Leila Velez era gerente de uma unidade do McDonald's no Rio quando decidiu juntar-se à empreendedora Zica Assis, que inventou um creme para cabelos cacheados e abriu o Instituto Beleza Natural, em 1993, nos fundos de uma casa na Tijuca.
Depois de ganhar uma bolsa e fazer faculdade, Leila tornou-se presidente da empresa, que hoje tem 32 lojas com 130 mil clientes e uma fábrica de produtos capilares.
Karime Xavier/Folhapress
Leila Velez fundou uma rede de salões de beleza para cabelos cacheados
Leia o depoimento de Leila Velez à Folha:
Nasci em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, mas, como meu pai foi trabalhar de porteiro em um prédio de Ipanema, eu me mudei para a zona sul do Rio com seis meses de vida.
Desde muito cedo, precisei trabalhar. Com dez anos, entregava as roupas que minha mãe lavava para moradores do bairro. Aos 12, comecei a vender cosméticos de porta em porta.
Com 13, comecei a trabalhar na rede de fast-food McDonald's. Aprendi tanto que considero esse emprego meu primeiro MBA. Gostava bastante do trabalho e fui promovida a gerente aos 16 anos.
Lá, conheci Rogério Assis, colega que ajudava a irmã a testar uma fórmula para amaciar cabelos crespos. Ela se chamava Zica e estava havia uma década misturando produtos e matérias-primas.
Eu me mudei para a Tijuca, onde moravam, e passei a acompanhar o processo. Tinha 19 anos e um grande desejo de empreender -resolvi embarcar no sonho dela, que se tornou minha amiga.
Zica entrou com o creme e o conhecimento técnico de cabeleireira; o Rogério e eu demos algumas economias e a visão do processo produtivo que aprendemos no McDonald's; o Jair Conde, marido de Zica, entrou com o capital inicial para investir, obtido com a venda de seu táxi.
O Beleza Natural, especializado em cabelos crespos e cacheados, nasceu dessa junção de forças.
Inauguramos o primeiro salão em 1993, no fundo do quintal de uma casa na Muda, na região da Tijuca. Era um momento antes do Plano Real e de a classe C virar vedete. Nosso público-alvo era invisível à maior parte das empresas, e fizemos sucesso. Abríamos às 8h e já havia fila de clientes na porta desde as 5h.
Mas nada foi fácil. Na parte da frente do imóvel, havia outro salão, e a dona ficou enciumada com o movimento do Beleza Natural. Como o encanamento passava por seu terreno, ela fechou o registro de água várias vezes.
Ligávamos para a Cedae-RJ (Companhia Estadual de Águas e Esgotos), e eles nos respondiam que não havia problemas na região. Demoramos a descobrir que era a concorrente quem boicotava.
Além disso, sofremos muitos preconceitos. Por exemplo, precisamos abrir uma conta no banco para a empresa. Certa vez, levamos sacolas de dinheiro a uma agência do Nacional, já que muitos nos pagavam em dinheiro ou cheque.
Passaram-se três horas e o gerente deu de ombros, pois não acreditava que um salão fosse cliente interessante.
Até para fazer propaganda havia dificuldades. Tive a ideia de fazer cartazes com o endereço e o telefone da empresa e frases do tipo "se os seus cabelos são um problema, nós somos a solução" para pôr nos ônibus que rodavam na Tijuca.
Eu e Rogério colávamos nos vidros traseiros, mas logo que os veículos eram recolhidos à garagem, arrancavam-se todos. No dia seguinte, fazíamos tudo de novo.
Para aprimorar meus conhecimentos na área, eu larguei a faculdade de direito iniciada em 1996.
Como não tinha ainda condições de arcar com os custos da graduação, estudei muito e consegui uma bolsa integral na ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).
Mas todo esse sofrimento valeu a pena. Hoje, sou presidente da Beleza Natural, e a empresa atende, em média, 130 mil clientes por mês nos 32 institutos espalhados pelos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais e Bahia.
Em 2013, recebemos um aporte financeiro de US$ 32 milhões e, desde então, crescemos 143%. Agora, temos o sonho de expandir para o exterior e nos tornarmos uma multinacional brasileira
Fonte: Folha de S. Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário