terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Cruz e Sousa - Ao decênio de Castro Alves



AO DECÊNIO DE CASTRO ALVES

Quem sempre vence é o porvir! 
No espadanar das espumas 
Que vão à praia saltar! 
Nos ecos das tempestades 
Da bela aurora ao raiar, 
Um brado enorme, profundo, 
Que faz tremer todo o mundo 
Se deixa logo sentir! 
É como o brado solene, 
Ingente, Celso, perene, 
É como o brado: - Porvir! 

Pergunta a onda: - Quem é?.., 
Responde o brado: - Sou eu! 
Eu sou a Fama, que venho 
C'roar o vate, o Criseu! 
Dormi, meu Deus, por dez anos 
E da natura os arcanos 

Não posso todos saber! 
Mas como ouvisse louvores 
De glória, gritos, clamores, 
Também vim louros trazer. 

Fatalidade! - Desgraça! 
Fatalidade, meu Deus! 
Passou-se um gênio tão cedo, 
Sumiu-se um astro nos céus! 
As catadupas d'idéias, 
De pensamento epopéias 
Rolaram todas no chão! 
Saindo a alma pra glória 
Bradou pra pátria - vitória! 
Já sou de vultos irmãos! 

Foi Deus que disse: - Poeta, 
Vem decantar a meus pés. 
Na eternidade há mais luz, 
Dão mais valor ao que és. 
Se lá na terra tens louros, 
Receberás cá tesouros 
De muitas glórias até! 
Terás a lira adorada 
C'o divo plectro afinada 
De Dante, Tasso e Garret! 

Então na terra sentiu-se 
UM grande acorde final! 
O belo vate brasílio 
Pendeu a fronte imortal! 
O negro espaço rasgou-se 
E aquele gênio internou-se 
Na sempiterna mansão. 
A sua fronte brilhava 
E o áureo livro apertava 
Sereno e ledo na mão... 

E o mundo então sobre os eixos 
Ouviu-se logo rodar! 
É que ele mesmo estremece 
A ver um vulto tombar. 

É que na queda dos entes 
Que são na vida potentes, 
Que têm nas veias ardor, 
Há cataclismos medonhos 
Que só sentimos em sonhos 
Mas que nos causam terror!... 

E o coração s'estortega 
E s'entibia a razão! 
No peito o sangue enregela 
E logo a história diz: - Não! 
Não chore a pátria esse filho, 
Se procurou outro trilho 
Também mais glória me deu! 
E quando os séculos passarem 
Se hão de tristes curvarem 
Enquanto alegre só eu?... 

Oh! Basta! Basta! Silêncio! 
Repousa, vate, nos Céus! 
Que muito além dos espaços 
Os cantos subam dos teus! 
Se nesta vida d'enganos 
Não são bastante os humanos 
Pra te render ovações! 
Perdoa os fracos, ó gênio, 
Que pra cantar teu decênio 
Somente Elmano ou Camões!

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