quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Negros são representados em manual de segurança da PM como criminosos


Um material de divulgação distribuído pela Polícia Militar paulista em Diadema (região do Grande ABC) causou indignação de juristas e movimentos sociais. O que era para ser um informativo com dicas de segurança pública virou alvo de críticas, por reforçar preconceito e racismo. Nas ilustrações, personagens que simbolizam criminosos e despreparados são negros.

O material foi elaborado e distribuído pelo Centro de Comunicação Social da Polícia Militar de São Paulo. Thaís Rosa, que integra o coletivo Dia de Nega, mostrou sua indignação ao receber o panfleto, que a filha de sete anos havia recebido na escola, e cobrou providências.

“Meu sentimento foi de buscar uma mudança, um diálogo, e um meio de fazer com que esse material seja tirado e criado um outro, respeitoso, que respeite a história dos negros nesse país”, disse a militante.

“Nós temos que levantar nossa bandeira e dizer que está errado, que isso não é desse jeito que estão falando. Por que só o negro? Por que só somos retratados dessa forma?” foi o questionamento indignado de Thiago Fernandes, integrante do coletivo Hip Hop, que acredita que as crianças que receberam esses panfletos nas escolas cresçam acreditando nesse tipo estereótipo.

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) quer uma explicação da PM sobre o caso e espera que uma retratação pelas ilustrações preconceituosas. “A etnia, a cor da pele, não podem significar algo que diferencie as pessoas perante a lei. Nós não podemos cair no erro de considerar que existe uma segunda classe de pessoas. A própria Constituição veda isso”, afirma Alfredo Ricardo da Silva Bezerra, do Comitê de Igualdade Racial da OAB–Diadema.

Para Douglas Belchior, professor e coordenador da União de Núcleos de Educação Popular para Negros/as e Classe Trabalhadora (UNEAfro) e comentarista de lutas sociais da TVT, esse é mais um claro caso de racismo institucional.

“A Polícia Militar é o braço armado do Estado e é evidente que ali é o grande marco da ação racista e exemplo do que seria o racismo institucional. É o próprio Estado, como instituição, reproduzindo lógicas racistas. Assim como a escola faz, ao negar o ensino de história da África, assim como os partidos políticos, e outro espaços de poder fazem, negando espaço aos negros”, analisa Douglas.

Para Belchior, a conduta da Polícia Militar obedece a essa lógica discriminatória. Segundo ele, o “descuido” da corporação foi “colocar no papel algo que é cotidiano e permanente”. O ativista diz que essa é uma oportunidade para que as escolas que receberam tal material aproveitem para a desconstrução desses estereótipos e preconceitos.

“Espero que os professores dessa escola, e das demais escolas que tenham passado por essa situação, levem para dentro da escola esse panfleto e faça um debate, faça uso desse material como um material pedagógico, de como a polícia não deveria agir, e age”, conclui o ativista.


Por Justificando 
Notícia originalmente publicada em Rede Brasil Atual

Nenhum comentário:

AS MAIS ACESSADAS

Da onde estão acessando a Maria Preta