FELIPE BÄCHTOLD
DE PORTO ALEGRE
Uma rua inteira na região central de Porto Alegre será desapropriada pelo governo federal para a criação de um quilombo urbano.
A área, hoje do Estado e da prefeitura, fica em um bairro da capital gaúcha onde o m² chega a R$ 6.000. Está cercada por condomínios e locais movimentados, como prédios públicos e um shopping.
Segundo laudo antropológico do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, lá vivem descendentes de escravos de uma baronesa dona do terreno no século 19.
Serão 67 famílias beneficiadas. O futuro quilombo, chamada de Areal, é uma rua estreita, sem saída, de cem metros de extensão. Tem casas simples que destoam do padrão da vizinhança. Parte delas ostenta fachadas antigas.
Se a demarcação for concretizada, a posse do terreno será transferida para uma associação de moradores autodeclarados quilombolas --o título, coletivo, não poderá ser vendido. Contestações podem ser feitas até outubro.
De acordo com a associação, duas das 67 famílias descendem de escravos que ocuparam a rua. Os demais se mudaram para lá ao longo do século passado. Há moradores brancos contemplados.
Os antropólogos responsáveis pelo laudo apontam uma identidade própria da comunidade --como culto de religiões de matriz africana e uma escola de samba mirim.
"Uma comunidade quilombola pode abrigar pessoas com laços de parentesco, afinidade, compadrio. Isso independe da origem", afirma o coordenador de projetos do Incra-RS, José Tagliapietra.
R$ 500 MIL
A poucas quadras do futuro quilombo, o preço médio de um imóvel supera R$ 500 mil. A boa localização mobilizou moradores em prol da demarcação, no começo dos anos 2000.
Nem todos, porém, estão plenamente satisfeitos com a novidade. A aposentada Helena Maciel mora com o filho em um sobrado simples na rua e não quis se vincular à entidade que terá posse do terreno. "Queria a liberdade de vender ou alugar a casa. Não ter direito não é justo."
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br
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