Parceiro de poetas como Leminski, cantor Edvaldo Santana lança o sétimo CD
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“Jataí tem uma sonoridade diferente dos outros discos que lancei. É semiacústico, mais baseado no meu violão. E a voz não está tão alta, dei uma suavizada”, compara o cantor. “Continuo compondo com parceiros, claro. Mas, às vezes, as parcerias não batem com o momento que estou vivendo e acabam entrando em outro disco. Desta vez, quis gravar coisas bem minhas. Jataí tem muito do que estou pensando, do que estou sentindo.”
Das 13 faixas, 12 foram compostas nos últimos dois anos. E quatro são homenagens. Aí Joe, que cita o Bloomsday (a celebração de Ulysses, o clássico de James Joyce), no Finnegan’s Pub, em São Paulo, é dedicada a Waldir Aguiar, “empresário, agente, produtor, faz-tudo, grande camarada”, morto há um ano e meio. Outras duas foram feitas para amigos de Itu (SP), onde o cantor vive atualmente: A poda da rosa, para o jardineiro Valdemar; e Seu Ico, para o poceiro que Edvaldo descobriu ser um ótimo tocador de viola. Foi ele, aliás, quem produziu o primeiro álbum de Seu Ico, aos 65 anos (o violeiro já lançou três). Já Eva Maria dos Anjos, a sexta música do CD, gravada com a participação da cantora Fabiana Cozza, leva o nome da avó paterna.
Filho de pai piauiense e mãe pernambucana, nascido e criado em São Miguel Paulista, um bairro de nordestinos na Zona Leste de São Paulo, Edvaldo Santana conheceu a avó quando tinha 6 anos. “Meu pai era um operário ligado a movimentos políticos e, como a situação não estava boa aqui, ele levou a gente para o Piauí. Mas o sertão estava brabo também. E minha avó ajudou muito a gente”, conta ele, o mais velho dos oito filhos, que na letra de Eva Maria dos Anjos diz ter uma foto da avó, “cabocla tupi”, mas na verdade nem tem. “É liberdade de criação do poeta, me lembro dela vagamente”, ele ri.
Em movimentoSimpático, bom de bola e sempre na ativa (“quem se movimenta recebe, quem se desloca tem preferência”, gosta de dizer), Edvaldo começou a trabalhar aos 12 anos e, aos 20, já tinha a música como profissão. Com sua primeira banda, a Caaxió (depois rebatizada de Matéria Prima), chegou a ter 10 músicas censuradas num show no Teatro de Arena, em 1974. Ligado a movimentos universitários, viajou Brasil afora, acompanhou as primeiras ocupações do que viria a ser o Movimento dos Sem Terra (Piá, a única antiga do novo disco, é dessa época, foi composta à beira de um rio em Ponta Grossa, no Paraná). “Sempre fui envolvido com esse lado social, porque venho do povo, das dificuldades”, justifica.
A voz rasgada (ele tem calo nas cordas vocais) lhe rendeu dois apelidos: Pato Rouco e Tom Waits da Pauliceia (ele ri dos dois). Também o aproximou um pouco mais do blues, marcante em seu trabalho desde o primeiro disco solo (Lobo solitário, de 1993). “Na verdade, o blues veio mais pela ligação com os renegados, e isso tem a ver tanto com os negros americanos quanto com o povo nordestino”, comenta. “Se pegar o que Luiz Gonzaga canta — A volta da Asa Branca, por exemplo — e diminuir o beat, deixar mais lento, você vai ter a linha de blues, até harmonicamente.”
Edvaldo cresceu ouvindo Gonzagão, Jackson do Pandeiro, Pixinguinha, Waldir Azevedo e toda aquela diversidade musical dos programas de televisão dos anos 1960 e 1970 (Wilson Simonal, Elis Regina, Roberto Carlos, os festivais etc). Na lista de influências, também entram Jimi Hendrix, Janis Joplin, Carlos Santana, Raul Seixas, os tropicalistas, Bob Marley… E, claro, seus parceiros famosos, como Tom Zé, Leminski e Arnaldo Antunes, com quem teve “experiências fantásticas”.
Aos 56 anos (o aniversário é em 17 de agosto), o alquimista segue circulando (a turnê de Jataí começa em setembro e ele sonha tocar um dia em Brasília), compondo sem parar. “É meu grande trunfo. Porque a gente pode não ter dinheiro, mas se tem arte, está bom, né?”
JATAÍSétimo disco solo de Edvaldo Santana. Lançamento independente, com distribuição da Tratore, 13 faixas. Preço médio: R$ 20. ****
Tereza Albuquerque
Enviado por Fred Maia
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