quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

A história por trás da foto do pescador que 'perdeu a vida para a lama'


O pescador Benilde Madeira diz que precisa 'abandonar minha casa, meu canto e procurar outro rio para poder trabalhar'

De um lado, o dinheiro emergencial pago a moradores de distritos cobertos pela lama em Mariana. De outro, o decreto presidencial que libera o uso de fundos do FGTS para trabalhadores formais afetados. No vácuo entre eles, estão pescadores, quilombolas, índios e pequenos agricultores que perderam suas fontes de sustento - e não recebem qualquer apoio financeiro desde então.
É o caso do pescador Benilde Madeira, cuja foto em preto e branco com os olhos cheios d'água, vidrados, às margens do rio Doce, foi compartilhada por milhares de brasileiros na semana passada.

Após a repercussão da imagem, a BBC Brasil localizou o pescador, que vive em Aimorés (
MG), com o filho e a mãe de 81 anos. Com voz fraca e melancólica, ele comenta os impactos da tragédia e fala sobre dor, impotência e revolta.

"A primeira coisa que me veio quando vi aqueles peixes morrendo foi que minha vida acabou e meu rio morreu", disse em entrevista por telefone. "O culpado era uma grande mineradora, e por mais que eu pudesse lutar contra ela, não tem como (lutar) com um gigante desses. Mesmo que eu quisesse lutar, seria inútil, eu perderia essa batalha."

Sem trabalho ou renda, Madeira diz que tem buscado "bicos", como a limpeza de terrenos baldios. "Me sinto como um cachorrinho que caiu da mudança. Perdido", diz. "Não sei como vou pagar minhas contas, não sei como vou viver, eu não sei, eu não sei, eu simplesmente não sei."

A BBC Brasil procurou a Samarco, a Casa Civil, a secretaria da Pesca e o Ministério Público de Minas Gerais em busca de respostas sobre a situação de Benilde e outros que não tiveram as casas soterradas pela lama, nem têm recursos no FGTS, por falta de trabalho formal, mas que perderam sua fonte de renda após a "morte" do rio Doce.

As respostas não são animadoras: nenhum dos órgãos entrevistados tem um plano com soluções imediatas para estes afetados.
Instituto Últimos Refúgios


Foto de Benilde Madeira com os olhos cheios d'água às margens do rio Doce foi compartilhada por milhares de pessoas

'Ele é apenas um exemplo'

A Samarco, dona da barragem de rejeitos de mineração que se rompeu há quase um mês, disse que "está profundamente consternada por todos os impactos causados por esta situação tão triste" e que "Benilde é apenas um exemplo de tantas pessoas que foram impactadas de forma tão inesperada".

Sem informar prazos ou valores, a empresa diz estar fazendo um "cadastramento


Fonte: BBC Brasil

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