segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Repercussão da entrevista de Antonio Risério na Carta Capital: “A Bahia tem a faca e o queijo, mas falta a mão”


Risério: um banho de entrevista na Carta Capital

Inteligente da primeira à última linha de respostas
 (perguntas também), polêmica, além de leitura
indispensável. É tudo isso e muito mais a entrevista
do antropólogo e escritor Antonio Risério à revista
 Carta Capital, no suplemento especial sobre o Nordeste
que a revista publica esta semana . Bahia em Pauta reproduz
 dois momentos da conversa para despertar o apetite
pela leitura da entrevista inteira.(Vitor Hugo Soares)
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CC: É possível identificar alguma mudança na imagem que o
nordestino tem de si mesmo, a sua autoestima mudou?



AR: Sim, isso é muito claro em Pernambuco e no Ceará, mas é visível também em Sergipe, em muitas cidades nordestinas. O curioso é que houve uma inversão: os baianos de Salvador e do Recôncavo, que sempre foram extremamente orgulhosos e narcisistas, hoje andam de cabeça baixa. Enquanto a autoestima dos moradores do Recife, de Fortaleza ou de Aracaju está lá em cima, a dos moradores de Salvador desabou. Na verdade, a Bahia, apesar de sua posição no ranking da economia brasileira, está ficando para trás. Há não muito tempo era ela que se industrializava, montava um polo petroquímico, firmava-se como vanguarda cultural etc. E Pernambuco pouco mais era do que um engenho. O panorama mudou. Penso que o problema central de Jaques Wagner é que, por não ter um projeto claro para a Bahia, ele não sabe o que fazer com a hegemonia que conquistou. Limita-se a tocar obras federais. É por isso que digo que hoje a Bahia tem a faca e o queijo, mas falta a mão. E Salvador é uma cidade abandonada, suja, destruída, com o pior prefeito de sua história. Mas de um modo geral é evidente, para qualquer observador, que a autoestima do nordestino se elevou. E que não foi pouco. Muitos inclusive deixam hoje o Sudeste e voltam para seus lugares de origem, orgulhosos de que estas sejam agora terras de prosperidade e de oportunidades.


CC: O que ocorreu de relevante em termos culturais na região? O que ocorreu na Bahia, em Pernambuco e nos outros estados?


AR: Pernambuco, de uns tempos para cá, vem se convertendo na vanguarda do Nordeste, da arrancada industrial à criação cultural. Basta pensar na música e no cinema. Não dá para comparar axé music e manguebeart. E é interessante porque Chico Science e o manguebeat nascem do tropicalismo baiano. É claro que há o rap, a valorização da percussão a Olodum, a música tradicional nordestina, o rock pesado etc., mas tudo sob o signo maior da Tropicália. A Bahia, ao contrário, estacionou na banalização, na redundância, na autocomplacência desinformada. Axé music é pastel de vento, manguebeat tem substância. De um modo geral, também o novo cinema pernambucano está alguns passos à frente. É o que há de mais interessante no atual cinema nordestino. E em ambos os casos, na música e no cinema, a moçada pernambucana encara de modo direto e crítico a realidade envolvente. Mas penso que a principal virtude pernambucana, nesse processo, é saber preservar suas tradições e ao mesmo tempo inovar. É manter o seu carnaval maravilhoso, seu frevo e seu maracatu, e também alimentar a inquietude estética. Isso é o que mais interessa: a dialética entre a tradição e a invenção.


Leia integra da entrevista de Risério na edição impressa de Carta Capital. Nas Bancas.



Comentários

rosane santana on 5 dezembro, 2011 at 12:05 #
“Penso que o problema central de Jaques Wagner é que, por não ter um projeto claro para a Bahia, ele não sabe o que fazer com a hegemonia que conquistou. Limita-se a tocar obras federais. É por isso que digo que hoje a Bahia tem a faca e o queijo, mas falta a mão.”
Desculpe-me, Risério, mas falta mesmo é a cabeça.
Na área de comunicação e marketing, então, enquanto Pernambuco dá banho, Wagner labuta com o engenheiro elétrico Robson Almeida, que é muito simpático, porém incompetente. E como diz Riachão: Xô xuá, cada macaco no seu galho/Xô xuá, eu não me canso de falar. A falta de projeção do governador, alguém tem dúvida, passa também por aí, mais exatamente aí, eu diria.

Alex Faria on 6 dezembro, 2011 at 9:10 #
Essa falta de identidade é fruto de uma amiga conhecida que a séculos nos acompanha, a CORRUPÇÃO. Se ficarmos passivos, os ativos não existirão. Não atiçarei a irmos para as ruas protestar, não adianta! Não direi para fazermos nossa parte, não adianta! Não clamarei por educação, gentileza, cidadania, organização, não adianta! Pra mim, não adianta nada, descrédito total! Tá na raiz, na cultura, e cada qual olha para seu digníssimo umbigo! “Tsuname” neles!

Rezende on 6 dezembro, 2011 at 20:20 #
A bahia se engasgou com acarajé e katchup!Tudo é muito banal e medíocre.Basta ver quem são os ídolos da terrinha.Um careca que se diz cabeludo cantando merda e uma mídia com jornalistas pagodeiros.E todos apaludindo!Como diziaRaulzito:”Eu queria ter nascido burrro, sofreria menos.”

Carlos Augusto de Souza on 14 dezembro, 2011 at 8:21 #
Como diz um crítico que agora não sei o nome:”Salvador é uma cidade devastada pela alegria”…

Carlos Augusto de Souza on 14 dezembro, 2011 at 8:23 #
E o próprio Risério: “Salvador é uma província com síndrome de elefantíase!”

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