© David Jay, Scar Project |
Onde mora a beleza feminina? Há beleza na dor? Quem sabe as respostas possam ser encontradas nos ensaios fotográficos que David Jay faz para o SCAR Project. Um projeto que mostra que o câncer de mama exige mais seriedade que uma fita rosa e que o encanto feminino é superior ao sofrimento.
Todo dia ela faz tudo sempre igual. O despertador toca, ela acorda preguiçosamente desarrumada e corre para o banheiro, toma um banho com o sabonete líquido que promete uma pele aveludada, lava o cabelo com o shampoo que reconstrói o que a coloração da moda destruiu, substitui o café da manhã que estava acostumada a tomar na casa de sua mãe por um iogurte que promete deixá-la mais leve, a roupa deve dar a impressão de que ela acorda linda e a maquiagem deve esconder as olheiras causadas pelas noites em busca do príncipe encantado. O cotidiano da música de Chico Buarque é belíssimo. O nosso, nem tanto assim.
David Jay é um fotógrafo que está acostumado a conviver com a feminilidade. Fotógrafo de moda há 15 anos, ele convive diariamente com questões que permeiam o universo da beleza feminina: a busca pelo corpo perfeito, a ditadura da magreza, a efemeridade com que a moda trabalha, enfim, todas essas barreiras pelas quais as mulheres devem passar ao nascer de cada dia.
Mas o projeto de sua autoria que mais chama a atenção nada tem a ver com o mundo da moda, apesar de estar completamente ligado à vida feminina. No SCAR Project nos é apresentada outra visão da beleza feminina: sem idealizações, sem as construções materiais que a moda implica, sem a urgência que nos é imposta.
© David Jay, Scar Project.
O primeiro contato com as fotografias do projeto pode causar várias reações; haverá aqueles se que se revoltam e argumentam que não há beleza na dor, que isso é exploração. Mas há que se dar a chance de as imagens falarem mais do que o superficial. Há, sim, beleza na dor, mas não a beleza massificada de todos os dias: há o encanto inerente à condição humana, na sua total fragilidade.
Tudo começou quando Jay viu uma amiga de apenas 29 anos ter que passar por uma cirurgia mastectômica, que consiste em retirar completamente a mama e é um dos possíveis tratamentos para o câncer. Segundo David, essa foi a maneira que ele encontrou de confrontar e aceitar a situação. Daí em diante, várias mulheres foram fotografadas pelas suas lentes.
© David Jay, Scar Project.
De acordo com o fotógrafo, o objetivo do projeto é o mesmo de outras campanhas: o de alertar mulheres para o perigo do câncer de mama. Porém, são dois os grandes diferenciais: o primeiro é o público alvo, que é o de mulheres jovens; o segundo é a honestidade com que ele procura mostrar a doença.
Para Jay, as campanhas de combate ao câncer acabam não alertando para o real perigo, escondidas atrás de laços rosa e propagandas “fofas”. Seu objetivo vem na contramão dessa ideia, nas suas palavras: “Eu não vou mostrar apenas metade da história - que tudo vai ficar bem e essas meninas têm câncer de mama, mas irão continuar com suas vidas - porque esse não é o caso. Eu gostaria que fosse o caso, mas a realidade é que algumas dessas meninas estão morrendo e é importante ter a sua história, mas também porque essa é a realidade da doença.”
Ele ainda argumenta que em uma análise mais demorada é possível perceber que as imagens não são estritamente sobre o câncer de mama, mas sim sobre autoaceitação, compaixão, amor e humanidade. O fotógrafo complementa: “Trata-se de aceitar tudo que a vida nos oferece... toda a beleza... todo o sofrimento também... com graça, coragem, empatia e compreensão. "
Dizem que a mulher é o sexo frágil. Mas que mentira absurda! Sábias palavras, Erasmo!
© David Jay, Scar Project.
© David Jay, Scar Project.
© David Jay, Scar Project.
© David Jay, Scar Project.
© David Jay, Scar Project.
© David Jay, Scar Project.
© David Jay, Scar Project.
© David Jay, Scar Project.
© David Jay, Scar Project.
© David Jay, Scar Project.
© David Jay, Scar Project.
© David Jay, Scar Project.
Fonte: Obvious
2 comentários:
Divino. Maravilhoso. Real.
Achei simplesmente maravilhoso! Essa é a verdade! Que as fitas sejam mostradas com fotos!
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