Bailarina negra ocupa posto principal na American Ballet Theater pela primeira vez
Aclamada pelos fãs, Misty Copeland foi anunciada como primeira bailariana da respeitada companhia americana
POR O GLOBO / NEW YORK TIMES
Misty Copeland em apresentação do "Lago dos cisnes" no Lincoln Center, em Nova York - JULIETA CERVANTES/for The New York Times / NYT
NOVA YORK - A bailarina Misty Copeland, de 32 anos, foi promovida a primeira bailarina do American Ballet Theater nesta terça-feira, tornando-se a primeira negra a ocupar a posição, em mais de 75 anos de existência da companhia. A conquista vem depois de mais de 14 anos de trabalho com o grupo, sendo quase oito como solista. Neste período, Copeland ganhou fama internacional por sua performance.
A fama da moça, aliás, vai muito além dos palcos. Só este ano, ela foi uma das cinco capas da revista "Time" na edição que lista as cem pessoas mais influentes, foi perfilada pelo "60 Minutes" da BBC e apresentou uma categoria do prêmio Tony, do teatro americano. Ela também já escreveu um livro de memórias e outro infantil, e tem mais de meio milhão de seguidores no Instagram. Um anúncio on-line que ela fez para a grife Under Armour foi visto mais de 8 milhões de vezes. Para completar, ela é tema de um documentário exibido este ano no Festival de Cinema de Tribeca.
Durante o ano passado, quando Copeland se apresentou nos papéis principais com o American Ballet Theater, suas performances se tornaram eventos, atraindo multidões de fãs e entusiastas a vários teatros, como o Metropolitan Opera House. Depois que ela estrelou "O lago dos cisnes" na semana passada - tornando-se a primeira negra a interpretar o papel - uma multidão de fãs se aglomerou para pedir autógrafos.
Copeland, que não quis conversar com o "New York Times" sobre sua recente conquista, já havia sido bastante franca sobre sua ambição de se tornar a primeira negra no posto de bailarina principal da companhia, uma das mais prestigiadas dos Estados Unidos, famosa pela sua lista internacional de estrelas e pelos aclamados espetáculos de balé clássico.
A bailarina em sessão de autógrafos para os fãs - GREGG VIGLIOTTI/ The New York Times / NYT
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"Meus temores são de que possa levar mais duas décadas até que outra mulher negra alcance a posição que mantenho em uma companhia de elite", escreveu ela em seu livro de memórias, "Life in motion: an unlikely ballerina", publicado no ano passado. "Se não chego à posição principal, as pessoas vão sentir que falhei com elas."
Isso colocou um holofote público sobre a American Ballet Theater, já que as escolhas dessas companhias raramente são abertamente discutidas. Se a empresa não promovesse Copeland, corria o risco de ser acusada de perpetuar as desigualdades, que deixaram dançarinos negros, particularmente mulheres, lamentavelmente sub-representados nas grandes companhias de balé.
Ex-co-diretora da Ballet Theater, Jane Hermann disse que essa foi uma dinâmica incomum para a empresa e para os bailarinos.
- Nunca ouvi uma discussão pública sobre alguém que deveria ser promovido ao posto principal - disse ela.
Mais de meio século se passou desde que o dançarino negro pioneiro Arthur Mitchell rompeu a barreira da cor e tornou-se um bailarino principal no New York City Ballet, em 1962. E uma geração se passou desde que Lauren Anderson tornou-se a primeira diretora negra no Houston Ballet, em 1990. O City Ballet teve apenas dois dançarinos principais negros em sua história, ambos homens: Mitchell e Albert Evans, que morreu na semana passada. Já os responsáveis pela Ballet Theater disse que só teve um bailarino principal afro-americano até agora. Trata-se de Desmond Richardson, que alcançou o posto em 1997.
Fãs aguardam Copeland após uma apresentação dela em "Romeu e Julieta", no Metropolitan Opera House, em Nova York - JULIETA CERVANTES / NYT
No balé, os primeiros bailarinos não ganham apenas o respeito do mundo da dança, mas também são mais bem pagos, assumem papéis maiores e têm suas fotos em programas, bem como seus nomes em letras maiores.
A promoção de Copeland foi anunciada em uma reunião da companhia na manhã desta terça-feira pelo diretor artístico da companhia, Kevin McKenzie. Outros três dançarinos, enormemente respeitados no mundo da dança, mas muito menos famosos fora dele, foram anunciados como diretores do grupo. Stella Abrera, que era solista desde 2001, foi promovida, e mais dois diretores foram contratados de fora: Maria Kochetkova, do San Francisco Ballet, e Alban Lendorf, do Royal Danish Ballet.
Fonte: O Globo
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