segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

A feminista tunisiana que escandalizou o mundo árabe com seu corpo nu

A tunisiana Amina Sboui aos 18 anos e a mensagem em árabe: "Meu corpo me pertence; não é a fonte de honra de ninguém"

No dia 8 de março de 2013 a tunisiana Amina Sboui fez uma foto de si mesma e compartilhou no Facebook.

Depois, continuou tranquilamente na casa dos avós, na capital, Túnis, enquanto um escândalo crescia nas redes sociais.

A imagem publicada mostrava Amina, uma feminista de 18 anos à época, deitada em um sofá de couro, fumando um cigarro e lendo um livro.

Os lábios estavam pintados de vermelho, olhos maquiados com delineador e ela estava nua da cintura para cima.

No tórax, uma frase em árabe: "Meu corpo me pertence; não é a fonte de honra de ninguém".

Uma hora depois da postagem, a foto já contava com mil comentários e Amina entrou em pânico. Ela já previa o abuso, a misoginia e até as ameaças de morte.

O que não esperava era que sua mãe descobrisse tudo. Amina então tomou uma decisão drástica: desligou o computador e saiu de casa.

A mãe a encontrou seis dias depois, escondida na casa de uma amiga no centro de Túnis.
Fuga e exorcismo

Ela colocou Amina em um carro a levou para o sul, na cidade de Qairouan, onde uma irmã dela vivia. Nas três semanas seguintes, a jovem ficaria presa na casa da família.

Sem conseguir encontrar uma explicação para o que a filha fez, a mãe concluiu que Amina estava possuída pelo diabo e Qairouan seria o melhor lugar para resolver o problema.

Considerada patrimônio da humanidade pela Unesco, a cidade, também conhecida pelo nome de Kirwan, é um dos centros mais antigos do islamismo no norte da África.

Por isso, não foi difícil encontrar entre os clérigos da cidade um homem que dizia ser especialista em exorcismos.

Amina lembra como o homem chegava todos os dias na casa onde ela estava sendo mantida, colocava as mãos sobre sua cabeça e recitava trechos do Corão. Também perguntava se ela havia vomitado bílis.

Quando o celular do exorcista tocava durante a cerimônia, ele afirmou que era prova de que havia um demônio na sala.

"Quando seu telefone toca é sinal de que alguém te ligou", disse Amina ao exorcista.
Femen

No começo de abril, na esperança de que Amina tivesse se curado da "loucura" e que sua vida não estava mais em perigo, a família deixou a jovem voltar para a capital.

Mas, enquanto todos pensavam que o pior havia passado, Amina provou que todos estavam errados.

Um mês depois, ela voltou para Qairouan, mas não para visitar a tia. Ela foi protestar devido a uma reunião do Ansar al Sharia, uma organização islâmica radical que surgiu durante a revolução de 2011 na Tunísia.

No muro de um cemitério, não muito longe da grande mesquita da cidade, Amina escreveu a palavra Femen, o nome do coletivo feminista europeu, hoje baseado em Paris, cujos protestos de mulheres nuas da cintura para cima inspiraram a foto publicada no Facebook. 


Daniel Silas Adamson Serviço Mundial da BBC

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