sexta-feira, 16 de agosto de 2013

A volta dos três mosqueteiros - por Carlos Chagas

Desalinhados com a base e com o próprio governo existem alguns senadores do PMDB, PDT e até do PT, mas três deles mantém permanente postura crítica que faz supor nem tudo estar perdido no Senado. Só não recebem o rótulo de três mosqueteiros porque na verdade são quatro, ainda que esta semana sobressaíssem Roberto Requião, Jarbas Vasconcelos e Cristóvam Buarque. Pedro Simon ficou recolhido, certamente junto aos Franciscanos, aos quais pertence.

Foi significativa a presença dos três primeiros referidos no plenário, terça-feira no fim da tarde, em especial porque sabendo que ocupariam a tribuna, escafederam-se os governistas. Perceberam a inocuidade de seus argumentos diante de críticas contundentes previstas anteriormente. Já os oposicionistas, talvez por inveja, também não apareceram.

Perderam todos, oposicionistas e governistas, lucrando apenas quantos puderam assistir a sessão pela TV Senado. Aliás, a primeira farpa acionada pelos três mosqueteiros referiu-se à esdrúxula decisão da mesa da casa, de só alta madrugada autorizar a apresentação do vídeo-tape das sessões vespertinas. Certamente para o menor número possível de telespectadores poderem assistir. Até a semana passada essa retransmissão acontecia às 20.30, com alto índice de audiência.

Mas foram além as análises de Requião, o primeiro a discursar. Ele anunciou o despreparo do governo Dilma, que continua apoiando, em enfrentar a crise atual. Falou as ameaças que assolam a administração federal, começando pela política cambial: de nada adiantam nossas reservas de 350 bilhões de dólares, tendo em vista a diminuição das exportações brasileiras, tanto de manufaturados quanto de produtos primários. Para atrair investimentos, estamos estimulado a especulação. Países da Europa, assim como Estados Unidos e Japão nos impõem armadilhas, enquanto festejamos a queda da inflação aumenta nosso déficit comercial e crescem os lucros das multinacionais, bem como suas remessas de lucros.

Somos, continuou Requião, um David sem funda diante de Golias, e logo ficaremos sem fundos. A América do Sul precisaria unir-se para agir em conjunto e enfrentar o declínio de sua indústria. Sons e murmúrios ouvidos na Esplanada dos Ministérios de nada adiantam. O governo entrega-se a uma falsa euforia e a resposta do Senado é o silêncio, ou seja, a omissão. Pouco adiantou a popularidade da presidente Dilma ter subido 5 pontos quanto tinha caído 26.

O ex-governador do Paraná lembrou a história do menino que foi avisar aos pais que a horta da família havia sido devastada, não sobrando um pé de alface ou um tomateiro, mas no fim mostrou-se otimista: “ganhamos um cabrito…”

Jarbas Vasconcelos foi o orador seguinte, denunciando que a agenda positiva anunciada pelo presidente do Senado, era uma simples lorota, coisa para enganar, constituindo-se em simples ajustes, jamais mudanças. Disse haver apresentado em 2007 proposta de emenda constitucional para a extinção das coligações partidárias nas eleições proporcionais, responsável por eleger deputados com menos votos do que outros, derrotados. Vota-se em João e elege-se Manoel. Renan Calheiros e antes, José Sarney, engavetaram a sugestão, que agora renasce como de iniciativa deles. Sentiu-se sabotado, pois a proposta mais antiga deveria ter tido precedência. Mesmo assim, nada entrou na ordem do dia, demonstrando ser a agenda positiva uma farsa, porque interesses escusos movem boa parte da base do governo. Não querem, por exemplo, acabar com os partidos de aluguel. De nada adianta votarem o orçamento impositivo se não acabarem com as coligações que permitem a venda de emendas. As verdadeiras reformas não saem do papel, ficam no bla-bla-bla, enganando o povo. Outra enganação será acabar com o foro privilegiado para julgamento de parlamentares, tornando-se muito fácil pressionar juízes de primeira instância do que ministros do Supremo Tribunal Federal.

Cristóvam Buarque encerrou a tríade ao acentuar que a euforia do governo é mais uma grande ameaça. Confirmou que a redução da inflação configura retração na economia interna, dizendo que o país necessita de mudança de rumo, não de simples ajustes. Criticou a oposição, que não apresenta propostas alternativas, e a presidente Dilma, que prefere elogios. Acusou o governo e o Congresso de estarem enganando o povo, usando as manifestações de protesto para não fazer as reformas necessárias, retirando o poder do povo.

O ex-governador de Brasília denunciou que a sugestão de se reduzir o tempo das campanhas eleitorais será favorecer os que já exercem mandatos. Os líderes dos partidos desejam tornar-se vitalícios, não entendem o que se passa nas ruas. Verberou os gastos dos governos Lula e Dilma em publicidade, já que nem 10% do total de 3,5 bilhões foram investidos na criação de creches: em vez das 1.700 prometidas pela presidente da República, apenas 50 foram construídas. Também se manifestou contra a mudança nos horários de retransmissão das sessões do Senado, sugerindo que a mesa estimula os discursos-secretos, para que o povo não saiba o que está sendo denunciado.

O singular nesses três pronunciamentos é que foram ouvidos pelos próprios oradores e mais dois colegas. Nos telejornais daquela noite, nada. Como nos jornais de ontem também. De qualquer forma, os três mosqueteiros continuam peleando e anunciam para ainda esta semana a palavra do quarto, Pedro Simon.


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