A cidade da Bahia conhecida como a cidade da fé barroca, das águas imantadas de
prazer, e do sol da negrura da terra, também é conhecida como a cidade do mijo,
dos que não têm lugar onde morar, dos que andam a pé, que não tem passeio
público, que não tem estacionamento, dos jovens que morrem nas periferias, que
se privatiza e se fecha para o restante da população. Salvador é uma cidade
rica e plural, mas a diversidade é hierárquica. Poder e dinheiro mandam por
aqui. Temos dedicados políticos, intelectuais e artistas que se vendem fácil
para os grandes e ricos investidores da cidade.
Um milhão de pessoas andam a pé na cidade. O sistema
habitacional necessita de 100 mil casas. Mais de duas mil pessoas moram nas
ruas. Entretanto, muitos vivem de estatísticas e relatórios sobre a miséria e a
morte dos outros. Continuamos a fechar ruas e prédios e a transformar Salvador
na cidade das Vilas, Residences e Palaces. Nas micro cidades sitiadas. É o fim
da Cidade?
Impõe-se um choque cultural e o estabelecimento de um novo
contrato social entre seus munícipes. Parece difícil para os candidatos que querem
ocupar o poder da cidade enfrentarem os empresários gananciosos do setor
imobiliário, do setor dos transportes, da coleta do lixo e do setor hoteleiro
que mandam na cidade e nem parecem gostar tanto dela assim. O carnaval está
chegando e precisamos saber qual o preço filosófico e civilizatório da
baianidade nagô. Os espigões da orla irão tapar e privatizar a cidade enquanto
pagamos para trafegar na cidade feita para carros.
Com a recente notícia da vinda de 70 bilhões de
investimentos privados para o Estado, fica o desafio de se pensar uma nova cidade.
Salvador não nasceu apenas para ser uma fortaleza ou um centro da Colônia. A
superação do Enigma Baiano tem que ser mais do que edificar uma forte indústria
ou criar infraestrutura para acomodar grandes eventos. As empresas nacionais e
os políticos de esquerda e de direita, mas do que pão e circo poderiam ajudar a
protagonizar a refundação da cidade. A cidade precisa de quem goste dela. Na
verdade, a cidade precisa de quem goste de quem vive nela.
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