sexta-feira, 22 de maio de 2015

E se a religião tivesse sido criada pelas mulheres?

Houve um tempo em nossa história onde as mulheres foram cultuadas como Deusas e tudo, absolutamente tudo, girava em torno delas. Há entre os historiadores um consenso sobre esse ter sido o período da história onde os humanos tenham sido mais felizes do que em qualquer outro período já registrado.


Representação de Vênus.

Sabe-se hoje, que no inicio dos tempos (dentro de nossa história) ás comunidades humanas viveram um período de 15 mil anos de paz. Esse período data de 6500 a.c e foi vivido logo após a invenção da agricultura (atribuída a mulher pelas constantes ausências dos homens de suas terras). Os estudiosos até hoje não encontraram qualquer vestígio de guerra nesse período, em contrapartida, descobriram no sudeste europeu 30 mil estátuas representando personagens femininas que eram utilizadas em rituais de culto á Deusa.

Acreditava-se que a fecundidade da mulher influenciava a fertilidade dos campos, tal associação fez com que a mulher alcançasse um prestígio que após esse período não seria novamente vivido. A mulher era a personagem central nessa sociedade e a mãe era a figura mais respeitada. Os homens acreditavam que a geração de uma vida começava no correr de um rio, na estrutura rígida de uma pedra, na magnitude de uma árvore e na forma protetiva de uma gruta, somente após tocar todos esses elementos, a nova vida humana era introduzida no ventre de uma mulher por um sopro da natureza

Alguns exemplos de Deusas da época são: Pótnia, na Turquia- essa é representada por uma Pantera em cada lado de seu corpo, em cujas cabeças ela colocava suas mãos demonstrando o seu poder de mãe e de senhora da natureza; outra representante da fertilidade feminina eram as serpentes, que por diversos continentes foram simbolicamente representantes da vida. A grande Deusa (que seria o nosso Deus de hoje), após a invenção da escrita, foi venerada em diversos continentes pelos nomes de: Inanna, em Canã; Astarte, na Fenícia; Isis, no Egito; Nukua, na China; Freya, na Escandinávia e Kunapipi, na Austrália. A Deusa geralmente tinha seios fartos, quadris largos e ventre saliente. Tomava forma de animais e de plantas além de mulher, configurando mais um momento único na história humana onde a religião foi monoteísta e politeísta ao mesmo tempo.


Deusa Pótnia.

Nesse período, não há registros de que ocorresse dominação de um sexo sobre o outro. Por meio da arte da época (a arte Neolítica), é possível perceber que o objetivo da vida para a Deusa não era a busca por obediência nem o de punição, mas o contrário disso, o de doação e compreensão. Era enfatizado o cultivo da terra, a frutificação da espiritualidade unida ao tudo. No santuário de Çatal Huyuk e Hacilar, foram encontradas representações da Deusa grávida dando a luz, essa era a imagem central a ser cultuada na época, diferente da representada por um homem na cruz. O que nos deixa deduzir que no primeiro caso, seja o culto relativo á vida e ao amor á vida em vez da morte e do medo da morte.


Essa concepção de uma sociedade em que um deve dominar o outro é característica do pensamento patriarcal de nossa época. Nesse período não havia dominação e sim organização com divisão de tarefas e respeito mútuos. As descobertas arqueológicas atuais nos mostra que a sociedade da época era igualitária. Apesar da linhagem ser traçada pela mulher e de toda cultura da época se basear nela, não há sinais de que o homem fosse subordinado a mulher.

Será que tudo isso que já foi vivenciado pela sociedade humana no inicio dos tempos não nos deveria fazer pensar em como estaria o mundo se o culto á Deusa tivesse sido mantido até os dias atuais? Vida sem opressão nem guerra. Divisão das sementes, mantendo terra e corações férteis. Homens como os do inicio dos tempos que controlavam o próprio instinto não por doutrina, mas por verdadeiro encantamento pelo feminino. Quanto mais se encantavam, mais amados, cuidados e protegidos eram pelas mulheres da época.

Penso se as roupas que culturalmente utilizamos hoje não existissem em nosso cotidiano e nós tivéssemos acesso ao corpo um do outro, será que (apesar disso não ser necessariamente um requisito) homens e mulheres se respeitariam mais? Será que não seriam mais próximos? Se a união dos dois sexos não fosse feita pela assinatura de um juiz com uma testemunha e sim por um sentir de tesão súbito ou uma identificação de almas onde a natureza inteira seria testemunha dessa ligação que iria ocorrer, que poderia durar por algumas horas- sem regras- podendo também, durar por uma vida inteira- sem juramentos- mas que fosse livre e real, será que não seriamos todos mais satisfeitos e menos rancorosos um com o outro? Se o mundo abandonasse os próprios pecados e ao invés de se desculpar com Deus, se desculpassem com a natureza que é machucada pelos nossos atos mecanizados ou se desculpassem simplesmente com quem magoou, os efeitos de um milagre seriam sentidos cotidianamente. Se todos nós déssemos as mãos como no inicio dos tempos e aceitássemos uns aos outros com suas diferenças, sem precisar de doutrinas ou recompensas celestes somente a plenitude terrestre de amar e ser amado pelo próximo começando por amar e respeitar uma mulher, será que estaríamos a salvo?

Bem, se eu criasse uma religião, certamente ela não teria obrigações (para isso tem o estado), nem ascetismo, dinheiro, discriminação, roupa e talvez não tivesse nem mesmo um nome, se tivesse, deveria ser um som universal, sem variação fonética ou silábica, o nome deveria vir de um som da natureza, essa disponível e igual para todos, ou seja, todos falariam a mesma língua religiosa, a língua da Deusa Terra e entenderiam os seus ensinamentos.

Uma das fontes para a produção do texto foi a Obra: A cama na varanda, de Regina Navarro Lins.

Fonte: Portal Obvious

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