quarta-feira, 25 de maio de 2011

Evento celebra os 128 anos da abolição em Fortaleza

A Praça da Sé, diante da Catedral Metropolitana de Fortaleza, recebeu na manhã de ontem todas as cores e ritmos de grupos de afoxé em homenagem à libertação dos escravos na Capital, há 128 anos.

Em 24 de maio de 1883, o local foi o ponto de partida do cortejo que celebrou a abolição da escravatura na cidade, e seguiu até o Passeio Público, passando pelo Forte de Nossa Senhora da Assunção em agradecimento ao 26º Batalhão de Voluntários da Pátria, engajados na causa abolicionista.

Grupos folclóricos se apresentaram ontem no evento Fortaleza Liberta (IGOR DE MELO)


Com o objetivo de rememorar a importância do fato histórico, o evento Fortaleza Liberta convidou a população a realizar esse mesmo percurso, dando início a uma série de atividades comemorativas.

De acordo com o idealizador do projeto, Ivaldo Paixão, presidente nacional do Movimento Negro do Partido Democrático Trabalhista (PDT), a ideia é inserir o evento no calendário cultural de Fortaleza e perpetuar a memória coletiva.

“É necessário que as pessoas entendam a importância de não deixarmos a história cair no esquecimento. Devemos nos orgulhar, pois o Ceará foi a primeira província a acabar com o grande flagelo da escravatura. Ao mesmo tempo, Fortaleza deu o exemplo para as demais metrópoles, sendo a primeira grande cidade a abolir a escravidão, fato que influenciou até mesmo o 13 de maio de 1888, data em que foi assinada a Lei Áurea”, afirma Paixão.

Cultura
O servidor público Tiago Nascimento, de 26 anos, fez questão de participar da abertura do Fortaleza Liberta, na Praça da Sé, e acompanhou o cortejo de grupos percussivos de tradição afrobrasileira até o Passeio Público. “É fundamental resgatar e valorizar ações que defendam a nossa cultura. Até hoje, ainda temos uma dívida muito grande para com a exploração feita sobre a figura do negro, e nem todo mundo se conscientizou que diferenças de cor não deveriam mais existir. Espero que a sociedade como um todo abrace essa causa”, afirma.

Para o etnomusicólogo Marcello Santos, de 40 anos, coordenador da Caravana Cultural (escola de ritmos afrobrasileiros), a expectativa é de que o evento sensibilize a população e o poder público para a necessidade de reavivar as tradições da cultura afro. “Temos poucas referências à libertação dos escravos em Fortaleza. A rua 24 de Maio, por exemplo, é uma alusão a uma batalha militar no Paraguai, e não à libertação dos cativos”.

Marcello ressalta ainda que, apesar do pioneirismo de Fortaleza em relação à abolição, cidades que tiveram um papel bem menos relevante conseguem manter viva a herança histórica. “Em Mossoró, são realizadas festas durante uma semana inteira para comemorar a abolição. Aqui, ainda temos o estigma. A própria comunidade negra deveria se integrar mais a manifestações que valorizem a nossa tradição. Ela não pode ser perdida”, enfatiza.

O quê
ENTENDA A NOTÍCIA
Atualmente, existem poucos eventos comemorativos que façam alusão à libertação dos escravos. O projeto Fortaleza Liberta espera alertar a população para a necessidade de manter viva a memória da cultura afrobrasileira

SAIBA MAIS

Homenagem
A primeira edição do Fortaleza Liberta ocorreu durante todo o dia de ontem, 24, e homenageou o herói abolicionista Francisco José do Nascimento, o Dragão do Mar.

Oficinas
A programação abrangeu desde oficinas de percussão, dança
e literatura a apresentações de grupos folclóricos. O Baile da Fortaleza Liberta, que encerrou o evento, contou com a presença do Grupo Nossa Voz interpretando músicas do século XIX.


A CIDADÃ

Preconceito A cantora do Afoxé Oxum Odolá reforça a importância do eveto. “Essa comemoração é um reforço contra o preconceito racial. Queremos mostrar que ele existe e que é necessário desconstruí-lo. Ao mesmo tempo, também pretendemos mostrar para a população que as manifestações da cultura afrobrasileira também estão presentes em Fortaleza”.

Adriana de Maria, 31, cantora

Renato Barros de Castro
renatobarros@opovo.com.br

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