sexta-feira, 3 de julho de 2015

Menos de 2% coloriram suas fotos


Marcelo Nakagawa é professor de empreendedorismo do Insper

Muitos viciados dão o que têm e, muitas vezes, o que não têm, para então, darem a sua intimidade em troca da sua droga. E uma das categorias de vício que mais se alastra no mundo são as redes sociais. Vá aos shoppings, aos parques, às praias, aos cafés, bares e restaurantes… ou nem precisa ir, preste atenção no trânsito, transporte público e até no elevador. Vai ter alguém, quando não você mesmo, interagindo em alguma rede social.

Mas muitos não se consideram viciados, mesmo se dando conta que acessam alguma rede social logo ao acordarem e antes de dormirem. Marcello Serpa, um dos principais publicitários do cenário mundial, recentemente fez críticas duríssimas ao que chamou do fim da mídia social. “O Facebook e o Youtube são como traficantes que vão dando a cocaína de graça na porta da escola para depois começar a cobrar dos viciados” – afirmou.

O acirramento do tom das críticas e definição de posicionamentos no Facebook, por exemplo, vem permitindo que a empresa colete não apenas dados demográficos e geográficos, mas também psicográficos, onde cada um mostra o que verdadeiramente é. Na semana passada, por exemplo, vinte e seis milhões de pessoas coloriram suas fotos no perfil do Facebook em apoio à legalização da união homoafetiva no território norte-americano. Parece muito, mas não é. Representa cerca de 1,7% de todos os usuários ativos da rede. Mas colorir a foto foi exposto com tanta frequência para os usuários que parecia um tsunami em cores. O mesmo fato, no Brasil, não ocorreu quando a união homoafetiva foi aprovada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2011 pelo placar de 10 a 0. Por quê?

Porque não havia o filtro colorido, um experimento criado por estagiários do Facebook, que agora se mostrou um método muito eficiente de segmentação psicográfica de mercado, como explicado na reportagem do Link. De todas as segmentações, a psicográfica é a mais poderosa, pois agrupa pessoas naquilo que é mais significativo: seu comportamento. E o que mais interessa as empresas é o verdadeiro comportamento do consumidor.

Durante muitos anos, o Walmart foi citado e recitado como exemplo de entendimento do consumidor. O exemplo de que as fraldas deveriam estar próximas da cerveja foi contado e recontado inúmeras vezes já que, na maioria das vezes, era o marido que comprava as fraldas. Fazia sentido então deixar as cervejas por perto. Mas agora, por meio de análises de posts, likes, shares e quanto tempo o usuário olha para uma informação, cruzando com as informações do seu cadastro o Facebook pode saber não só o nome do marido, mas também o da sua esposa e do filho ou filha. E pode saber muito mais de todos: seus dados demográficos e geográficos e também suas preferências e, cada vez mais, seus pensamentos e atitudes.

O experimento da foto colorida foi um marco na história do marketing, pois agora valida uma forma de conhecimento exato do pensamento e comportamento de cada pessoa, que tem nome, sobrenome, moradia, celular, emprego, nível escolar, renda, e-mail, entre outras dezenas, centenas ou milhares de informações. Isto é o Santo Graal para quem precisa anunciar.

Resolvido o problema do anúncio exato para a pessoa certa no momento correto, sobra o viciado em redes sociais. Muitos diriam que tudo bem, pois não têm nada a esconder. Mas estes formam o melhor público porque geram mais informações de si mesmos para serem influenciados no futuro com aquilo que são verdadeiramente. E quando olhamos o que somos realmente, lá no fundo, vamos encontrar o nosso ego. E é justamente isto que nos vicia. E isto é uma droga…

Talvez a rede social até tenha encontrado sua verdadeira finalidade, mas isto não deve ser o seu fim, desde que sejamos mais sociais e menos presos à rede.

Fonte: Estadão

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