quarta-feira, 29 de maio de 2013

RUíNAS ROMANAS - Claudio Willer


Quantos poetas
já não estiveram aqui
quantos poetas
já não escreveram
sobre a ofuscante aniquilação
diante desses dramáticos perfis minerais
tão próximos da pedra original
do barro anterior à forma
coisas
reduzidas a não mais que montanhas
quase natureza
coisa
na fronteira da mão que trabalha, do vento, da água
aqui
ecoa a ensandecida voz do oco, do cavo, da fresta
- silêncio matizado de sussurros
e agora
eu também sou um dos que enxergam
o informe
o monstruoso passado
- foram os escultores do avesso
que reduziram a isso
os autores
do cruel teorema
que nos condena ao presente
e repete
que nada sabemos, nada vale a pena
pois passado e futuro só existem
como passo para a informe eternidade
- a custo divisamos lá fora
a realidade logo ali, logo aqui:
outro lugar
onde existiremos menos ainda
nós
é que somos os fantasmas
e a solidez
é o que está aí,
nas ruínas
que não param de repetir
que isto

- NADA _
é tudo que temos





WILLER, Claudio. “RUíNAS ROMANAS”. In: Estranhas Experiências e outros poemas. Apresentação do Aiutor. Rio de Janeiro: Lamparina

Via http://vidraguas.com.br

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