Jornal do Comércio -RS
18/11/2010
Ministro Juca Ferreira/MinC
No início de novembro, o ministro da Cultura, Juca Ferreira, visitou a Argentina e o Uruguai em missão oficial, com o objetivo de aumentar a integração cultural. A busca pelo aprofundamento das relações por meio da cultura tem sido uma constante na pauta do ministério, desde 2003, e uma das bandeiras da gestão de Ferreira desde que ele assumiu como ministro, em 2008. A seguir, o ministro fala sobre os principais resultados da viagem e faz um balanço do significado da missão para o atual momento da cultura brasileira.
JC - Quais os destaques da missão brasileira na Argentina?
Juca Ferreira - Foi uma viagem bem objetiva. Fomos abrir a exposição do Carybé, que é uma das participações brasileiras na comemoração dos 200 anos da independência da Argentina. Carybé é um artista argentino de nascimento, mas radicado na Bahia. Talvez seja um dos maiores tradutores da cultura baiana na área de artes visuais, senão o maior. Há muito anos não tinha uma exposição dele na Argentina. A exposição é uma demonstração de afeto e de integração desses dois países. A obra dele tem muito das duas culturas, por mais singulares e diferentes que sejam. Mostra o quanto podemos nos aproximar de nossos hermanos vizinhos. Foi muito bem aceita. Acho que cumpriu sua função. Também tivemos uma reunião com o ministro da Cultura argentino, Jorge Coscia, e sua equipe. Houve muitas demandas de ações conjuntas, como discussões sobre a América Latina no Programa Cultura e Pensamento e intercâmbios nas áreas de cidadania e tecnologias culturais. Muitas possibilidades de parceria e de integração. Eu os percebo muito sensibilizados e motivados para integrar suas relações com o Brasil. O ministro Coscia reiterou com suas palavras uma afirmação nossa de que o Mercosul não pode ser apenas uma facilitação de circulação de mercadorias, mas deve significar uma integração bem maior entre os países que compõem o tratado. Vimos uma série de possibilidades tanto na área de intercâmbio quanto na de cooperação técnica. Eles também demonstraram interesse muito grande nas políticas do ministério de inclusão pela cultura.
JC - E no Uruguai? O senhor foi convidado pelo presidente José Pepe Mojica para discutir a integração das políticas culturais. Quais as principais demandas nesse sentido?
Ferreira - É verdade. Há uma demanda dos uruguaios e do próprio presidente José Pepe Mojica para que a gente se aproxime mais e desenvolva ações conjuntas tanto na área de intercâmbio cultural quanto de cooperação técnica, assim como os argentinos. O maior interesse está nas experiências de inclusão e cidadania, tendo a cultura como referência. Houve duas principais demandas da parte deles. Uma delas foi que na fronteira Brasil-Uruguai, onde já se vive um processo de integração bem maior do que em outras partes do País, essa prática seja tomada como padrão. Os uruguaios e brasileiros daquela região são bilíngues e constroem uma cultura da região muito amalgamada. O ministro da Cultura uruguaio, Ricardo Ehrlich, acha que isso é uma demonstração do potencial de convivência do fortalecimento das duas línguas, de integração, de desenvolvimento cultural da população fronteiriça. Além disso, é uma demanda das organizações da sociedade civil uruguaias e brasileiras que os dois governos invistam nesta experiência de convivência e de integração. Pensamos também numa cooperação no plano do intercâmbio na área de música sinfônica e ópera. Eles estão propondo uma série de atividades conjuntas, entre elas, a criação de Pontos de Cultura na fronteira e a difusão da língua portuguesa por meio da literatura brasileira, como forma de aproximação dos dois países.
JC - Qual a sua visão geral sobre o encontro com o ministro Ehrlich e sua equipe?
Ferreira - Achei muito produtiva a reunião. Acredito que estes encontros ajudam a fazer com que as políticas avancem e as relações culturais se tornem mais estreitas, não só as bilaterais como todo o conjunto do Mercosul. Eles pediram ainda que a gente atue, junto às autoridades aduaneiras, para facilitar que o selo cultural, uma decisão do Mercosul incluindo o Brasil, se torne uma realidade. Isso porque a circulação de obras de arte e de atividades culturais entre um país e outro ainda sofre muitas barreiras burocráticas. Contamos também com a presença do embaixador do Brasil no Uruguai, João Carlos de Souza-Gomes, que está lá há apenas quatro dias e foi muito bem recebido. Ele inclusive recebeu a visita na embaixada do presidente Mojica e já teve suas credenciais confirmadas. Tudo isso são demonstrações do momento positivo das relações que estamos vivendo com nossos hermanos vizinhos.
JC - Como essas viagens se encaixam na política externa desenvolvida pelo Ministério da Cultura na Era Lula?
Ferreira - Desde que chegamos ao ministério, em 2003, percebemos que uma dimensão importante do nosso trabalho era fortalecer as relações culturais com os povos amigos, não só com nossos vizinhos da América do Sul, mas também com Europa, África, Oriente, Países Árabes e temos procurado desenvolver ações não só bilaterais como também multilaterias. Fazemos parte do Mercosul Cultural, Unasul Cultural, Organização dos Estados Americanos (OEA), Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e outras articulações entre países árabes e latino-americanos. Isso tem se desenvolvido com grande regularidade. Temos conseguido cada vez mais estabelecer um padrão nas relações culturais. Ou seja, estamos construindo uma espécie de diplomacia cultural que convive com as relações econômicas, sociais e geopolíticas. Essas relações são as que de fato aproximam os povos e dão visibilidade para a cultura brasileira, abrindo-nos espaço em outras partes do mundo. No caso da América do Sul, é o fortalecimento da amizade, da convivência comum. Estamos vivenciando um processo onde a simetria do Brasil, seu tamanho e importância econômica não podem, de maneira alguma, significar uma relação hierárquica. Acredito que isso só é possível se tomarmos a iniciativa de constituir relações igualitárias, de aprofundamento cultural, de intercâmbio, de diálogo e de afeto com esses países. Acredito que estamos vivendo isso. Essa é a compreensão do presidente Lula e acredito que seja para onde devemos evoluir. As relações do Brasil com os países vizinhos estão cada vez mais sólidas e acredito que o Ministério da Cultura vem contribuindo para o fortalecimento desta qualidade nas relações.
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