quinta-feira, 24 de julho de 2014

O Negro de Fogo - Oliveira Silveira

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O negro de fogo
que usava camisa encarnada
incendiou o futebol
incendiou o samba
|               a rumba
|               a conga
|               o espiritual
e o coração das mulheres.

O negro de fogo
enrubesceu maçã do rosto
de encabuladas moças
pintadas de ruge e batom.

O negro de fogo
de carvão e brasa
pixe e sangue.


O negro de fogo
incendiou a União Sul-Africana
e lançou fósforo aceso
sobre os Estados Unidos
(que assim não era possível).

O negro de fogo
pôs labaredas (não era possível)
nos organismos internacionais.

O negro de fogo
(assim não era possível)
atou num poste e jogou na fogueira
o ditador português
e Sua Majestade Britânica.

O negro de fogo
- sempre chamado de sujo -
para ter bem-estar físico
impôs ao mundo uma higiene mental.

E assim – queimadas a gaiola, a grade
purificado o ar e limpo o céu -
entoou com voz azul
seu canto de liberdade.

( Oliveira Silveira )
(Poema do livro Poesia negra brasileira: antologia. Organização de Zilá Bernd. Porto Alegre: AGE: IEL: IGEL, 1992. p. 96.)

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