Na semana passada, 13 de abril, foi aprovado o novo código de ética médica. Ele tem 118 artigos e atualiza regras e princípios que o médico deve obedecer no exercício da profissão. Dentre as mudanças estão: a receita e o atestado médico têm de ser legíveis; o paciente tem direito a uma segunda opinião e a ser encaminhado a outro médico; e abandonar plantão é falta grave. Fica a indagação: quais serão os resultados práticos dessas mudanças? Será que haverá resultados satisfatórios? Ou será mais uma legislação para “inglês” ver?
O agravamento da punição para o médico que falta ou abandona o plantão aparenta ser eficaz, entretanto, só aparenta! Estudar para passar no vestibular em medicina e cursar seis anos de universidade em regime integral abnegando festas, cinema, praia e outras diversões não é uma situação confortável, requer muita perseverança. Porém o que motiva a grande maioria dos aspirantes a médico a manter uma disciplina no estudo – que é uma atividade, muitas vezes, solitária e enfadonha – é o desejo de ser médico de uma grande rede de hospital ou ser dono de uma clínica de sucesso, entretanto nem todos conseguem realizar seus sonhos e acabam sendo plantonistas em hospitais públicos, sem infraestrutura e com excesso de pacientes espalhados pelo chão.
Os estudantes de medicina do Brasil são um recorte do segmento social economicamente privilegiado (para os contrários às cotas, dos milhares de professores de medicina do Brasil, quantos são negros?), isso influencia diretamente na qualidade do atendimento médico. Para uma melhor elucidação da minha afirmativa, farei uma analogia com as tropas do Exército brasileiro no Haiti. Segundo um dos generais que comandou as tropas do Haiti, os soldados cariocas se destacam nas operações militares desenvolvidas no Haiti porque estão acostumados a conviverem com pessoas humildes e locais sem saneamento básico e cheio de lixo, pois as condições do Haiti são semelhantes às das favelas do Rio. Logo, as pessoas que vão trabalhar com outras que não fazem parte do seu “habitat” tende a ter dificuldade, ou seja, no Brasil que há muitos formadores de opiniões que criminalizam os negros e a pobreza, imagine como deve ser a adrenalina de um profissional de medicina que foi criado no Leblon, Morumbi ou na Graça quando vai ser plantonista do hospital público localizado em Queimados, Higienópolis ou Mussurunga? Muitos faltam porque acham que vão correr risco de vida! Será que considerar falta grave a ausência ou o abandono do plantão vai solucionar o problema da falta de médico?
No Brasil, por lei, os estados têm que gastar 12% e os municípios 15% das suas receitas com políticas públicas de saúde. Somadas as verbas dos estados e dos municípios para a área de saúde com as verbas da União o resultado é centenas de bilhões de reais, são tantos zeros que não ouso colocar de forma numérica, pois com certeza esqueceria algum zero dos cifrões. Enquanto isso, pelos interiores do Brasil, há prefeituras oferecendo um salário de vinte mil reais para médico e não consegue preencher a vaga. Precisa-se de médicos!
Torço muito para que em breve a sociedade brasileira se conscientize que o lobby dispensado ao médico é prejudicial à saúde e, conseqüentemente, os gestores públicos estabeleçam políticas que viabilizem o acesso de pessoas pobres nos cursos de medicinas e, também, criem novos cursos de formação de médico – universidades – nas periferias das grandes cidades, nos “locais de risco” e nas cidades interioranas. Enquanto isso não acontece, as recepcionistas dos hospitais cada vez mais vão perguntando e orientando: emergência? Favor procurar outro hospital!
Enviado por Capitão Marinho
www.capitaomarinho.blogspot.
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