filho, preocupar-se com ele a todo tempo, não me visitaram. Esqueceram que a palavra convence, mas é o exemplo que arrasta! Superado esta fase, lembrei a eles a situação da minha família em Salvador e que necessitava muito voltar para lá. Ao término do curso, fui transferido para Bagé-RS, distante quatro mil quilômetros de Salvador.
Entrei com um requerimento pedindo retificação de transferência, e na minha exposição de motivos coloquei, dentre outras várias observações, as seguintes: 1- Meu pai tem uma doença cerebral degenerativa, não anda e nem consegue ficar em pé sem ajuda. Ele mora com minha mãe e com minha irmã. Minha mãe, uma senhora idosa tem problemas cardíacos e de hipertensão e minha irmã nasceu portadora de necessidades especiais; 2- quem resolveu todos os problemas da família durante anos, sacrificando-se para dar melhores condições de estudos e uma alimentação sadia merece sem favor algum, pelo menos a atenção do filho antes do último suspiro. Isso é o mínimo que meu Pai precisa e é um gesto puro do meu reconhecimento em vida para com aquele que foi e sempre será meu sustentáculo e referencial; 3- Os pais que sustentam, instruem e preparam seus filhos devem ser honrados, Jesus mostrou que esta honra inclui prover as necessidades dos pais idosos (Mateus 15: 3-6); 4- citei meus títulos acadêmicos que, achei eu, seria de grande valia para a Escola de Administração do Exército (EsAEx), com sede em Salvador, que desenvolve estudos na área do Direito. Abre aspas: lá não tem nenhum Mestre em Direito; por isso achei que poderia citar meus títulos acadêmicos, por achar que a EsAEx poderia ser mais uma opção, além de vários outros quartéis de Salvador, fecha aspas. O meu requerimento foi indeferido. Em 2008, entrei com um novo pedido de transferência, além das observações já citadas, acrescentei que meu quartel tinha capitão excedente. Mas uma vez tive meu pedido negado.
Antes de iniciar o próximo parágrafo, gostaria de acrescentar que sou Curador do meu pai, curatela concedida no processo número: 2350053-1/2008, que pode ser consultado no site do Tribunal de Justiça da Bahia http://www.tjba.jus.br/.
No início deste ano, recebi uma ligação da minha irmã que me disse, entre lágrimas, que minha mãe estava com depressão, pois deu para chorar e gritar que não pode morrer. De imediato, levei o caso para meu comandante que me pediu para aguardar alguns dias. Diante da situação indefinida, minha esposa foi morar com minhas filhas, em Salvador, na casa dos meus pais, a fim de ajudá-los. Após três semanas do ocorrido, meu Comandante me chamou no seu gabinete e disse-me que o seu superior pediu para eu esperar até o final do ano, que, talvez, ele consiga me ajudar. Sem querer declinar do respeito, mas será que se a mãe fosse à dele, ele esperaria dez meses para ajudá-la? Confesso que me faço, também, este questionamento: se após vinte e um anos de publicada a Constituição Federal, onde aduz seu Art 229: “(...) os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.”, eu que sou Oficial do Exército, tendo uma ficha cheia de referências elogiosas, sou tratado dessa forma, imagino como não deveria ser, há mais de trinta anos passados, no auge do famoso Ato Institucional número cinco (AI-5), o tratamento dado aos “subversivos”?
Por fim, sigo orgulhoso envergando o meu uniforme, por achar que o Exército é uma instituição imprescindível para manter a Grandiosidade do meu País. Quanto aos poucos que pensam que estão acima do bem e do mal, o meu consolo é que eles passarão, e não vai demorar muito! Por isso, continuo em Bagé-RS, a quatro mil quilômetros de Salvador, acompanhando o curso do rio em direção ao mar e aguardando o julgamento: se mereço ou não ajudar meus pais amados, velhos e doentes.
Por : www.capitaomarinho.blogspot.com
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