Colaboração de Claudio Pinho
Acreditam que o Hip-Hop traz consigo a derrocada de tudo que lhes é mais sagrado; inclusive a sacralizada obediência cristã que se reflete na família, na escola, na igreja, partido político, polícia, hospitais, e até, no mass-media. Numa frase lapidar: (O Hip-Hop) é uma “restauração negra” do urbano (Queiroz, 2002.p.25).
E isso incomoda porque desestabiliza a ordem “natural” das coisas. Porque rompe limites fronteiriços de lugar e posição social dentro da própria sociedade. Imagine os afro-descendentes descendo o morro e as favelas. Descendo para ocuparem as habitações dos bairros nobres das cidades. Imagine os afro-descendentes saindo das periferias em que foram confinados há tanto tempo. Imagine os afro-descendentes ocupando os postos de trabalho mais elevados do país. Imagine o absurdo dos afro-descendentes serem os novos latifundiários e os donos das indústrias e dos bancos privados. A nação norte-americana, e, sobretudo a brasileira, não poderiam resistir a esse dia nefasto sem todos os ódios e ranger de dentes legítimos do Juízo Final.
Todavia, é essa a proposta fundamental do Hip-Hop no âmago mais seleto de suas pretensões. Como essa aspiração inaudita não pode sequer ser concebida como realizável em qualquer dos mundos cristãos de Deus, o Hip-Hop estadunidense se contenta em propagar, senão o êxito coletivo de etnias historicamente oprimidas, ao menos, o sucesso individual de alguns de seus personagens. Então, veremos afro-descendentes e hispânicos, arqui-inimigos, na condição de arqui-milionários, ostentando seus carrões importados e em versões limitadas.
Veremos as mulheres mais bonitas e desejadas do mundo – quase nunca brancas – ao lado desses extravagantes magnatas oriundos, quase sempre, do mundo do crime porque único caminho possível para tanta fartura afro-latinas. Veremos um universo de tecnologias de ponta a serviço e nas mãos nunca mais calejadas dos, uma vez, sempre pobres trabalhadores braçais, como nem possível nos filmes de ficção mais ousados. Vale ressaltar, que esse mundo diminuto instaurado pelo Hip-Hop estadunidense durante 04 a 06 min de duração de seus clipes; é um mundo totalmente jovem. Não há lugares para idosos, deficientes e homossexuais. Talvez uma reconstrução canhestra da Esparta já em sua fase decadente.
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