terça-feira, 16 de junho de 2015

Acarajé é comida de Orixá!


Três formas de vender o quitute mais famoso e sagrado da Bahia entram em disputa pelo uso do termo

Baianas tradicionais defendem uso do termo acarajé para quem segue ritual de preparação (Foto: Arisson Marinho)

Os sete bolinhos pulam do tabuleiro e marcam território no pequeno largo do Canela. A dona do espaço ali é Iansã. “A gente ‘arrêa’ sete acarajés para saudar os orixás e ter uma boa venda”. Distante dali, no Pau Miúdo, o mesmo perfume de dendê, mas o espaço é da divindade dos cristãos. “Consagro meu acarajé a Deus! Nunca me vesti de baiana”. Em outro ponto, na Pituba, não há qualquer sentido religioso no preparo da iguaria. Os bolinhos saem dentro de isopores. “O nosso acarajé é um acarajé comercial”.

Três formas de vender o quitute mais famoso e sagrado da Bahia. Na primeira, Maria Aparecida Santos, 46 anos, a Cida de Nanã, assume a forma tradicional, com trajes típicos de baiana e iniciação no candomblé, de onde se originou a iguaria no culto a Iansã. Na segunda, Edna Rodrigues de Lima, 55, evangélica que sustenta a família com seu “bolinho de Jesus” e uma banca com a inscrição “Deus é Fiel”. Na terceira, o empresário Ubiratan Sales, 55, criador e “exportador” para todo o Brasil do acarajé congelado.

Barraca do acarajé 'bolinho de Jesus'
(Foto: Alexandre Lyrio)

Ubiratan desenvolveu a fórmula do acarajé congelado e vê seu produto ganhar o mundo

“A gente quer ir aonde a baiana não consegue chegar. Não tem essa de concorrência. Não fecho contrato com bares que têm baiana por perto”, argumenta. Além disso, há delicatessens que também comercializam o bolinho. A Perini, por exemplo, há alguns anos decidiu vender acarajé. Mas a empresa da famosa coxinha de catupiry preferiu não entrar na questão e não passou informações sobre a quantidade de bolinhos vendidos em suas lojas.

A Abam anuncia que vai entrar na Justiça contra empresários, restaurantes, delicatessens ou qualquer um que tenha se apropriado do bolinho para comercializá-lo de forma deturpada. O Iphan apoia a ação. “Tem gente que está ganhando muito dinheiro com o acarajé, uma herança cultural constituída com muito sacrifício e suor dessas mulheres negras”, afirma a antropóloga Maria Paula Adinolfi, do Iphan, que elaborou um trabalho que indica a necessidade de se proteger legalmente expressões culturais. Haja pimenta nessa discussão! 
 
Alexandre Lyrio - Correio 24 Horas

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