A tragédia se ampliou na madrugada desta quarta para quinta-feira, quando veio abaixo um morro artificial no bairro Viçoso Jardim. Falam em mais de 200 pessoas soterradas.
Lembro que há uns 30 anos fui fazer uma reportagem no lixão que existia lá. Na época, eram umas 100 pessoas de todas as idades que viviam do lixo, revendendo sobras de produtos vários, reaproveitando gêneros alimentícios, construindo ali mesmo seus barracos, com materiais de construção jogados ali. Já se sentia o cheiro forte de gases que saía do lixo; havia uma fumaça constante.
Com o passar do tempo, o lixão começou a ser desativado e novas moradias foram construídas no local. Não era um morro natural. Era um morro artificial, erguido em cima da omissão de sucessivos governos. Desta maneira, o Morro do Bumba ganhava uma parte alta, onde havia o lixão.
O morro que veio abaixo reunia uma grande concentração de negros, muitos deles integrantes da Escola de Samba Acadêmicos do Cubango, cuja quadra fica ali perto. A Cubango, que fez 50 anos de fundação em dezembro passado, é uma agremiação que até hoje concentra descendentes dos primeiros negros que por aqui chegaram. Daí o nome Cubango – em homenagem a um rio africano -, daí os frequentes enredos sobre a questão afro – “Afoxé”, “Fruto do Amor Proibido”, “Mercedes Batista” etc.
Algumas dessas casas destruídas serviam de ateliês de costureiras, aderecistas, artesãos da escola. Eram também moradas de passistas, ritmistas, sambistas em geral. População negra, trabalhadora e carente.
A primeira vez que desfilei na Cubango tem quase uns 20 anos; sempre que posso, estou por lá. Hoje, a comunidade está de luto. A cidade conta os seus mortos.
Fernando Paulino
Enviado po rSegio Caldiere
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