quinta-feira, 3 de abril de 2014

'Confiem no povo da Venezuela', diz deputada opositora

A deputada venezuelana Maria Corina Machado participa de audiência pública para debater a crise política na Venezuela, na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado (Ueslei Marcelino/Reuters)
María Corina Machado, uma das principais vozes da oposição a Nicolás Maduro, participou de audiência pública no Senado, em Brasília

A deputada María Corina Machado, uma das líderes da oposição na Venezuela, visitou Brasília nesta quarta-feira e reclamou da indiferença do governo brasileiro diante da repressão aos manifestantes que desde fevereiro vão às ruas contra o presidente Nicolás Maduro. Em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores do Senado, relatou as agressões que sofreu, ouviu manifestantes gritarem contra sua presença no Parlamento e pediu um voto de confiança ao povo venezuelano. Para ela, o país "despertou" e sua transformação é algo "irreversível".

Milhares de manifestantes participam de um protesto convocado pelo líder da oposição venezuelana Leopoldo Lopez, em Caracas - (18/02/2014) - Miguel Gutierrez/EFE
“Tenham confiança no povo da Venezuela. Essa é a lição dos últimos dois meses. Muitos diziam que a Venezuela estava resignada, paralisada. Mas um chamado à consciência e aos corações por parte dos estudantes despertou o país e esse é um processo irreversível que vai transformá-lo”, disse a opositora. 

María Corina denunciou a repressão de um “regime sem escrúpulos” em seu país, dizendo que “quando a uma sociedade se fecham as vias institucionais, as pessoas têm duas opções: ou hesitam ou vão às ruas pacificamente lutar pela liberdade”. Ela exibiu aos senadores um vídeo com cenas da repressão aos protestos e contou que sua família está aterrorizada diante das agressões que ela própria sofreu. “Sofri agressões físicas dentro do Parlamento e nas ruas. É uma estratégia do poder público para me aniquilar. Tentaram pela força, com a agressão psicológica e agora pela via criminal. Creio que é uma confissão que põe em evidência ao mundo inteiro o caráter ditatorial da Venezuela”.

Homem enfrenta a Guarda Nacional Bolivariana durante protesto na Venezuela, nesta quinta-feira (27) - Miguel Gutiérrez/EFE
A venezuelana disse ainda que audiências como essa de que estava participando é algo “impensável” em seu país. “Não há liberdade de expressão. Como pode se chamar de Constituição algo que persegue, censura e tortura a população?”, disse. Para María Corina, na Venezuela não há um conflito ideológico entre esquerda e direita, mas um conflito entre “a ditadura e a democracia, entre a Justiça e os atropelos, entre um regime opressor e um povo que clama por liberdade”. 

Estudantes venezuelanos caminham em meio a bombas de gás lacrimogêneo disparadas pela polícia durante um protesto contra o governo do presidente Nicolás Maduro, em Caracas - (12/03/2014) - Leo Ramirez/AFP
Silêncio conivente – Logo ao desembarcar na capital, a opositora falou sobre o silêncio do governo brasileiro diante da repressão aos protestos no país vizinho, e disse que "o tempo para a indiferença já passou". "O regime do senhor Maduro nessas últimas semanas ultrapassou uma linha vermelha”, disse. “Na Venezuela, não há democracia. Há um regime que atua como uma ditadura e por isso não há espaço para a indiferença. Porque a indiferença seria a cumplicidade".

Já no Senado, ela classificou de “incompreensível” a postura de muitos países, “que foram tão ativos nos casos de Honduras e Paraguai e dão as costas à Venezuela”. Nos dois casos citados pela opositora, o Brasil teve uma postura ativa: condenou a deposição do presidente hondurenho Manuel Zelaya – que rasgou a Constituição de seu país para dar um golpe – e suspendeu o Paraguai do Mercosul depois do impeachment de Fernando Lugo (que respeitou a Constituição), em uma manobra para incluir a Venezuela no bloco, já que o Paraguai era o único país ainda contrário à entrada do novo membro. Diante das barbaridades cometidas contra opositores na Venezuela, o Brasil opta por apoiar o Estado repressor. 

Já no Senado, ela classificou de “incompreensível” a postura de muitos países, “que foram tão ativos nos casos de Honduras e Paraguai e dão as costas à Venezuela”. Nos dois casos citados pela opositora, o Brasil teve uma postura ativa: condenou a deposição do presidente hondurenho Manuel Zelaya – que rasgou a Constituição de seu país para dar um golpe – e suspendeu o Paraguai do Mercosul depois do impeachment de Fernando Lugo (que respeitou a Constituição), em uma manobra para incluir a Venezuela no bloco, já que o Paraguai era o único país ainda contrário à entrada do novo membro. Diante das barbaridades cometidas contra opositores na Venezuela, o Brasil opta por apoiar o Estado repressor. 

Mandato cassado – O governo Maduro endureceu a repressão contra os estudantes e também contra opositores como María Corina, que teve seu mandato cassado na última semana sob a alegação de que teria ferido a Constituição ao aceitar usar o espaço do Panamá na Organização dos Estados Americanos para falar sobre a crise em seu país. O depoimento foi silenciado pela maioria dos países membros da entidade, incluindo o Brasil. O Supremo Tribunal de Justiça, sob influência do chavismo, manteve a cassação. 

A deputada, uma das mais votadas da Venezuela, rejeita a decisão. Ela destacou que chegou ao Brasil “mais deputada do que nunca”, pois esse cargo lhe foi dado pelo povo, “e só o povo” pode tirá-lo. O convite para falar no Senado foi feito na semana passada pelo presidente da Comissão de Relações Exteriores, senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES). Os dois se encontraram em Lima, no Peru, e o peemedebista disse ter ficado “muito chocado" com o que ouviu da opositora venezuelana. A convidada foi recebida na comissão sob gritos de “golpista” por um pequeno grupo que usou o mesmo termo que Maduro emprega contra os protestos da oposição. Na verdade, o que motiva as manifestações diárias em várias cidades venezuelanas são as políticas de Maduro, que contribuíram para afundar ainda mais a economia venezuelana, aumentar a insegurança e apertar o cerco contra a liberdade de expressão e de imprensa. 

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(Com agência EFE e Estadão Conteúdo)







Fonte: Veja

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