segunda-feira, 4 de julho de 2016

Cabaça da Oralidade – Tombados ou Tombando ?!


Somos um povo ancestral guardados pela oralidade durante séculos . Entender isso é nos resguardar e nos perceber como povo mantenedor de vida e perpetuação de uma religião pautada não no dinheiro mais na devoção e na dedicação de rituais sagradose ampliação das políticas públicas de nossa comunidade localizada ao redor de nosso Terreiro.

Pensando assim e caminhando pelo Ilê de minha mãe Oxum , fiquei a me perguntar : “Onde estão as nossas bênçãos?!” . Sem estrutura primária de funcionamento , cada vez mais os ‘Terreiros Urbanos” vão se formando na contramão dos inúmeros ditos“Terreiros Tombados” que desde a fundação de uma Associação de Terreiros Tombados da Bahia entregue pelo Governo do Estado em 2014 mais parece ser parte de uma trama perversa em “ escravizar” o nosso povo com palavras soltas ao vento e fotos em jornais e redes sociais de benefícios que nunca alcançam as comunidades em volta daquele mesmo Terreiro .

Milhões e milhões repassados e publicados nos diários oficiais e em matérias dos jornais do estado da Bahia que nunca foi prestado conta a comunidade soteropolitana e ficamos nós, de Terreiros pequenos , assistindo grupos de debates nas redes sociais ou no wathsapp discutindo roupas,sapatos e quem falou ou não falou nos eventos feitos e bancados pelo próprio Governo do Estado que nada amplia o conhecimento do nosso povo .

A “cuia” continua a passar por anos e anos . Saneamento básico , água, luz, cestas básicas e agora , em períodos eleitorais , são passados até a lista de itens da feitura do filho(a) de santo ou do deká por e-mail ou celular para os pré candidatos em troca de votos ou mobilização da comunidade . 

O que fazer ?! O que pensar ?! Onde estamos errando ?!

O “feitor” agora é outro . Um grupo formado por babalorixá e yalorixá que viciados no repasse de verbas indiscriminado vêm se beneficiando de valores milionários e que de nada tem abençoado o seu Terreiro e a sua comunidade . Vários relatos , áudios e denúncias vem sendo feitas nas redes sociais e mensagens de celular contando verdades com base em documentações e nos envergonhando como povo de santo .

Os “açoites” agora são outros. Prestar contas de tempos em tempos do que é feito em benefício de um Terreiro também é fortalecer a nossa crença religiosa. Mostrar o que foi inaugurado , mostrar o que foi reformado , reunir a comunidade para que todos possam ficar cientes do que está sendo repassado para o seu Terreiro também fortalece a nossa religião . A base da nossa religião oral nos fortaleceu e abraçou também aqueles que também não sabem nem ler e nem escrever . Isso é Candomblé . Isso é perpetuar orixá no ori dos seus filhos.

Os “cantos” agora são outros. Palavras vazias em seminários sem um público independente que só faz aplaudir e dizer “axé” pra todos os desmandos e “vaidades” de quem nada tem a contribuir com o Candomblé, mais fazem questão de se auto intitular “ Representante do Candomblé da Bahia” no Governo Federal . Uma “cantiga de ejò” sem base fundamentada pois este mesmo grupo sem caráter nunca foi e nem nunca será digno em falar em meu nome e em nome de babalorixás e yalorixás que passam as noites dedicados aos fundamentos corretos de um orixá que acaba de nascer naquele ori . Quantos destes tais representantes do Candomblé na Bahia ocuparam cadeiras em importantes cargos públicos e nem ao menos completaram o 2º grau ?! Quantos destes tais “defensores” da religião receberam em seus Terreiros verbas exorbitantes e continuam a chorar na Tv uma intolerância religiosa pautada em uma competição mórbida pra se tornar sucessora de um Terreiro de Candomblé ?!

“Tombados e tombando” estamos nós meus irmãos de axé. Tombados pela nossa verdade ancestral e tombando (caindo) de vergonha por tamanha disputada ano após ano por mais dinheiro , milhões e bilhões em verbas que a comunidade candomblecista não tem conhecimento e nada é declarado publicamente . Um comércio ilegal de projetos que deixaram correr “rios de dinheiro” e não matou a sede de nenhum filho de santo do próprio Terreiro que foi solicitado . Instalações que mais parecem gaiolas sem saneamento básico onde são cobrados dos próprios filhos(as) de santo quantias financeiras que não é da obrigação deles já que estas mesmas necessidades foram incluídas nos projetos de reestruturação do Terreiro e enviados para o Governo Federal.

Nem tudo se resolve com ebós meus irmãos de axé. É hora de tomarmos pé da situação e não nos deixar levar por “feitores forjados” que se assumem “defensores” de nossa religião e acham que podem nos comprar com trocas de cestas básicas, bichos de quatro pé ou fotos públicas com falsas lágrimas nos períodos das Eleições Municipais e Estaduais. Quem fala em nome de nosso Terreiro somos nós. Quem fala em nome de nossa comunidade em volta do Terreiro somos nós . Quem escolhe os bichos e paga os tributos internos de nosso Terreiro somos nós ; abençoados pela luz do caminho de nosso orixá. Se seu Terreiro está a venda pare ser parte dessa farsa , cuidado. Promessas passam por suas mãos porém o que o orixá nos dá é perpetuado pela vida toda.


Por Yalorixá Diana de Oxum 

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