quinta-feira, 7 de julho de 2016

Uruguai tem primeira escola pública sustentável da América Latina

Escola foi pensada para que nenhum resíduo seja descartado ao seu redor. Ela foi construída graças a um financiamento e esforço de uma ONG.


Escola sustentável no Uruguai tem 39 estudantes (Foto: Pablo Porciuncula / AFP )

Dizem que as crianças são como esponjas na hora de absorver conhecimento, e em um mundo que luta contra as mudanças climáticas, aprender a cuidar do meio ambiente é fundamental. Essa é a proposta da primeira escola pública sustentável da América Latina, construída no Uruguai.

A temperatura exterior é de 7,5º C, em uma manhã de inverno em Jaureguiberry, a 85 quilômetros ao leste de Montevidéu. Dentro da escola 294, porém, ela chega chega a quase 20º C.

Não há aquecedor elétrico ou ar condicionado para combater o inverno e o verão. A escola não está conectada à rede elétrica nem a tubulações de água.

Apesar de se destacar pela sua arquitetura peculiar, a estrutura do local, pensada para que nenhum resíduo seja descartado no seu entorno, garante que ele deixará rastros invisíveis na terra.

"Estamos bem. Temos mais de 50% de bateria. Temos só energia solar", diz à AFP a diretora Alicia Alvarez, de 51 anos, enquanto mostra o sistema de condensadores que armazena energia para o edifício. "Vou apagar um pouco a luz para não gastar", acrescenta.

Os painéis solares podem ser vistos no teto do recinto, projetado pelo famoso arquiteto americano Michael Reynolds, conhecido como "o guerreiro do lixo" por causa de suas construções que retiram resíduos do meio ambiente, como rodas de carros, latas e garrafas, e os incorporam às suas obras.

A escola, que recebeu a aprovação das autoridades da educação, pôde ser construída graças também a um financiamento privado e ao esforço de uma ONG local, e abriu suas portas em março de 2016.
Uma horta cresce nos canteiros em frente a três salas de aula (Foto: Pablo Porciuncula / AFP)

Os 39 estudantes sabem que jogar lixo fora é errado, e aprenderam que com os resíduos orgânicos podem fazer compostagem, um fertilizante natural que utilizam na horta que cresce em um canteiro diante das três salas de aula.

Plantas de manjericão, tomates, morangos e acelgas, berinjelas ou brócolis, além de uma banana pouco adaptada ao frio do inverno, se desenvolvem graças à temperatura controlada e à irrigação permanente.

No teto, a água da chuva é coletada com canaletas que a leva até um sistema de filtração. De lá, vai para os banheiros e para a horta, e as sobras terminam em um charco onde tudo é decomposto, com impacto mínimo sobre o entorno.

Sem desperdício

"É uma escola cheia de vida", resume Paula, que tem sete anos e elabora com seus companheiros uma lista de coisas que devem ser feitas - e evitadas - para cuidar do planeta.

Esta manhã, na aula da professora Rita Montans, de 45 anos, as crianças trabalham com escrita espontânea e organização de conceitos. O tema é "como cuidar do meio ambiente"?

Os alunos propõem e anotam ideias nos seus cadernos: "cuidar das plantas"; "não jogar lixo fora"; "não jogar fora as garrafas"; "as plantas nos ajudam a respirar um ar mais puro".

"Se não houvesse árvores, não estaríamos mais aqui", diz contundente Sebastián, também de sete anos.

O objetivo, explica a professora, é criar uma espécie de código de conduta para cuidar do entorno, além de uma "cruz ambiental" ou "cruz verde" que os alunos poderiam administrar, assim como a "cruz vermelha" que ainda existe em algumas escolas do continente.

Os professores recebem uma capacitação especial para dar aulas na escola sustentável, tanto a nível de adaptação dos programas das disciplinas, quanto para um manejo mais autônomo do edifício.

Professores recebem uma capacitação especial para dar aulas na escola sustentável (Foto: Pablo Porciuncula / AFP)

Construída com materiais recicláveis

Construído a partir de pneus cheios de areia, latas e garrafas usadas e unido com cimento, além de grandes estruturas de madeira e troncos de eucalipto que sustentam um teto verde e o peso da terra utilizada como isolante, o imóvel é luminoso e tem espaços bem distribuídos, de modo que nada parece estar apertado.

Uma vez por semana, as crianças têm uma hora de aula de horta e colhem frutas e legumes que elas mesmas cultivam, e que são incorporados às saladas servidas no refeitório.

"Não há aprendizado melhor do que viver", diz a diretora Alvarez. "Independente de que as crianças possam aplicar ou não" o que aprenderam, "a semente está plantada", conclui confiante.


Via G1

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