domingo, 29 de novembro de 2015

Racismo, aqui não!


(Direto do Face de Francine Ricco)

É angústia, indignação, impotência e vontade de GRITAR, que estou sentindo desde a manhã de ontem... A Policia Militar de Cachoeira, ESTAPEOU E MACHUCOU o braço do MEU IRMÃO. Sim, meu irmão de santo, meu irmão negro. Meu irmão que chegava do trabalho e atendia um telefonema na porta de casa...

ESTAPEOU porque meu irmão mais novo em idade cronológica, mas mais velho no Santo, teve a educação de lhes dar boa noite. Sob a alegação de o estarem abordando, os policiais o estapearam e dobraram seu braço quase ao ponto de quebrar, aos berros intimidadores. Berros que acordaram minhas duas irmãs que estavam em casa e que logo e corajosamente saíram alertando que ele era nosso irmão, tinha a chave de casa… Itamaiane Dorea, estudante de Direito, já sabendo das NOSSAS garantias constitucionais, questionou o tratamento desumano empregado pela Polícia, que improperava diretamente o art. 5°, inciso III, da Carta Magna de 1988 e quase foi agredida também.
Faço questão de dizer que o rapaz agredido, Itauan Dorea, é meu irmão de Santo, pois em nossa religião temos muitos e muitos irmãos e nos respeitamos. E esta agressão contra Itauan, um negro, é indigna mais ainda porque aconteceu um dia após a comemoração do Dia Nacional da Consciência Negra. Em Cachoeira mesmo, houve uma programação que envolveu o encontro do povo de Santo e ciclo de palestras onde o povo negro foi alertado a se unir e combater o genocídio que vem acontecendo contra a juventude negra neste dito Estado Democrático de Direito, que se autointitula laico e que afirma ter como um dos “objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil” (art. 3°, caput, da Constituição de 1988), a promoção do “bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” (art. 3°, inciso IV, da mesma).
Faço questão de falar sobre as atrocidades que acometem meus irmãos negros porque tenho a pele clara e os olhos claros, e tenho a consciência que esse simples fato assegura a minha vida. Nasci e fui criada na periferia de São Vicente, no Estado de São Paulo.
Faço questão de falar sobre a distinção que a “máquina-monstro”, criada e mantida por nossa sociedade preconceituosa e vil, faz entre negros e brancos, índios e brancos, ciganos e brancos, enfim “N” versus branco…
Faço questão de falar sobre a diferença entre negros e brancos, porque eu, meu marido e um amigo, todos nós brancos, fomos “abordados” pela Polícia Militar do Estado da Bahia, na semana passada e nada parecido com isso nos aconteceu. Aliás, meu marido, advogado como eu, inadvertida e provocativamente, pediu licença para fumar ao Policial que conduzia a ação enquanto outros três nos apontavam suas pistolas e semi-automáticas.
Existem inúmeros exemplos, existe muita coisa a se dizer, existe muito a se debater. Dor, indignação, angustia, insegurança, MEDO, MEDO e mais MEDO. Não existe liberdade onde mora o medo, tampouco justiça! NÃO PODEMOS MAIS FICAR CALADOS, NÃO DEVEMOS! Nosso país está perdendo sua alma a custo de muito sangue daqueles que não se encaixam no padrão “homem-branco-com dinheiro” tido por nossa sociedade, como expressão máxima de perfeição, distinção, superioridade. Itamaiane Dorea, Itauan Dorea, Itauana Dorea, eu, nossa mãe Meire de Obaluwaye, ainda com o coração despedaçado, mas fortemente combatente, e toda a nossa família, NÃO VAMOS MAIS FICAR CALADOS! E você?

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