sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Alguém se candidata a gostar de Salvador?




A cidade da Bahia conhecida como a cidade da fé barroca, das águas imantadas de prazer, e do sol da negrura da terra, também é conhecida como a cidade do mijo, dos que não têm lugar onde morar, dos que andam a pé, que não tem passeio público, que não tem estacionamento, dos jovens que morrem nas periferias, que se privatiza e se fecha para o restante da população. Salvador é uma cidade rica e plural, mas a diversidade é hierárquica. Poder e dinheiro mandam por aqui. Temos dedicados políticos, intelectuais e artistas que se vendem fácil para os grandes e ricos investidores da cidade.


Um milhão de pessoas andam a pé na cidade. O sistema habitacional necessita de 100 mil casas. Mais de duas mil pessoas moram nas ruas. Entretanto, muitos vivem de estatísticas e relatórios sobre a miséria e a morte dos outros. Continuamos a fechar ruas e prédios e a transformar Salvador na cidade das Vilas, Residences e Palaces. Nas micro cidades sitiadas. É o fim da Cidade?

Impõe-se um choque cultural e o estabelecimento de um novo contrato social entre seus munícipes. Parece difícil para os candidatos que querem ocupar o poder da cidade enfrentarem os empresários gananciosos do setor imobiliário, do setor dos transportes, da coleta do lixo e do setor hoteleiro que mandam na cidade e nem parecem gostar tanto dela assim. O carnaval está chegando e precisamos saber qual o preço filosófico e civilizatório da baianidade nagô. Os espigões da orla irão tapar e privatizar a cidade enquanto pagamos para trafegar na cidade feita para carros.

Com a recente notícia da vinda de 70 bilhões de investimentos privados para o Estado, fica o desafio de se pensar uma nova cidade. Salvador não nasceu apenas para ser uma fortaleza ou um centro da Colônia. A superação do Enigma Baiano tem que ser mais do que edificar uma forte indústria ou criar infraestrutura para acomodar grandes eventos. As empresas nacionais e os políticos de esquerda e de direita, mas do que pão e circo poderiam ajudar a protagonizar a refundação da cidade. A cidade precisa de quem goste dela. Na verdade, a cidade precisa de quem goste de quem vive nela. 

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