sábado, 18 de outubro de 2014

Copa-2014: para institutos europeus, Brasil 'perdeu' com Mundial

Estudo concluiu que as cidades-sede aumentaram dívidas e o Estado arcou com boa parte dos custos do Mundial, enquanto a Fifa teve lucro recorde

Torcedores chegam para a abertura da Copa 
no Itaquerão, em São Paulo (Ivan Pacheco/VEJA.com/VEJA)
Três meses depois da Copa do Mundo, um estudo encomendado por entidades europeias aponta que o Brasil "perdeu o Mundial" fora de campo. Um levantamento realizado pela instituição suíça Solidar, em parceria com a entidade alemã Institut Heinrich Böll, concluiu que as cidades-sede aumentaram suas dívidas e o Estado foi obrigado a arcar com parte importante dos custos do Mundial, enquanto a Fifa deixou o país com um lucro recorde e sem pagar impostos.

Em novembro, a Fifa voltará ao Brasil para uma reunião para avaliar o impacto da Copa. Se em campo o Mundial foi um sucesso, a avaliação sobre o impacto para o país divide especialistas e governo, que destaca o fluxo de torcedores e o impacto positivo na imagem do país. Para membros da Fifa, o impacto real apenas será conhecido em cinco anos.

Mas a avaliação das entidades sociais europeias é diferente. "O apito final foi dado há três meses. Mas foi o Brasil quem perdeu", alertou a Solidar, entidade com 70 anos e que trabalha no campo do desenvolvimento social. "Os brasileiros pagaram um preço alto pela Copa. Foi o Mundial mais caro de todos os tempos - 13,3 bilhões de dólares (aproximadamente 32,5 bilhões de reais) - e afetado por violações de direitos humanos." Segundo o estudo, a "repressão contra manifestantes" foi considerada um dado infeliz. "A militarização fez parte das tristes consequências deste Mundial."

De acordo com o levantamento, os investimentos do setor privado não conseguiram atender aos projetos propostos, principalmente no setor de transporte. O resultado foi "uma redução dramática" no número de iniciativas. "Vários projetos de construção foram anulados - um terço dos projetos de transporte público previstos - ou ficaram para depois da Copa." O documento também mostra que o endividamento das cidades-sede chegou a aumentar em 51%. Mesmo cidades que não receberam jogos tiveram um aumento da dívida de 20%.

A constatação do levantamento é que o preço médio das arenas ficou duas vezes superior aos estádios da Alemanha em 2006 e África do Sul em 2010. Por assento, a Copa custou em média 15.410 reais no Brasil. Na Alemanha, ela saiu por 8.950 e 8.200 na África do Sul. O estudo também acusa os organizadores de terem erguido quatro "elefantes brancos". "São estádios superdimensionados e praticamente inutilizados."

Ambulantes - Segundo o estudo, dos 350.000 vendedores nas 12 cidades que acolheram jogos, apenas 4.000 puderam trabalhar nas redondezas das arenas. "Os mais pobres no Brasil perderam sua fonte de renda." O estudo também aponta que 250.000 pessoas no país foram desalojadas durante sete anos de obras, "frequentemente sem compensação".

Fifa - Diante de um "resultado desastroso", as entidades querem que a Fifa modifique a forma de organizar os torneios. "A Fifa obteve um lucro recorde e solicitamos à entidade que assuma no futuro de forma séria suas responsabilidades na qualidade de instituição organizadora." Segundo o levantamento, a Fifa teve renda recorde que pode variar entre 10 bilhões de reais e 12,5 bilhões de reais com o Mundial. Os lucros seriam de cerca de 7,5 bilhões de reais.

"É escandaloso que a Fifa consiga fazer com que os custos sejam assumidos pelo estado brasileiro, mas mantenha os lucros", declarou Joachim Merz, representante da Solidar Suisse. Para ele, em futuros Mundiais, a Fifa precisa exigir que os países se "comprometam a respeitar os direitos humanos, as normas internacionais de trabalho, acabem com privilégios fiscais e considerem os trabalhadores do setor informal".


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