sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Gregório Duvivier tem uma dica para os homens: 'O machismo está ficando cada vez mais babaca'


Não foi outra pessoa senão o próprio Gregório Duvivier quem escreveu, meses atrás, sobre como alguém que faz algo - faz algo para ajudar o outro ou a si mesmo -"destrói os valores" de quem nunca fez nada. "Não quer ajudar, não atrapalha", arrematou com a frase, como assinalou, de avó. Talvez seja exatamente por isso que o ator, humorista, escritor e roteirista tenha se tornado nome fácil na boca de quem está bem mais preocupado em manter tudo do jeito que está: bom para poucos e ruim para quase todo mundo.

Como homem, o carioca de 29 anos acha que é hora de perder espaço e ouvir atentamente as outras vozes que ficaram tanto tempo caladas. "A principal luta do feminismo é dar voz, é que elas tomem voz, né? É um contrassenso eu falar sobre isso… normalmente não falo... Estou mais autorizado a falar sobre a questão do machismo". E como o homem que imagina ajudar faz alguma coisa? "A palavra-chave é empatia. Se alguém diz que ficou ofendido com uma piada, ou até quando um mar de pessoas está dizendo que ficaram ofendidas, o homem tem de reconhecer a veracidade e sentir dor do outro, sabe?", explicou ao HuffPost Brasil, por telefone.

Gregório fala da importância de ter visto na mãe, a cantora Olivia Byington, nas irmãs Bárbara e Theodora e em Clarice Falcão o empoderamento necessário para não ser mais um artista com espaço na mídia e uma carreira baseada na reprodução de um mundo de homens e feito para homens. Cita o absurdo que foi ver a pensadora Simone de Beauvoir diminuída em pleno 2015, mas, ainda assim, vê avanços: "A campanha Primeiro Assédio, do Think Olga, foi muito pedagógica para os homens. Me chocou muito e me fez perceber algo que já suspeitava: nunca vou saber o que é ser mulher. Nunca vou poder falar dessa dor".

O machismo violento que faz vítimas todos os dias merece ser ridicularizado, segundo ele. "O machismo está ficando cada vez mais babaca. Até pouco tempo era engraçado entre homens ficar reproduzindo machismo". É que Gregório acredita na força da piada. Fazer graça de quem está preso ao atraso pode ser forte o bastante para tentar mudar valores numa sociedade como a nossa. Acima de tudo, é aquilo: se ele não for capaz de ajudar, atrapalhar ele não vai. Definitivamente.

Com isso tudo, a masculinidade no século 21 começa a ficar mais embaralhada. E nada melhor do que começar a discutir isso a fundo justamente no Dia Internacional do Homem, certo? Como tentar novas saídas? Para onde vai o homem? A entrevista com Gregório que você acompanha nas próximas linhas faz parte do especial Building Modern Men, do HuffPost UK. Então, vamos ao papo.

HuffPost Brasil: Ainda que os problemas estejam aí, tanto a homofobia quanto a misoginia, eles começam a ser debatidos. Recentemente até mesmo revistas que historicamente não têm nenhuma proximidade com o tema, deram espaço para as mulheres. Elas foram para a capa. Em que medida esse novo contexto empurra o homem para um crescimento pessoal quase obrigatório? Como você vê esse princípio de abertura de espaços para outras vozes?
Gregório Duvivier: É surpreendente que a gente ainda esteja batalhando por isso. Estamos em 2015 e muito, muito atrasados no Brasil em relação ao mundo. O mundo, claro, ainda é machista, mas estamos num momento em que percebemos como o nosso machismo consegue ser maior que no restante do mundo. Quando você vê que Simone de Beauvoir choca numa prova do Enem… Ela que é uma pensadora canônica… E temos pessoas relativizando, dizendo por aí que ela uma comunista, uma feminazi. Não! A Simone de Beauvoir tem uma importância histórica inegável. E aqui ela tem essa relevância negada. Ou seja: o nosso machismo está muito entranhado e claro que isso tem a ver com religião. Somos um país muito religioso, muito conservador. E nossa religião é, sim, muito machista… 90% (dos brasileiros) são de religiões cristãs que não permitem o sacerdócio das mulheres. A mulher também não pode ser pastora. Quer dizer que a maioria absoluta vive sob uma religião intrinsecamente machista. Católicos e evangélicos condenam o aborto. A gente começa a ver que somos muito machistas...

Fonte: Brasil Post

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