sexta-feira, 19 de junho de 2015

Criança vítima de intolerância religiosa no Rio se encontra com Dom Orani

Jovem candomblecista que levou pedrada tomou café com arcebispo.
Kailane pediu respeito e união.

Kailane foi recebida por Dom Orani (Foto: Matheus Rodrigues/G1)

A menina Kailane Campos, de 11 anos, que foi vítima de intolerância religiosa no domingo (14) no Subúrbio do Rio, foi recebida nesta sexta-feira (19) pelo arcebispo da cidade, cardeal Dom Orani Tempesta, na sede da arquidiocese, na Glória, Zona Sul do Rio. A jovem tomou café da manhã e conversou sobr os episódios com líderes religiosos.

A menina contou que foi para a escola apenas na segunda-feira (15) está semana e que ainda está um pouco nervosa com tudo o que aconteceu.
 
Kailane e a mãe receberam presentes da
Arquidiocese (Foto: Matheus Rodrigues/G1)

"Estou um pouco nervosa, não estou muito acostumada. O café da manhã pra mim foi bom, estava tudo gostoso, tudo bom. A partir de agora eu acho que tem que ter respeito, todo mundo unido, bem eu acho que tem que ser assim. Pra mim, respeito todo dia", afirmou.

De acordo com o arcebispo do Rio, essas pessoas que fizeram agressões contra algumas religiões são minoria e não podem ser consideradas cristãos. "Quando nós estamos vendo sinais de intolerância na nossa cidade, de não aceitar o outro, isso causa uma grande preocupação. Eu conclamo a sociedade para que possa ver que a cultura brasileira sempre foi de entendimento, fraternidade e compreensão uns com os outros. Eu tenho certeza que esses agressores são minoria, porém fazem barulho. Eles não nos representam, não é a postura do cristão, na verdade, eles não são nem cristãos", afirmou Dom Orani.

O encontro teve a presença também do diácono Nelson Águia e o padre Fábio, representantes da comissão de diálogo interreligioso da arquidiocese do Rio. Outro presente foi líder de combate à intolerância religiosa Ivanir dos Santos. Ele afirmou que esses casos são preocupantes.

"Esse encontro com a igreja católica significa que o ódio não faz parte de nenhuma doutrina religiosa. A intolerância é muito grave no Rio. Nós já tivemos um caso de uma casa cigana que foi queimada na Baixada Fluminense e há 15 dias uma outra casa quebrada na Ilha do Governador. Nós vamos lançar um dossiê sobre isso, nós vamos fazer uma audiência pública na Assembleia Legislativa. Iremos lançar um documento com casos como esse", afirmou.
Arcebispo e vítima de intolerância tomaram café da manhã (Foto: Matheus Rodrigues/G1)

Agressão na volta de culto
Kailane foi agredida no último domingo (14) e, segundo a avó, que é mãe de santo, todos estavam vestidos de branco, porque tinham acabado de sair do culto. Eles caminhavam para casa, na Vila da Penha, quando dois homens começaram a insultar o grupo. Um deles jogou uma pedra, que bateu num poste e depois atingiu a menina.

“O que chamou a atenção foi que eles começaram a levantar a Bíblia e a chamar todo mundo de ‘diabo’, ‘vai para o inferno’, ‘Jesus está voltando’", afirmou a avó da menina, Káthia Marinho. Na delegacia, o caso foi registrado como preconceito de raça, cor, etnia ou religião e também como lesão corporal, provocada por pedrada. Os agressores fugiram num ônibus que passava pela Avenida Meriti, no mesmo bairro. A polícia, agora, busca imagens das câmeras de segurança do veículo para tentar identificar os dois homens.

Templo na Lagoa foi apedrejado, diz responsável
Também esta semana, em outro caso em que as vítimas acusam os suspeitos de agressão de intolerância religiosa, o templo Casa do Mago, na Rua Humaitá, na Zona Sul do Rio, foi apedrejado na manhã desta quinta-feira (18). De acordo com o responsável pelo local, Ubirajara Pinheiro, três homens com bíblias nas mãos foram os responsáveis pelo ato.

Teriam sido atingidas uma estrela, a imagem de Nossa Senhora da Aparecida e budas, mas nenhuma das imagens foi danificada. A Casa do Mago tem câmeras de segurança, mas, segundo os magos, os equipamentos não registram as imagens. As janelas também não tem danos.

Os ataques teriam acontecido na noite de quarta e na manhã de quinta-feira. Segundo o mago Ubirajara Pinheiro, as pessoas que teriam arremessado pedras tinham bíblias na mão. Ele teria percebido o apedrejamento quando realizava uma consulta e ouviu os barulhos.


Matheus Rodrigues -Do G1 Rio

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