terça-feira, 4 de março de 2014

Bahia de todos os nós - por Antonio Risério


A realidade baiana nos entristece a cada passo. O índice de desemprego em Salvador é o maior entre as capitais brasileiras. E os números do Bolsa Família, na Bahia, são escandalosos. Para o governo estadual, um atestado de incompetência. Para os baianos, sinônimo de atraso e motivo de vergonha. Enquanto Dilma Rousseff e seus colegas fazem farras com dinheiro público dentro e fora do país, 43% da população baiana estão cadastrados no famigerado programa. Nada menos que 1.8 milhão de famílias, somando cerca de 6.5 milhões de pessoas. É gente demais na miséria. Gente demais de pires na mão. E o número aumenta a cada ano, sem que nossos governantes demonstrem disposição e capacidade para enfrentar a questão.

Entrevistados, alguns ilustres economistas locais fazem comentários sobre esse quadro de subcidadania. E, quando não se limitam a emitir banalidades, eles apenas deliram. Um deles, por exemplo, diz que as coisas vão mudar nas próximas gerações, quando os filhos dos beneficiários atuais do Bolsa Família, tendo acesso à educação, poderão ingressar galhardamente no mercado de trabalho. Quem diz uma baboseira dessas quer nos enganar - ou se autoenganar. Acesso à educação? Qual? Só se for à mesma que tiveram os preparadíssimos sindicalistas que hoje mandam e desmandam no governo local.

Porque é o seguinte. No pé em que as coisas estão, nenhum desses filhos das famílias penduradas no programa vai ter educação (qualificação) para ingressar em boas condições no mercado de trabalho. Pelo simples motivo de que nosso ensino público - em todo o estado, mas, principalmente, nas regiões mais pobres - não prepara ninguém para nada. É um ensino de merda. Afora isso, minha vontade é dizer o seguinte ao doutor que deu a declaração: pegue os 60 ou 70 reais do Bolsa Família e tente matricular sua filha num bom curso de informática ou de inglês, por exemplo. Não vamos pensar que peneira foi feita para tapar o sol. Pelo andar da carruagem, os pobres e miseráveis da Bahia se encontram sem perspectiva alguma. Estão aprisionados no círculo de ferro da subcidadania, da existência infra-humana.

Os que fazem parte do governo seguem repetindo: é preciso capacitar as pessoas, qualificar a mão de obra. Se é assim, por que não fazem isso? Por que não metem a mão na massa e apostam fundo na inteligência popular? Por que não investem de fato nas pessoas? Porque, até prova em contrário, falam da boca para fora. Mais fazem o teatro da inclusão do que realmente a promovem. E não adianta ficar fazendo campanha publicitária para dizer o contrário. É propaganda enganosa. Quando ouço a conversa fiada de que a Bahia é "de todos nós", penso comigo mesmo: sim, é de todos nós, mas continua sendo mais de alguns do que de outros.

Nossos governantes são engraçados. E parece que pensam que somos todos cegos ou burros. Diante dos números do Bolsa Família na Bahia, a titular de um desses ministérios inúteis que hoje enfeitam o governo se justifica dizendo que nossos problemas são antigos. Quando questionam Sérgio Cabral sobre as enchentes devastando casas e vidas no Rio, ele diz a mesma coisa. Aqui na Bahia, o papo não é outro. Ora, sejamos sérios: quem está no governo há dez anos, não pode mais usar essa desculpa esfarrapada. Se não fez o que deveria ter feito (e teve tempo de sobra para fazer), não jogue a culpa no passado, em seus antecessores no posto, que isso é indecente. Se Wagner tem hoje alguma "herança maldita", a herança é dele mesmo.

E desconfio que, se for pelo governo, a pobreza vai se perpetuar. Outro dia, o economista Eduardo Giannetti foi ao grão da questão. Disse que vai ser muito difícil derrotar Dilma Rousseff eleitoralmente, pelo simples fato de que ela está montada em 40 milhões de contracheques. A observação vale para a Bahia. A pobreza interessa a quem está no governo e quer se manter no poder, pelo que significa de desinformação e dependência. Hoje, o curral eleitoral não é mais geográfico. Pulverizou-se, preso agora às rédeas ou coleiras da mesada assistencialista.

Antonio Risério é escritor


Fonte: UOL

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