quinta-feira, 29 de maio de 2014

Por que a Copa do Mundo não contribui com a imagem positiva do país nem aqui dentro, nem lá fora?

Artigo publicado no Jornal A Tarde e Terra Magazine
Qui , 08/05/2014 às 11:42 | Atualizado em: 08/05/2014 às 11:49

Pensar o novo!

João Silva | Publicitário, diretor da Maria Comunicação
Cau Gomez | Editoria de Arte | A TARDE


Por que a Copa do Mundo não contribui com a imagem positiva do país nem aqui dentro, nem lá fora?

Normalmente, eventos como Copa do Mundo e Olimpíadas, se bem conduzidos, elevam a autoestima da população, servem como poderosa ferramenta de marketing para que os países sede possam difundir suas culturas, atrair investimentos e fortalecer seus negócios; contribuir para o seu desenvolvimento e riqueza, enfim, além de gerar dividendos políticos para seus governantes.

No entanto, o clima anticopa que toma conta de todo o Brasil, aliado à violência desenfreada, está chegando a um ponto que dificilmente será revertido nos próximos meses, podendo, inclusive, se agravar ainda mais com medidas e ações equivocadas do tipo: "a copa das copas" ou "exército nas ruas para garantir segurança", etc. etc....


O ufanismo fora de contexto, aliado à ideia de repressão com certeza irão gerar prejuízos de toda ordem para o Estado brasileiro, para seus principais gestores e para estados e cidades sede da Copa 2014.

Neste momento, o que percebemos é uma tremenda dificuldade para falar a língua da imensa maioria da população brasileira, formada majoritariamente por afrodescendentes e, principalmente, com os jovens da periferia que se perguntam a todo instante: "Copa para quem?";"Cadê os serviços públicos?"; "Cadê o tal do legado tão propagado?"; "O que é que eu ganho com isso?" etc.

Projetos de qualidade não faltaram. Sei que existem centenas de projetos desenvolvidos e apresentados pela iniciativa privada, alguns até obtiveram a chancela do Ministério dos Esportes e do governo brasileiro para promoção do país e envolvimento da sociedade para a Copa e Olimpíadas; mas que acabaram ficando no papel, porque nunca houve um real interesse dos gestores quanto ao assunto, por uma visão limitada e simplista da complexidade de um evento deste porte.

Projetos que, se tivessem sido implantados, poderiam estar dialogando com grande parte da população, reduzindo sobremaneira o impacto de eventos adversos e contribuindo muito, de forma verdadeira, para a imagem positiva do país e de seus organizadores.

Ou seja, perdemos um tempo precioso na elaboração e envolvimento da sociedade em torno do grande evento mundial.

Receio que essas barbeiragens, percebidas somente agora pelas autoridades, somadas a uma série de denúncias de corrupção e violência, aliadas às disputas eleitorais, sejam objeto de ações e esforços de comunicação com a mesma visão equivocada exposta aqui.

Caso isso ocorra, não só perderemos a oportunidade de agregar valor e restaurar a imagem já desgastada do país aqui e lá fora (se é que é possível ainda), como poderemos estar acendendo um grande rastilho de pólvora com consequências imprevisíveis.

Em artigo publicado em agosto de 2013, logo após as manifestações de junho, afirmei:

Não se combatem falhas de gestão com propaganda. Isso tem ficado cada vez mais claro no mundo inteiro.

Continuam se equivocando aqueles que pensam que a eficácia das ferramentas, indiscutivelmente necessárias durante a campanha eleitoral, seja a mesma no momento de governar, quando se exige mais ênfase na comunicação social e não no marketing político.

Isso beira a ingenuidade. Especialmente em momentos de crise. Por coisas como esta, a credibilidade dos políticos brasileiros e a competência de grandes profissionais do marketing eleitoral estão sendo colocadas em xeque.

Não é por acaso que a queda na avaliação do governo indica uma tendência de queda paulatina, que poderá ou não ser estancada.

Comunicação inadequada e propaganda enganosa é igual a medicação prescrita de forma errada, pode acabar matando o paciente.

É preciso pensar o novo!

Precisamos de "olhos novos para o novo", como diria Oswald de Andrade.

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