Oskar ‘Osklen’ Metsavaht bem que tentou compor um casting só modelos negros no desfile que fez na SPFW, mas não conseguiu. “A coleção Royal Black é uma homenagem à herança da cultura afro-brasileira. Queria só modelos negros por uma questão estética. Porque tinha a ver com o tema, porque natualmente ia ficar lindo na passarela. Não estava pensando na questão racial. Mas não conseguimos compor este casting. Dos 48 que desfilam, só 12 são negros”, contou o estilista ao Estado.
A declaração de que a Osklen estava tendo dificuldade para encontrar modelos negros com o perfil da grife causou polêmica e levantou u ma questão que já é antiga mas não deixa de ser atual na moda brasileira. Deve ou não haver cotas para negros também nas passarelas? “Antes eu era contra. Porque não acho que isso devia ser imposto. Mas mudei de ideia. Hoje, depois de acompanhar melhor a questão, sou a favor das cotas. Inclusive na moda. Se para trabalhar pela inclusão e pelo fim da discriminação, é necessário que a cota seja imposta, então que haja cotas”, declarou Oskar há pouco, enquanto dá os últimos retoques na trilha sonora do desfile trará influências, claro, da música negra. “Mas tudo muito sutil. Começa com acordes mais África e vai ‘bahianizando’, tem Baden Powel, e termina com um quê de batida de funk. É uma mistura contemporânea que acompanha, até que didaticamente, o conceito do próprio desfile.”
Por falar em conceito do desfile, a influência da cultura negra africana no Brasil deu mais pano para a manga do que Oskar imaginava. Ao declarar que estava tendo dificuldade de encontrar modelos negros para seu desfile, Oskar levantou, mesmo que involuntariamente, não só a questão das cotas na passarela, mas também a da participação do negro na moda brasileira. “Quero deixar claro que este não é um desfile panfletário e muito menos de protesto. E claro que há milhares de negros e negras lindos no Brasil. Quando digo que não consegui compor meu casting é porque não encontrei número suficiente de modelos negros que têm o perfil da Osklen. Estamos falando de moda, de passarela e do conceito da marca. Há um biotipo que sempre busco, sejam os modelos brancos, amarelos, negros. Tem de ter altura, porte e preparo de passarela. E isso não encontramos.”, esclareceu o estilista.
Para Oskar, mais que ser panfletário, vale tratar do tema de forma natural, na moda, nos tecidos, nos cortes, nas cores da coleção. Acima de tudo, faço moda”, declarou o diretor criativo da Osklen, que neste ano foi nomeado um dos embaixadores da Unesco. “Foi quando recebi, justamente, a Enciclopédia da História da África, que agora é disciplina nas escolas, é que soube que este é o Ano Internacional da Afro-Descendência no Mundo. Foi então que comecei a mergulhar fundo no estudo disso e perceber sua importância não só no Brasil como no mundo.”
Oskar e sua equipe não queriam levantar a bandeira da luta racial, mas levantaram. E a julgar pelo protesto que a ONG Educafro realizou na frente da Bienal na segunda, pedindo que a cota de negros nas passarelas da SPFW seja de 20%, a discussão vai longe. “O que faço é moda. Não sou ativista. Mas se a moda é reflexo da sociedade e é um dos protagonistas das transformações de comportamento, estou aqui para cumprir o meu papel. E hoje meu papel é valorizar na minha nova coleção a beleza que é a nossa cultura afro-brasileira.”
Isso traduzido em informação de moda, resultou em uma coleção, como bem pede a Osklen, cool, elegante e minimalista, em que ares de afro-Brasil chegam nas cores do algodão cru, o preto, o laranja, na simplicidade de materiais trabalhados com sofisticação, na palha de seda. “Tem leveza, conforto e é, ao mesmo tempo, luxuoso e artesanal. Este é o novo luxo. O simples.”
Pequeno detalhe: Diante da escolha do tema, que foi pré-comunicado aos revendedores e lojas multimarcas compradores de Osklen do País, o número de pedidos no Sul e Sudeste do Brasil diminui. “É incrível pensar no que isso significa, não? Mas, sinceramente, se há clientes que nem vêem a coleção e já não a recebem bem por conta do tema valorizar o negro brasileiro, eu é que não quero este tipo de cliente.
Escrito por: Flavia Guerra
Fonte: Estadão
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