terça-feira, 30 de maio de 2017

Pressão para Trump permanecer no Acordo de Paris incluiria algumas concessões em metas


Não faz tanto tempo assim. Há dois anos, no mês de junho de 2015, reunidos num castelo da Baviera, ao Sul da Alemanha, o G-7, grupo dos sete países mais poderosos do mundo - Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, Itália, Canadá, Japão e França –, se comprometeu, numa declaração conjunta mundialmente ouvida, a não usar mais combustível fóssil até o fim do século. O anúncio foi maior do que o entusiasmo dos ambientalistas, que o receberam com um justificável temor de que era bom demais para ser verdade. E ainda não imaginavam o que viria.

No encontro deste ano, o mesmo grupo, desta vez reunido em Taormina, belíssima cidade nas montanhas da Sicília, se declarou incapaz de convencer Donald Trump, atual representante dos Estados Unidos, pelo menos a permanecer no Acordo Climático conseguido em Paris no fim de 2015. Confrontado com reiteradas súplicas dos aliados durante reuniões privadas, Mr. Trump se manteve inflexível em sua afirmação de que os Estados Unidos farão sempre o que ele achar melhor para os Estados Unidos. Incluindo, aí, a possibilidade de retirar o país do Pacto histórico assinado em 2015 com 195 nações. Foi isso o que os assessores de Trump contaram aos jornais.

Diante do fato, o que pensar? Que não se pode mais confiar, disse a chanceler alemã Angela Merkel quando terminou a reunião, que aconteceu durante a sexta-feira e sábado (26 e 27).

“Os dias em que a Europa sabia que os países podiam contar uns com os outros terminaram.Comprovei isso nos últimos dias. E é por isso que só posso dizer que nós, europeus, temos de agarrar as rédeas do nosso próprio destino – mantendo, claro, a nossa amizade com os Estados Unidos, com o Reino Unido e na medida do que for possível com os outros países, mesmo com a Rússia. Mas temos que saber que temos que ser nós a lutar pelo nosso futuro e pelo nosso futuro como europeus."

Se uma das mulheres mais poderosas do planeta se acha incapaz de confiar, imaginem nós, os cidadãos comuns. No centro dos debates sobre continuar ou não o Acordo histórico está, é claro, o desenvolvimentismo, espécie de doença que nos aflige nos dias atuais. Trump deixa claro, para quem interessar possa, que se tiver que escolher entre bem-estar econômico de seu país e continuar no Acordo de Paris, o crescimento da economia vai ganhar, a despeito de todos os revezes (seca, tormentas, furacões) que, como sabemos, a produção excessiva já está trazendo para a humanidade.

No entanto, ao que parece, para manter os Estados Unidos no Acordo de Paris, algumasconcessões já estão sendo pensadas por personagens do mundo da política norte-americana.Seria permitido, por exemplo, rever (para baixo) as metas de redução de emissões feitas pelo ex-presidente Obama.

Num pronunciamento considerado ousado até mesmo pelos ambientalistas, em agosto de 2015, portanto quatro meses antes da COP-21, onde foi assinado o Acordo, Obama anunciou o Plano de Energia Limpa, prevendo redução de 32% das emissões das usinas até 2030, na comparação com o que era emitido em 2005. Elaborado pela Agência de Proteção Ambiental (EPA), o Plano foi até mais ambicioso do que a versão original, de 2014, que previa reduzir 30%.

Como é fácil imaginar, as empresas de energia não gostaram. No Senado, o republicano Mitch McConnel disse que ia fazer tudo para barrar o programa. E o próprio Obama se adiantou às críticas que sabia que iria receber, tentando ganhar a opinião pública ao afirmar que os norte-americanos teriam muito a ganhar. Novos empregos em renováveis e, no final, até mesmo uma redução de US$ 85 por ano em suas contas de energia até 2030.

Mas antes mesmo de ser eleito, Donald Trump já anunciava que não ia manter o Plano de Energia Limpa idealizado por Obama. E em março deste ano, já empossado, ele impulsionou a produção de petróleo, gás natural e carvão no país, além de revogar ordens de Obama que formulavam a base para o Plano. Com isso, os entraves para a indústria petrolífera vão sendo anulados pouco a pouco, alcançando também a energia nuclear.

Valeria a pena reduzir as ambições do Acordo em nome da manutenção do todo-poderoso? Pode ser que sim. O medo maior é que, uma vez saindo Trump, outros países menores resolvam trilhar a mesma estrada, o que realmente seria um início de fracasso. Por isso, os líderes em Taormina decidiram fazer alguma pressão, mas com cuidados, sem exagero.

Segundo reportagem do “The New York Times” houve uma extensa reunião na noite de sexta-feira, quando o assunto veio à tona. Trump teria ouvido os apelos de seus colegas, mas teria também reafirmado seu compromisso de manter empregos, deixando ainda no ar a possibilidade de decidir sobre o Acordo de Paris. Ninguémse alongou muito, temendo um ataque de fúria de Trump, o que poderia fazer com que ele saísse dali imediatamente para as redes sociais anunciando o fim da participação dos Estados Unidos no Acordo de Paris. Lidar com pessoas temperamentais é assim mesmo: qualquer nó mais atado pode fazer a coisa desandar.

Entende-se assim, por exemplo, o comunicado otimista da Diretora Executiva do Greenpeace Internacional, Jennifer Morgan, momentos depois de terminado o encontro do G-7:

"Europa, Canadá e Japão fizeram uma posição hoje, revelando novamente o quão longe Trump está em desacordo com o resto do mundo sobre a mudança climática. O resultado do G7 confirma que a transformação da energia limpa não tem volta e é apoiada não só pelos governos, mas pela sociedade em geral... O presidente Trump deve agora voltar a Washington e tomar a decisão certa, levar a sério as mudanças climáticas e agir com o resto do mundo ".

Mas há, ainda segundo a reportagem do jornal norte-americano, uma forte pressão por parte dos trabalhadores da indústria de combustíveis fósseis, que estão acreditando que seus empregos estarão garantidos com o cumprimento das promessas de Trump.

Prevendo um final infeliz para este imbróglio, Xi Jinping, o presidente da China, país maior poluidor de gases de efeito estufa do mundo,já está buscando outra parceria de peso. Em telefonema ao presidente francês Emmanuel Macron, no início deste mês, disse que China e França deveriam "proteger as conquistas da governança global, incluindo o Acordo de Paris".

É bom lembrar que faz parte do Acordo não só baixar as emissões como colaborar financeiramente para o Fundo Verde da ONU, considerado “a maior instituição financeira multilateral do mundo consagrada à luta contra o aquecimento global". É um dinheiro que será usado para ajuda aos países pobres, em áreas de risco, que sofrem mais do que outros os impactos das mudanças climáticas. Antes de deixar a presidência dos Estados Unidos, Obama fez uma doação de US$ 500 milhões para o Fundo.

Se Trump não quer manter nem promessa, imagine se ele vai meter a mão no bolso para algo em que não acredita...

Foto: Presidente Donald Trump ao lado de outros líderes do G7 em Taormina, na Sicília REUTERS/Alessandro Bianchi


Via Portal Exame

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