quarta-feira, 15 de setembro de 2010

A Primavera do Curuzu sem Mãe Hilda de Jitolu

Mãe Hilda de Jitolu 
Assim como Maria Bethânia canta a cidade de Santo Amaro dizendo:
-“ Quem não rezou a novena de D. Canô”  ( letra da música Reconvexo – Caetano Veloso)
Eu diria mais...
-“ Quem não foi abençoado pela saída do Ilê Aiyê  pelas mãos sensíveis de Mãe Hilda de Jitolu?”
Entre as cores fortes do vermelho, amarelo e preto das estampas firmes da fantasia do Bloco Afro Ilê Aiyê, um detalhe nos fará falta para o resto de nossas vidas. A palavra “falta” cabe aqui como referência a qualquer baiano, turista, jornalista, radialista, na conhecida cerimônia de matriz africana, realizada por Mãe Hilda de Jitolu na noite de saída do Bloco Afro presidido por seus filhos na Senzala do Barro Preto.
Quem não se “acotovelou” para chegar perto dela? Quem não desejou o melhor ângulo para fotografá-la?Quem nunca desejou apenas tocar as mãos frágeis, já pela idade, da matriarca espiritual da Senzala do Barro Preto?Acredito que neste momento a nossa memória vem a tona diante de muitas emoções, recordações e furos de reportagens que a saudosa zeladora do Ilê Axé Jitolú nos contemplou.
A Primavera se aproxima e o Curuzu contempla a chegada da estação das flores sem o mesmo encanto dos anos anteriores. O motivo é mais do que claro; eu diria que o motivo é claro e puro como a pomba branca lançada por Mãe Hilda em meio aos fogos de artifício e os tambores do Ilê Aiyê. Ela se foi...Ela nos deixou.As flores não mais tem o mesmo encanto para quem sobe ou desce a ladeira do Curuzu nestes dias da chegada da nova estação do ano.
“Ofò”  na tradução da língua  yorubá significa  “ a perda”. É nesta palavra que os filhos do Terreiro Ilê Axé Jitolú, que os associados do Bloco Afro Ilê Aiyê , que os professores e alunos da Escola Mãe Hilda têm se centrado neste mês. A carência da Comunidade do Curuzu era suprida pelas palavras sábias de quem lutou ano após ano por uma mudança no cenário do cotidiano daquele bairro. Palavras como  igualdade e reparação de direitos dos excluídos socialmente, sempre fez parte da vida de Mãe Hilda.
A manutenção e a estruturação de uma entidade de matriz africana sempre foram vistas  como uma luta diária de significado de vida durante toda a história do Centro de Cultura Senzala do Barro Preto. Educar para transformar realidades é o foco principal da instituição educacional que leva o seu nome - Mãe Hilda. Ensinar para multiplicar sempre foi à base da sua vida dentro do Terreiro Ilê Axé Jitolú. Para Mãe Hilda, de na da adiantaria uma Comunidade com maioria de afrodescendentes de baixa renda sem a multiplicação destes conhecimentos educacionais e/ou profissionais para os demais bairros de Salvador e, como sabemos, do Brasil.
Os mais radicais se ativeram a intolerância religiosa e perderam a oportunidade de conviver com Mãe Hilda e receber dicas e ensinamentos de como pode ser melhorada a vida de crianças, jovens e adultos através da educação moral e profissional num bairro pobre de manutenção governamental e perspectiva de vida.
“O negro segura a cabeça com a mão e chora...” afirma a letra de uma música popular conhecida por todos. O Curuzu chora as gestões municipais. O Curuzu chora as gestões governamentais. O Curuzu chora a ausência da clara pomba da paz, liberada por Mãe Hilda, durante todos os anos não só para abençoar os integrantes de um Bloco Afro mais também uma cidade totalmente desigual e a passos longos da educação de qualidade e a reparação de um povo afrodescendente.
Viva as flores da Primavera do Curuzu que esperam por dias melhores.
Yá Modupé (Obrigada Mãe)
Escrito por Patrícia Bernardes (Jornalista e Gestora Social)



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