A menos de um mês das eleições de 3 de outubro, os três principais candidatos à Presidência da República ignoraram até aqui o tema da desigualdade racial, apontado por pesquisadores e estudiosos como elemento estruturante da desigualdade social brasileira. Segundo o IBGE, 51,3% da população brasileira é negra (preta e parda) e ocupa os piores indicadores sócio-econômicos.
A candidata do PT, Dilma Rousseff, em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto (50% de acordo com o último DataFolha), não tratou até agora do tema no seu horário eleitoral no Rádio e na TV.
Nas Diretrizes do Programa 2011/2014 registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Dilma promete genericamente “ampliar as Políticas de Promoção da Igualdade Racial com o fortalecimento das ações afirmativas realizadas pela SEPPIR, Fundação Palmares e SECAD, incrementando suas estruturas do ponto de vista técnico, político, institucional, orçamentário e financeiro.”
“Deve-se, também, reafirmar a transversalidade dos programas voltados aos quilombos, a comunidades de terreiros, aos indígenas e ciganos, destacando os jovens e mulheres negras”, acrescenta a candidata nas Diretrizes do Programa.
Nada parecido com a proposta “O Brasil sem Racismo”, assumida pelo candidato Luiz Inácio Lula da Silva, na sua primeira eleição em 2002 e depois também deixada de lado por ele na campanha para a reeleição em 2006.
Tucano contra cotas
O candidato do PSDB, José Serra (com 28% das intenções de voto, de acordo com o mesmo Instituto de Pesquisas), também não tocou no assunto. Ao contrário de Dilma, que já se posicionou em favor das cotas para negros, a exemplo dos tucanos de um modo geral, Serra é contra.
Um dos coordenadores de sua campanha é o ex-secretário de Relações Institucionais no Governo de S. Paulo, José Henrique Reis Lobo. Lobo ficou conhecido pela afirmação dita ano passado numa reunião do Conselho Estadual da Comunidade Negra, órgão, à época, ligado à Secretaria que dirigia, de que “ações afirmativas só em 500 anos”.
S. Paulo é o Estado com maior população negra do Brasil, com mais de 13 milhões de afro-brasileiros – 31% da população total de 42 milhões de paulistas, de acordo com dados da Fundação SEADE.
No Programa de Governo, que só pode ser acessado mediante cadastro prévio, e depois da autorização dos seus coordenadores, o tucano menciona vagamente “afrobrasileiros”, uma forma de disfarçar um certo desconforto em tratar desse tema.
Segundo Ana Lobato, pesquisadora do IPEA e responsável pelo recolhimento das colaborações para a área social do Programa, em relação as cotas para negros “Serra tem posição parecida com a maioria do PSDB, que é defender as cotas sociais”.
Em entrevista recente à Revista Época, Lobato explicou que "Serra não quis colocar o tema das cotas para negros no debate porque ele quer ouvir as pessoas, inclusive as que defendem”.
“É um tema delicado. É fácil dizer que, para a juventude, vai combater drogas. Essa questão é delicada e ele quer ouvir mais gente para ter uma posição mais concreta. Ter constrangimento tem, porque é um tema polêmico”, acrescentou, quando questionada se o candidato tem constrangimento em falar sobre o assunto.
Políticas de igualdade
O programa da candidata do PV Marina Silva (10% das intenções de voto, segundo o DataFolha) é semelhante em vários pontos ao programa defendido por Dilma. Ambos prevêem a construção de políticas de igualdade racial.
Marina defende, inclusive, a manutenção e o reforço das cotas para negros, como parte de um processo de restauração de equilíbrio aos desequilíbrios históricos contra as “minorias”.
FONTE: AFROPRESS
Enviado por Patricia Bernardes
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