sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Sobre a crônica de Paquito & sobre a cidade de Salvador - Por Fred Maia


Fred Maia 

Assim como o Santos de Pelé, foi o segundo time de todo brasileiro da nossa geração, Salvador se torna a segunda cidade de todo brasileiro que a visita. Salvador não é qualquer cidade, todo mundo sabe, mas parece que os soteropolitanos esqueceram disso. Salvador anda acabrunhada, sem viço, como diria o Paquito no seu texto (ver link). Falta em Salvador uma repaginada que devolva cor aos velhos casarões centenários, agora ofuscados pelo prédios modernosos que ocupam a orla de cabo a rabo, quebrando todo e qualquer código de postura de uma cidade patrimônio. A cidade baixa anda cabisbaixa e o mercado modelo, se queimasse, ninguém faria uma canção de lamento - hoje, aquela região parece um estorvo que demora a ruir de vez, para dar lugar a algo mais edificante, aos olhos da malta endinheirada e sem cultura, que transforma negócio de bugiganga em podres poderes capazes, também na Bahia, de "destruir coisas belas".
Salvador está suja e ninguém respeita nada e ninguém. O espetáculo deprimente da greve da policia, que chocou o Brasil, é reflexo dessa falta de ordem pública. Pude ver nestes dias, um carro preto de luxo estacionado paralelo ao ponto de ônibus do Porto da Barra, exatamente em frente e rente à calçada. Os passageiros tinham que ir ao meio da avenida Oceânica, para pegar o transporte público, se arriscando entre motos, bicicletas e táxis. Não apareceu ninguém para multar aquele imbecil que se julga o dono da rua e mais importante do que os milhares de passeiros do precário transporte público da capital baiana. Uma turista brasileira do Sul/Sudeste, que estava no ponto de ônibus, desencava a cidade e a sua incapacidade de receber visitantes. O preconceito se acentuava na fala dela e eu não podia contradizê-la - a cidade está indefensável. 
Outra coisa deprimente é a ocupação da cidade pelos camarotes que serão vendidos a peso de ouro para foliões endinheirados e "globais" das novelas da vênus incensada do Jardim Botânico. Aquilo me parece um poleiro de frangas de granja - que coisa horrorosa. Como a cidade abandona as suas tradições e a sua gente, para ofertar aquele arremedo de festa comandada por uma Ivete Sangalo fantasiada de out door. Nestes dias que precedem o carnaval não vi os blocos afros, de índios, de sujos. Hoje, tudo parece muito previsível, exceto o Carlinhos Brow, o Gilberto Gil, o Juca Ferreira - que foi para o PT. A Bahia hoje, meus amigos, "tem um jeito" de dar dó. Eu poderia facilmente escrever duas dezenas de páginas sobre Salvador, em qualquer época, mas especialmente no verão. A cidade me marcou profundamente a vida. Em Salvador, reconheci de cara, o Brasil profundo decantado por tantos autores, poetas, historiadores, antropólogos e sociólogos importantes para a formação do nosso pensar e criar. A Salvador de hoje, não passa de uma caricatura da "Cidade da Bahia", que todo brasileiro escolheu como sua segunda cidade e, em muitos casos, como a primeira. Ainda assim, viva a cidade de São Salvador.

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