segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Libação - Elisa Lucinda



É do nascedouro da vida a grandeza. 
É da sua natureza a fartura 
a ploriferação 
os cromossomiais encontros, 
os brotos os processos caules, 
os processos sementes 
os processos troncos, 
os processos flores, 
são suas mais finas dores

As conseqüências cachos, 
as conseqüências leite, 
as conseqüências folhas 
as conseqüências frutos, 
são suas cores mais belas

É da substância do átomo 
ser partível produtivo ativo e gerador 
Tudo é no seu âmago e início, 
patrício da riqueza, solstício da realeza

É da vocação da vida a beleza 
e a nós cabe não diminuí-la, não roê-la 
com nossos minúsculos gestos ratos 
nossos fatos apinhados de pequenezas, 
cabe a nós enchê-la, 
cheio que é o seu princípio

Todo vazio é grávido desse benevolente risco 
todo presente é guarnecido 
do estado potencial de futuro

Peço ao ano-novo 
aos deuses do calendário 
aos orixás das transformações: 
nos livrem do infértil da ninharia 
nos protejam da vaidade burra 
da vaidade "minha" desumana sozinha 
Nos livrem da ânsia voraz 
daquilo que ao nos aumentar 
nos amesquinha.

A vida não tem ensaio 
mas tem novas chances

Viva a burilação eterna, a possibilidade: 
o esmeril dos dissabores! 
Abaixo o estéril arrependimento 
a duração inútil dos rancores

Um brinde ao que está sempre nas nossas mãos: 
a vida inédita pela frente 
e a virgindade dos dias que virão!

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