sábado, 23 de abril de 2016

Casa do Olodum 25 Anos


CASA DO OLODUM, núcleo da resistência, p UBIRACI SILVA E DÉBORA SAFIRA

Ubirací de Oliveira Silva. Pós-Graduado em Planejamento Urbano com Gestão em Cidades e bel em Turismo, Conselheiro Olodum.; Debora Safira Andrade. Mestre em Desenvolvimento Regional e Urbano, Unifacs
O Olodum celebrará no dia 25 de abril de 2016 os 25 anos da Casa do Olodum, seu núcleo duro que se constitui no centro das suas atividades, de suas ações e de seus pensamentos políticos e filosóficos.

Ainda comemorará 37 anos de projetos e ações desenvolvidos junto à comunidade, na defesa dos seus direitos e na luta contra o racismo e a opressão, na geração de emprego e renda e disponibiliza vários cursos para crianças e adolescentes em sua Escola Olodum.

Criado em 1979 por um grupo de amigos, no intuito de assegurar aos foliões negros o direito de desfilarem num bloco de carnaval, uma vez que até então isso lhes era negado.

Embora, incipiente, o pequeno Olodum surgiu, carregando a semente da resistência, da luta e da mobilização social. No decorrer dos anos, cresceu, enfrentou dificuldades tanto internas como externas que o levou a se reestruturar, ampliar e aprimorar seus objetivos.

Em 1985 esta instituição dá um grande e ousado passo quando adquiriu um casarão antigo na Rua Gregório de Matos, 22, com o propósito de transformá-lo no seu “quartel general”, ou seja, sua sede de organização e pensamento. 

Tal escolha não poderia ter sido melhor, uma vez que este imóvel está profundamente atrelado à história da rebeldia social e política do negro baiano. Edificado entre os anos de 1790 e 1798. Este último ano foi marcado pela Revolta dos Búzios, primeiro movimento político a lutar pelo fim da escravidão no Brasil e a República como forma de governo. 

Em 1920, uma família de origem espanhola comprou este imóvel e o abandonou na década de 1950. Gradualmente, esta área vai sendo desocupada pelas classes A e B e sendo habitada por pessoas da classe C e D, a maioria retirantes nordestinos que ainda ocupam cômodos e compartimentos dos antigos casarões.

Deste modo, ao adquirir este imóvel e decidir reconstruí-lo, o Olodum revela sua vocação para o social, tendo em vista que este imóvel apenas possuía as paredes externas e estava localizado numa área degradada, marginalizada e conhecida pela prostituição. 

A arquiteta responsável pelo projeto de reconstrução foi Lina Bo Bardi que vislumbrava o Olodum da seguinte maneira: “A banda Olodum é uma organização negra muito importante da Bahia, no Pelourinho. Vi nele uma grande floresta, um grande continente, vi liberdade, e tantas outras coisas maravilhosas!” 
A referida arquiteta projetou um interior moderno e conservou os traços de estilo colonial na parte externa do casarão. As obras foram executadas por uma empresa da Prefeitura Municipal do Salvador, que utilizaria este projeto como referência para a recuperação de outros casarões antigos do Maciel, Pelourinho.

A reconstrução da casa foi iniciada em 1987 e por muitas vezes foi interrompida. Em 1990, as obras retornam, com o apoio da construtora Góes Cohabita e com os recursos oriundos da gravação de um videoclipe com o cantor Paul Simon. Isto confere ao Olodum uma visão diferenciada em como investe seus recursos, em relação a outras entidades afro-brasileiras.

Finalmente, em 25 de abril de 1991, ao completar o Olodum o seu 12º aniversário, a Casa do Olodum foi inaugurada com o desfile da Banda Mirim da Escola Criativa e um coquetel oferecido para a comunidade; a autoridade mais importante foi do então prefeito Fernando José, falecido em 1998. Em junho deste mesmo ano, recebeu a visita do cantor Paul Simon.

A Casa do Olodum, internamente, é em forma de pirâmide, uma parte da cobertura é de vidro, assim entra luz e boas energias. Há três pavimentos. No andar térreo funciona a boutique Planeta Olodum, no primeiro pavimento funciona recepção, produção e sanitários masculino e feminino e no segundo pavimento funciona o auditório Nelson Mandela, a sala da presidência, e o departamento de cultura.

O Auditório Nelson Mandela tem o formato de pirâmide, com capacidade para 150 pessoas sentadas. É cedido para a comunidade para realização de eventos, seminários, palestra, mostras de teatro e dança, encontros sociais e políticos sem custos.

Ainda há uma exposição permanente com mais de 90 quadros sobre a cultura negra mundial. São quadros sobre a cultura egípcia, a cultura rastafári, a cultura baiana e personalidades de origem africana. Também são exibidos discos de ouro, e um de platina, recebido pela venda de mais de um milhão de cópias do disco gravado com Paul Simon, além de muitos troféus recebidos em diversos países.

A Casa do Olodum desde a sua inauguração até os dias atuais contabiliza mais de 250.000 visitantes, entre estudantes, turistas nacionais e internacionais, militantes negros, autoridades políticas como presidentes do Brasil e de outros países, bem como ministros, diplomatas, embaixadores, governadores músicos brasileiros e do mundo inteiro, dirigentes de Instituições de Direitos Humanos, representantes de Organizações não Governamentais (ONGs), Prêmio Nobel da Paz e líderes mundiais da luta contra o racismo.

Por fim, para encerramos este artigo, recorremos as palavras do diretor-presidente, João Jorge : “A Casa do Olodum é um símbolo vivo da cidadania. Em sua faixada tremula hasteada a bandeira do Pan-africanismo, que com suas fortes cores, forma um conjunto harmônico da cultura do povo da diáspora africana.”


Via Bahia Já

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