Não, ele não deixou nenhum documento escrito dizendo: “Mãezona (ai que saudade de ouvi-lo me chamando assim!)... Quando eu morrer, quero doar meus órgãos”. Mas em vida, na plenitude de suas vivências e escolhas, ele (João Luiz) era doador voluntário regular de sangue, doador de medula óssea e em suas conversas, sempre foi favorável a doação de órgãos.
Essa atitude de João Luiz, em vida, deu a cada um de nós (seu pai, seus irmãos e eu que somos o núcleo familiar e responsável pela doação) a tranquilidade dessa escolha; a escolha pela autorização da doação. Porque é preciso a gente não esquecer de que a doação dos órgãos e tecidos somente acontece com a autorização expressa da família.
Entre o acidente (14/04/13) que vitimou João Luiz e o recebimento do termo de declaração de morte encefálica (16/04/13) que é o atestado do óbito, foram quarenta e oito horas. Pode parecer pouco tempo, mas a sensação é de que foram muitos dias. Uma eternidade!
Tivemos nesse breve tempo, de longos dias, um curso intensivo sobre morte encefálica. Pois a opção pela doação só faz sentido é possível, depois de que a gente entende e toma consciência do que realmente é a morte encefálica.
Nessas quarenta e oito horas, ligávamos para Chris Handere, uma prima que é médica, quase de hora em hora. Foi nosso suporte ‘full time’; abusamos da boa vontade do médico neurologista Leomar (via Abilliany e Dinah que tinham um maior contato com ele) que carinhosa e pacientemente, explicava e explicava a real situação do nosso querido João; lá na UTI do Sobrasa, perguntávamos muuuito aos médicos intensivistas Alex, Alexandre e Giovani sobre o “tal” protocolo e seus desdobramentos. Cada palavra, dita e pensada, naqueles boletins (alguns até extraordinários) trazia uma carga de sentimento que nem sempre conseguíamos digerir em sua totalidade. Confesso que esses diálogos foram difíceis para nós e para eles, também; devoramos cada letra, cada palavra, cada artigo no site do Ministério da Saúde, que explicava sobre Doação de Órgãos e Tecidos e por fim, efetivamente, conversamos com o pessoal do GAD (Grupo de Apoio a Doação de Órgãos) através dos médicos Humberto Novais e Eraldo Moura e da enfermeira Paula Farias.
E foi aí, nessa “eternidade efêmera”, que tivemos a possibilidade de experimentar uma vivência de fé. Acreditar no milagre que nós queríamos (ter João Luiz, nesta dimensão, vivo e sem sequelas) sem deixar de ter a clareza de que, talvez, para a vida de João Luiz Deus havia providenciado outro milagre: trazer vida a vida de outras pessoas. Citando Clarice Lispector (ah, gente eu tinha que enfiar uma poesia aqui, né?) “mas se eu esperar compreender para aceitar as coisas - nunca o ato de entrega se fará. Tenho que dar o mergulho de uma só vez, mergulho que abrange a compreensão e, sobretudo, a incompreensão”. Escolher por doar os órgãos e tecido de João Luiz não foi uma decisão fácil, mas foi uma decisão que, para cada um da família, trouxe conforto e paz!
De acordo com dados atualizados em 14/08/13 os números da lista de espera aqui na Bahia são estes:
Órgão Pacientes
CÓRNEA 788
FÍGADO 53
RIM 1110
“Não pense na doação de órgãos como oferecer uma parte de você para que um desconhecido possa viver. Na realidade é um desconhecido que oferece seu corpo para que, parte de você, continue vivendo”. É por ai...
O mês de setembro é considerado o mês do doador e no dia 27 é comemorado o Dia Nacional da Doação de Órgãos. Reproduzindo o texto de uma das campanhas... "A vida é feita de conversas. Basta uma para salvar vidas. Para ser um doador, converse com sua família".
Beijo, sentimentos e boas conversas.
Tina Maria Figueiredo
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