segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Notícias de um condenado, por Cacá Diegues

Cacá Diegues

Graças a um secretário de estado com consciência social e o sentimento do mundo, o Rio de Janeiro adotou uma política de segurança pública com a ocupação permanente das favelas por tropas de policiais militares preparados para isso.

José Mariano Beltrame inventou as Unidades de Polícia Pacificadora, as UPPs, que já ocupam dezenas de comunidades cariocas das quais foram afastados os traficantes de drogas com suas armas de guerra.

Às UPPs devemos a contenção do crime organizado, a queda do número de homicídios nas favelas e o início de um exercício possível de cidadania por parte de sua população.
Bem antes dessa mudança, uma nova geração de moradores tomara consciência de que a favela não era o problema da cidade e sim o contrário — a cidade é que era o problema da favela. E começou a se manifestar em defesa de seus direitos e valores cidadãos, exigindo do estado saúde, educação, saneamento, emprego, segurança, cultura, enquanto prestava serviços diversos às suas comunidades.

Organismos coletivos foram se organizando ao longo das últimas décadas, a maioria se impondo pela produção cultural poderosa que sempre acaba contaminando o asfalto com sua arte e seu comportamento originais.

Ao longo do tempo, acompanhei de perto algumas dessas organizações, quatro delas foram parceiras decisivas para a produção do filme “5XFavela, agora por nós mesmos”. Cada uma delas faz hoje sua travessia do abandono à afirmação cidadã.

Uma das mais antigas, a Cufa (Central Única de Favelas), surgiu na Cidade de Deus com atividades culturais. Celso Athayde, seu fundador, se ocupa hoje em montar uma holding de investimentos nas comunidades, incentivando seus moradores a se tornarem empreendedores.

Ele identificou uma área de economia de favela que chamou de “Setor F”, um projeto de afirmação social, política e cultural, criando condições para que todos sejam, não apenas consumidores, mas também produtores dos bens que consomem.

“A favela não é só um lugar de carências”, diz Celso Athayde, “mas deve ser também um lugar de oportunidades”. Para isso, monta um instrumento de ação para incrementar essa “economia social compartilhada”.

O Observatório de Favelas, no Complexo da Maré, área ainda não beneficiada por UPP, luta contra a violência simultânea do tráfico e da polícia. Em busca de traficantes, a PM invade sistematicamente as ruas e as casas da Maré e, sem distinguir o bandido do morador, acaba por criminalizar as associações locais.

Cacá Diegues é cineasta.

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