Meu livro, minha vida
Dilma decora as respostas para todos os temas do debate, mas gosta de levar uma enorme apostila com suas anotações sobre cada assunto
ANDRÉIA SADINATUZA NERYDE BRASÍLIA
Tal qual uma prova de vestibular, a presidente Dilma Rousseff se prepara para os debates eleitorais na TV decorando todos os temas que podem vir a cair na prova".
Nos confrontos televisivos, a presidente passou a carregar uma apostila debaixo do braço. O calhamaço, de quase 90 páginas, é levado para o púlpito com tanta frequência que assessores já o apelidaram de "Bíblia". Outros preferem o termo "cola".
"E a Bíblia vai crescendo a cada debate", brinca um auxiliar da presidente. O documento traz um conjunto de perguntas e respostas sobre os temas que podem ser tratados nos embates com os rivais, além de anotações de próprio punho da candidata.
No último debate da TV Globo antes do primeiro turno das eleições, no dia 2 de outubro, a "cola" desfilou na mão da petista.
Para assessores, a apostila com dados de programas do governo e perfis de perguntas se destacou por conta do modelo do debate. Diferentemente dos anteriores, em que os candidatos permaneciam atrás de púlpitos, o da TV Globo obrigava o participante a se levantar e dirigir-se para o centro do palco toda vez que era chamado para falar.
Se para a presidente a "Bíblia" funciona como um porto seguro na hora de enfrentar os adversários, para alguns de seus principais auxiliares o objeto acaba aprisionando a candidata.
Um interlocutor afirmou à Folha que, por vezes, a chefe tenta decorar dados, o que a faz perder a oportunidade de rebater seus rivais em temas que domina de forma mais livre.
No livro há ainda sugestões de réplicas e abordagens mordazes que ressaltam algumas fragilidades do adversário.
Segundo assessores, as páginas são atualizadas com dados que surgem a cada semana. Exemplo: se um novo escândalo envolvendo desvios na Petrobras aparece, há novas anotações de réplicas no quesito corrupção.
Apesar da ajuda para as horas de "branco", assessores querem a aposentadoria da "cola". Isso porque, após o debate da TV Globo, monitoramento das redes sociais mostrou uma repercussão negativa por parte dos eleitores. A cola foi vista como sinal de fraqueza e falta de domínio sobre os assuntos.
TENSÃO
Na véspera de cada um dos quatro debates do primeiro turno, Dilma repassou exaustivamente com coordenadores de sua campanha todos os dados de governo passíveis de serem explorados tanto por ela quanto por concorrentes. Os números são checados pela assessora Sandra Brandão, apelidada de "Google de Dilma" pela função de ser uma espécie de memória auxiliar da presidente.
Nas reuniões, no Palácio da Alvorada ou em hotéis onde a petista se hospeda no dia do debate, Dilma passa por um treinamento: ministros fazem às vezes de mediador'' e cronometram perguntas e respostas. Nessas ocasiões, os momentos são descritos como de muita tensão.
A "Bíblia" ainda não resolveu um dos pontos fracos da candidata nos debates: ela costuma extrapolar o tempo para concluir suas falas.
Nesta eleição, Dilma dispensou o treinamento de Olga Curado, especialista em linguagem corporal que ajuda candidatos a se expressarem melhor. Olga foi rapidamente contratada por Aécio, que passou a modular o tom de voz, normalmente carregado de tom grave ao final de cada frase, e tem se esforçado para aparecer mais solto diante das câmeras.
"Não podíamos ter perdido a Olga. Ela sabe as fragilidades de Dilma", avalia um coordenador petista.
Fonte: Folha de S. Paulo
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