terça-feira, 1 de maio de 2012

Preconceito - Pará ficou de fora do programa de patrocínios

A cultura paraense sofreu uma perda significativa em 2012. O estado ficou de fora do edital 2011/2012 da telefônica Oi, que há anos vinha apoiando projetos culturais locais. Na verdade, a região Norte inteira passaria em brancas nuvens se não fosse por três projetos, dois deles do Acre e um de Rondônia, do total de 92 aprovados em todo Brasil. No edital anterior, o Pará foi contemplado com o apoio a doze iniciativas, que envolviam desde festivais de cultura tradicional a festivais de dança contemporânea. Sem o patrocínio da empresa, o destino de alguns projetos é imprevisível. “Foi um choque, uma notícia totalmente inesperada. Por que isso aconteceu, não sei responder. Será que alguém sabe?”, alfineta Zienhe Castro, coordenadora do Amazônia Doc, festival de cinema pan-americano apontado como referência continental, mas que amarga a falta de verba para seguir em frente. “O futuro é incerto. Estamos guardando o projeto na gaveta. A ausência de apoio e de reconhecimento da importância do projeto para o nosso estado tira toda e qualquer vontade de seguir adiante”, desabafa a cineasta e produtora cultural.
Tamanho desânimo não é à toa. O imbróglio começou ainda ano passado quando, apesar de aprovado pela Oi, o Amazônia Doc, já em sua terceira edição, não conseguiu receber o patrocínio. O processo começou em maio de 2011, mas uma sequência de erros e desentendimentos impediu o repasse dos recursos. “Ocorreram problemas de documentação da Oi e, em seguida, uma limitação nos recursos disponíveis oriundos da renúncia fiscal do estado”, relata Zienhe. No final das contas, o festival ficou de fora, e a coordenação do evento só foi comunicada às vésperas da abertura do evento. “Estava tudo pronto, todos os cineastas convidados fechados. Foi muito constrangedor. Tivemos que desconvidar muitas pessoas e cancelar parte da programação”. 

Empresa nega influência geográfica

Apoiado desde sua primeira edição pela telefônica, via Lei Semear, apesar dos pesares, o projeto registra uma média de seis mil espectadores por ano e alcançou reconhecimento internacional. “Fui convidada no ano passado para integrar uma comissão internacional de cineastas da América Latina e Caribe para falar do Amazônia Doc. O festival foi citado como um exemplo a ser seguido, pelo recorte e pelo conceito. Também fomos convidados a escrever um artigo para o jornal El País, sobre o cinema na Amazônia e sobre o festival”, relata Zienhe a respeito do único festival de cinema brasileiro que propõe um diálogo com as cinematografias de países vizinhos.

Bastidores

O que apimenta ainda mais a compreensão da intrigante mudança de postura da Oi quanto ao apoio cultural na região é a contrariedade em relação ao anúncio feito na reunião de oficialização do edital 2010. Na ocasião, a empresa declarou que, além de manter o edital em 2012, ampliaria o apoio para o interior do estado. “O que de fato ocorreu foi uma redução de 50% de investimento em todo Brasil”, afirma, em anonimato, um dos produtores paraenses prejudicados. Como não podia ser diferente, as razões para a retirada do patrocínio cultural da Oi no Pará são especuladas nos bastidores. Entre as hipóteses, a de que a intenção da operadora era dar prioridade às praças onde fosse líder de mercado. Isso explicaria o destaque para o Rio de Janeiro, que aprovou 42 projetos, e Minas Gerais, com 22. Outro quesito que teria pesado na balança foi o mal desempenho de alguns projetos aprovados no ano passado. Apenas hipóteses.

Procurada pelo VOCÊ, a Oi se pronunciou via email. Sem responder a nenhuma das perguntas diretamente, o texto afirmava que os projetos escolhidos seguiram critérios que levaram em conta aspectos como a capacidade de formação de novas plateias, a criação de novas oportunidades de trabalho e de formação de artistas. “A seleção dos projetos é realizada por banca de especialistas, independentemente de sua origem geográfica, levando em conta o mérito técnico e artístico do projeto e os seguintes critérios: clareza e objetividade na apresentação do projeto; compatibilidade entre proposta e orçamento; compatibilidade entre proposta e tempo de execução; alinhamento às diretrizes do programa; capacidade e viabilidade técnica, financeira e operacional”, explica o email assinado por Úrsula Ferro, comunicação coorporativa da empresa. Será que nenhum projeto do Pará conseguiu satisfazer os pré-requisitos?

‘Isso ainda pode mudar’, diz secretário da Lei Semear

Para Marcos Quinan, secretário executivo da Lei Semear, na verdade, se trata de muito barulho por nada. “A Oi não tirou o patrocínio do Pará. Ela não selecionou nenhum projeto do Pará até agora, mas isso pode mudar. Estamos no início do ano, época de ano fiscal. Eles estão fechando contas do ano anterior. Então é normal que a aprovação de projeto seja menor. A gente não sabe se daqui para o final do ano a Oi vai apoiar algum projeto local”.

No bojo de iniciativas que perderam o apoio, a exemplo do Amazônia Doc, de importância inegável, eventos como o Fida, Festival Internacional de Dança da Amazônia, com uma tradição de 19 anos. Coordenado por Ana Clara Pinto, renomada bailarina paraense, o evento é realizado em diversos pontos da cidade, e ano passado trouxe cerca de 70 convidados de todo país, entre eles, Ana Botafogo e Carlinhos de Jesus. Com um público estimado em cinco mil pessoas, o evento apresentou mais de 60 grupos de dança de diversos estados e do interior do Pará, que subiram aos palcos de praças públicas e teatros durante os seis dias de festival. “O festival propõe a inclusão social e formação de novas plateias para fortalecer a dança no estado, já que é realizado com entrada franca. Além disso, focamos o desenvolvimento técnico dos bailarinos paraenses, que têm a oportunidade de interagir com profissionais de fora”, diz Clara Pinto, que prefere não polemizar, e diz que já busca alternativas para garantir a continuidade do evento. “Agora temos a expectativa de que o governo do estado nos apoie. Estou muito confiante de que iremos conseguir realizar o festival este ano”.

E o Festival de Carimbó de Marapanim também dançou...

Outro caso é o Festival de Marapanim, que alçou a cidade ao título de capital mundial do carimbó. O evento fomenta a cultura local e reúne grupos de dança folclórica do interior do estado, além de movimentar o turismo da cidade localizada no nordeste paraense. Segundo Ranilson Trindade, nome a frente do festival realizado desde 2004, mais de 30 mil pessoas passam por Marapanim durante os três dias de festa. Apesar do sucesso, por pouco o festival escapou de ir por água abaixo ano passado. Realizado tradicionalmente no mês de novembro, o evento sofreu a compulsória mudança de data por conta de entraves com a Lei Semear, que em 2011 abriu edital apenas no começo de dezembro. “A Oi não podia repassar o recurso enquanto a Semear não aprovasse o festival. Isso foi resolvido só no final do ano e perdemos o patrocínio”, relembra Trindade.

Descontentamentos e polêmicas a parte, o tom agora é de otimismo. Com o patrocínio privado fora do jogo, o Governo do Estado, via Fundação Tancredo Neves, viabilizou a realização do festival. “O governo patrocinar integralmente o projeto foi uma vitória. É uma prova de que reconhece a força do interior”, diz Ranilson Trindade, que garante a próxima edição para os dias 15, 16 e 17 de novembro. “Já estamos com o projeto aprovado e agora é correr atrás de patrocínio”. Infelizmente, nem todos os projetos tiveram a mesma sorte.

SAIBA MAIS

Ano passado, no edital 2010, a Oi aprovou 12 projetos paraenses, entre eles, Fida, Noites com Sol, Festival de Marapanim e Amazônia Doc.

No mesmo ano, o Festival de Marapanim e Amazônia Doc, apesar de aprovados, não conseguem receber o repasse de verba para a realização dos eventos. O governo do Estado patrocina integralmente o festival de carimbó, mas o Amazônia Doc amarga, até hoje, dívidas deixadas pela edição do ano passado.

Em fevereiro de 2012, a Oi divulga a lista de contemplados no edital 2011/2012. Nenhum projeto do Pará foi aprovado, e apenas três, de toda região Norte, esteviveram entre os eleitos: dois do Acre e um de Rondônia, do total de 92 projetos em todo país.

Segundo a operadora, a escolha dos projetos segue critérios elaborados por uma banca especializada, que não leva em conta questões geográficas, mas aspectos como a formação de novas plateias, a criação de novas oportunidades de trabalho e de formação de artistas. Será que nenhum projeto paraense conseguiu se encaixar nos requisitos? Fonte: Diário do Pará



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