quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Professor e compositor, Climério Ferreira lança o décimo livro de poesia


Climério Ferreira é o que escreve: discreto, fala baixinho, não gosta muito de aparecer — “só quero fazer isso, um livrinho”, ele diz. Nem se considera um poeta de verdade. “Estou mais interessado no conteúdo do que no continente. Tenho interesse em atingir as pessoas, criar alguma emoção, algum sentimento”, releva. Este piauiense de Angical é modesto, mas já engrandeceu a música popular brasileira: contribuiu com letras para Clésio, Clodo, Dominguinhos e outros. Numa seara mais pessoal, a dos versos, ele lança hoje, às 19h, no Café Cultural, seu 10º livro, Poesia mínima & frases amenas (Abravídeo).


Ex-professor do curso de Comunicação Social na UnB, o letrista tenta, na nova compilação de textos, escrever algo mais reflexivo. Daí a mistura de brevidade (nos “poemicros”) e observação das coisas simples do cotidiano (na seção intitulada “O livro dos dizeres”). “Tive um processo de depuração até chegar aqui. Eu queria fazer algo mais filosófico. É um diário de anotações, pensamentos”, delimita. A sábia mansidão de Climério é cheia de sutilezas: ocupa duas ou três linhas de cada página, e sempre em letras minúsculas. Como ele observa no poema Sem cabimento, “a vida humana é tão curta / que não cabe nessa mania de grandeza”.

Nascimento virtual
Depois da aposentadoria da docência, ele precisava de um motivo para continuar escrevendo. Resolveu apelar para as listas de e-mail — sem medo de ser taxado de spam. Selecionou alguns amigos e começou a disparar um versinho por dia, durante um ano. Com ou sem rima. E funcionou tanto para ele como para quem recebia as mensagens. A cantora Fernanda Takai, da banda Pato Fu, gostou tanto que assinou a apresentação de Poesia mínima. “Não tive caminho acadêmico para a poesia. Sempre estive ligado à letra de música, mas coisas de lado b, que não tocam em lugar nenhum. E essa parte me levou a querer não ficar muito rebuscado, não dificultar a leitura”, explica.

A experiência de compositor sob a opressão do regime militar, ele conta, também abasteceu a sua poética. “Tive problema com a censura e que aprender a dizer as coisas de outro jeito. Não dizer inteiramente, claramente. E isso é bom também do ponto de vista da linguagem, do discurso. Convivemos com a impossibilidade de fazer as coisas”, lembra.
 
O que ele disse:
 
Poetas brasilienses
» Pessoalmente, vejo a poesia daqui como diversa. No fim dos anos 1970, fizemos a revista POrrETAS, em papel-jornal. Uma das características era essa: não tem característica. Não tem como dizer o que é a poesia de Brasília. Houve rompimento de alguns, em busca dos concretos. No momento, temos os mineiros, que continuam mineiros, os nordestinos, que continuam nordestinos, e os filhos vão se metendo na história. Por exemplo, dizer que Brasília é rock me deixa incomodado. Nada contra, mas Brasília também é choro. É um bocado de coisa, em todas as áreas.

Política cultural
» Nas superquadras, não tinha previsão de teatro, cinema. Cinema não comercial é afastado, lá no CCBB. Quem não tem grana e/ou carro não tem cinema. E tínhamos muita música ao vivo. Brasília está se tornando uma cidade sem nenhum tipo de diversão. Parece que ficou tudo na mão dos produtores comerciais, dos grandes espetáculos, grandes shows. Não é só no DF, mas em todo canto: cultura não dá voto, não dá verba, não dá uma porção de coisas que os partidos querem. Não é importante para os políticos.

Leitura
» Quando fui professor, dava aulas de teorias e ciência da comunicação. Me saí muito bem depois criando a disciplina de oficina de texto. O aluno tinha que escrever. A matéria foi inventada para que o aluno perdesse o medo de se expor na escrita. E, para produzir, tem que ler. Não só livro. Mas leitura de filme, teatro, canções. Tudo isso dá assunto. E, claro, memória.
Por Felipe Moraes

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